O cenário psicológico da quarentena, de acordo com terapeuta, é de bastante negatividade – e não se resolverá com o fim da pandemia
Nas palavras da psicóloga clínica Lucimara Pizzotti, especializada em terapia cognitivo-comportamental, a incerteza, tanto econômica quanto na saúde, é um gatilho permanente para ansiedade, angústia e desânimo. Vale ressaltar, ainda, que o convívio forçado e estendido torna-se desafiador e desgastante.
“O que acontece com o cérebro?” questiona Lucimara para esclarecer: “o isolamento está intimamente ligado à solidão. É essencial enxergarmos este período que estamos vivendo como extremamente estressante pelos desafios, lidar com o estresse prejudicial, como incertezas, medos e preocupações. A crise vai passar, porém, como? Quando? Pesando tudo isso, quem está ou se sente sozinho nesse período começa a se autoflagelar e não enxerga nada de bom nessa fase.”
Ansiedade no isolamento
Segundo a psicóloga, a quarentena registrou aumento significativo dos casos de ansiedade e depressão. O desafio de lidar com o estresse ligado a fatores dos quais não estávamos acostumados leva as pessoas a desenvolverem depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Esses fatores incluem o medo da infecção, da superlotação nos hospitais, de perder entes queridos ou de se tornar incapaz de se sustentar — já que o isolamento resultou em perdas de ordem econômica –, além do próprio isolamento. Curiosamente, esses transtornos tenderão a piorar com o tempo e com a volta à vida normal. “Existe um estranhamento seguido de medo quando tem de retomar a vida” conclui.
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Um número grande de profissionais de saúde também tem sido afetado. Além de estarem lidando com uma doença desconhecida, a superlotação dos hospitais e o grande número de mortes apresentam um risco muito potente à vida de inúmeros médicos. Em Wuhan, na China, uma pesquisa aponta que cerca de 20% dos profissionais da saúde desenvolveu TEPT, Transtorno de Estresse Pós-Traumático, distúrbio de ansiedade popularmente associado aos veteranos de guerra do Vietnã.
Para a própria Lucimara, a vida mudou. Ela atende seus pacientes por chamadas de vídeo enquanto divide a casa com os filhos. Ela alega ter condições de privilégio – incluindo todos os instrumentos necessários para realizar seu trabalho e não sofrer de nenhuma desordem psíquica, tais como a ansiedade, a depressão e a bipolaridade. Conclui que, após o isolamento, a saúde de mental de quem está vulnerável estará em evidência. “O foco que é do covid-19 agora passará a ser de ansiedade, depressão, pânico, etc” diz. “Afinal, teremos um boom de pessoas precisando de ajuda.”