Coronavírus no Brasil: a defasagem do combate à doença e os diferentes tipos de teste - Revista Esquinas

Coronavírus no Brasil: a defasagem do combate à doença e os diferentes tipos de teste

Por Luccas Lucena : abril 11, 2020

Foto: Fusion Medical Animation

Entenda a eficiência dos testes de covid-19 e como estão sendo usados no País

Em muitos países, incluindo o Brasil, há dificuldades para comprar testes de coronavírus e diagnosticar pessoas com a doença. Mesmo havendo mais de um tipo de teste disponível, o País ainda está defasado no que diz respeito ao número de testes e à detecção de pacientes que estão ou já estiveram com a covid-19

“Por enquanto não existe no mundo um teste diagnóstico ideal para o coronavírus”, afirma Fábio Ghilardi, infectologista do Hospital das Clínicas. Conheça os dois tipos de teste que estão sendo usados pelos profissionais da saúde para identificar pacientes que estão com o vírus:

RT-PCR ou teste molecular

É capaz de detectar a doença no seu início, na fase aguda, quando os sintomas já começam a se manifestar. Identifica fragmento de material genético que possa ter sido deixado pelo vírus nos pacientes com quadro da doença ativo usado em larga escala na Coreia do Sul, país considerado exemplar no combate ao covid-19. O teste é realizado colocando um cotonete na boca ou nariz da pessoa testada. Leva cerca de 4 horas para o resultado sair após a amostra ser examinada em laboratório.

Teste rápido (sorológico) para coronavírus

É o mais usado no Brasil, principalmente para profissionais da saúde e de serviços essenciais, e se mostra útil para averiguar se a pessoa já teve a doença – uma vez que identifica os anticorpos produzidos contra a covid-19 pelo testado. Segundo o Ministério da Saúde, não é muito preciso, a eficácia do diagnóstico é de apenas 25%, já que o paciente pode ter contraído a doença e ainda não ter desenvolvido anticorpos. No entanto, a rápida obtenção dos resultados (de 10 a 30 minutos após a retirada da amostra de sangue da pessoa) é vista com bons olhos nesse momento em que não há teste ideal. 

Fábio diz que o que diferencia os testes é a técnica, pois são procuradas coisas diferentes neles. “Eles são usado para ter o diagnóstico da doença ou para saber se o testado já foi exposto ao vírus”. Segundo ele, “é interessante saber quantas pessoas, na cidade ou no país, já tiveram a doença para, mais tarde, criar políticas de vacinação”.

Mas Ghilardi alerta: os rápidos ou sorológicos, muito usados no Brasil, que recebeu 500 mil doações de testes da mineradora Vale, podem nos levar ao mesmo erro do Zika Vírus. A eficácia dos testes no momento do surto, entre 2015 e 2016, surtiu mais dúvidas do que respostas. À época, o Ministério da Saúde investiu uma alta quantia em testes rápidos para o Zika que, tempos depois, foram considerados inutilizáveis. Isso porque os testes para o novo coronavírus apresentam, em média, 75% de chance de erro nos resultados negativos. “Vemos a situação do Zika se repetir. A gente vê muita infecção suspeita e pouco sintomática não identificada. Há uma dificuldade de conseguir testes de qualidade, principalmente porque são caros”, afirma. 

O infectologista aponta desvantagens também em testes moleculares pelo grau de complexidade — mesmo sendo mais caros e sofisticados. “Com mais de três dias de sintomas a gente colhe o teste, já que nesse momento há uma carga viral alta, e mesmo os pacientes com  quadros clínicos muito sugestivos apresentam testes negativos”, o que contraria os profissionais da saúde. Segundo Fábio, Espanha e Itália tiveram as mesmas experiências com esse teste. “Ele depende muito de qual tipo de antígeno ou fragmento de DNA foi usado para ser amplificado, qual foi o laboratório, como ele é feito. Há uma série de fatores para analisar. Tem que saber fazer”, afirma.

No Brasil, apenas os casos graves estão sendo testados, o que pode levar a um alto índice de subnotificação de pacientes com covid-19, bem como a um elevado grau de letalidade da doença. Os grandes obstáculos, além dos poucos testes, são os casos assintomáticos, o que é descrito como “peculiar” por Ghilardi. “É diferente da SARS de 2003. Quando a pessoa manifestava o sintoma, ela transmitia e, quando não manifestava, não transmitia. Agora é o oposto, muita gente pode transmitir sem ter sintoma. E assintomáticos não são testados”, aponta. 

O Brasil está atrasado no combate ao coronavírus uma vez que se naturalizou tratar a doença apenas com base em sintomas clínicos. “A abordagem sindrômica é bem eficaz na população, mas nos leva a perder muitos diagnósticos de vírus. E às vezes de vírus novos”, afirma o infectologista. “O fato de o Brasil ter um sistema de saúde deficitário que não permite que se faça diagnóstico etiológico — no qual se investiga a origem das causas e sintomas — fez com que caíssemos num sistema de tratar sintomas e avaliar gravidade, sem mais aprofundamentos”, finaliza.