Entenda a eficiência dos testes de covid-19 e como estão sendo usados no País
Em muitos países, incluindo o Brasil, há dificuldades para comprar testes de coronavírus e diagnosticar pessoas com a doença. Mesmo havendo mais de um tipo de teste disponível, o País ainda está defasado no que diz respeito ao número de testes e à detecção de pacientes que estão ou já estiveram com a covid-19.
“Por enquanto não existe no mundo um teste diagnóstico ideal para o coronavírus”, afirma Fábio Ghilardi, infectologista do Hospital das Clínicas. Conheça os dois tipos de teste que estão sendo usados pelos profissionais da saúde para identificar pacientes que estão com o vírus:
RT-PCR ou teste molecular
É capaz de detectar a doença no seu início, na fase aguda, quando os sintomas já começam a se manifestar. Identifica fragmento de material genético que possa ter sido deixado pelo vírus nos pacientes com quadro da doença ativo – usado em larga escala na Coreia do Sul, país considerado exemplar no combate ao covid-19. O teste é realizado colocando um cotonete na boca ou nariz da pessoa testada. Leva cerca de 4 horas para o resultado sair após a amostra ser examinada em laboratório.
Teste rápido (sorológico) para coronavírus
É o mais usado no Brasil, principalmente para profissionais da saúde e de serviços essenciais, e se mostra útil para averiguar se a pessoa já teve a doença – uma vez que identifica os anticorpos produzidos contra a covid-19 pelo testado. Segundo o Ministério da Saúde, não é muito preciso, a eficácia do diagnóstico é de apenas 25%, já que o paciente pode ter contraído a doença e ainda não ter desenvolvido anticorpos. No entanto, a rápida obtenção dos resultados (de 10 a 30 minutos após a retirada da amostra de sangue da pessoa) é vista com bons olhos nesse momento em que não há teste ideal.
Fábio diz que o que diferencia os testes é a técnica, pois são procuradas coisas diferentes neles. “Eles são usado para ter o diagnóstico da doença ou para saber se o testado já foi exposto ao vírus”. Segundo ele, “é interessante saber quantas pessoas, na cidade ou no país, já tiveram a doença para, mais tarde, criar políticas de vacinação”.
Mas Ghilardi alerta: os rápidos ou sorológicos, muito usados no Brasil, que recebeu 500 mil doações de testes da mineradora Vale, podem nos levar ao mesmo erro do Zika Vírus. A eficácia dos testes no momento do surto, entre 2015 e 2016, surtiu mais dúvidas do que respostas. À época, o Ministério da Saúde investiu uma alta quantia em testes rápidos para o Zika que, tempos depois, foram considerados inutilizáveis. Isso porque os testes para o novo coronavírus apresentam, em média, 75% de chance de erro nos resultados negativos. “Vemos a situação do Zika se repetir. A gente vê muita infecção suspeita e pouco sintomática não identificada. Há uma dificuldade de conseguir testes de qualidade, principalmente porque são caros”, afirma.
O infectologista aponta desvantagens também em testes moleculares pelo grau de complexidade — mesmo sendo mais caros e sofisticados. “Com mais de três dias de sintomas a gente colhe o teste, já que nesse momento há uma carga viral alta, e mesmo os pacientes com quadros clínicos muito sugestivos apresentam testes negativos”, o que contraria os profissionais da saúde. Segundo Fábio, Espanha e Itália tiveram as mesmas experiências com esse teste. “Ele depende muito de qual tipo de antígeno ou fragmento de DNA foi usado para ser amplificado, qual foi o laboratório, como ele é feito. Há uma série de fatores para analisar. Tem que saber fazer”, afirma.
No Brasil, apenas os casos graves estão sendo testados, o que pode levar a um alto índice de subnotificação de pacientes com covid-19, bem como a um elevado grau de letalidade da doença. Os grandes obstáculos, além dos poucos testes, são os casos assintomáticos, o que é descrito como “peculiar” por Ghilardi. “É diferente da SARS de 2003. Quando a pessoa manifestava o sintoma, ela transmitia e, quando não manifestava, não transmitia. Agora é o oposto, muita gente pode transmitir sem ter sintoma. E assintomáticos não são testados”, aponta.
O Brasil está atrasado no combate ao coronavírus uma vez que se naturalizou tratar a doença apenas com base em sintomas clínicos. “A abordagem sindrômica é bem eficaz na população, mas nos leva a perder muitos diagnósticos de vírus. E às vezes de vírus novos”, afirma o infectologista. “O fato de o Brasil ter um sistema de saúde deficitário que não permite que se faça diagnóstico etiológico — no qual se investiga a origem das causas e sintomas — fez com que caíssemos num sistema de tratar sintomas e avaliar gravidade, sem mais aprofundamentos”, finaliza.