A relação indireta entre a covid-19 e as enchentes pode culminar em um alto risco para a saúde das pessoas
Durante a pandemia, os governos estaduais estão tomando medidas, com motivações diversas, para evitar o avanço do novo coronavírus. Em Manaus, o alto índice pluviométrico foi uma das condições que levou o governador Wilson Lima, do PSC, a prorrogar o estado de calamidade pública por mais 180 dias no estado. A medida tomada no dia 15 de abril levou em consideração que a grande quantidade de chuvas contribuiu para o aumento da circulação de vírus que causam problemas respiratórios.
De acordo com a farmacêutica Elisa Brisighello, formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma vez que as pessoas ficam ilhadas por conta das enchentes, tendem a dividir o mesmo espaço para se protegerem e são afetadas pela carência de serviços básicos, como alimentação e saneamento. “A junção desses fatores leva a uma situação precária de vida e tornam as pessoas mais suscetíveis a pegar doenças. Já que sem uma boa nutrição e higiene, o sistema imunológico fica mais fraco e imunodeprimido. Dessa forma, as chances de uma possível infecção pela covid-19 e por outras doenças respiratórias aumentam”, explica.
Mesmo após as épocas mais chuvosas do ano, dezembro a março, os estragos causados pelas enchentes ainda estão presentes. Só em Salvador, por exemplo, houve 589 deslizamentos de terra e 59 avaliações de imóveis alagados na última semana de abril.
Em meio a esse cenário, o sistema de saúde brasileiro beira o colapso por não suportar a quantidade de enfermos. Segundo o médico infectologista Murilo Santarsiere Etchebehere, formado pela Universidade São Francisco, essa falta de atendimento é um agravante para toda a sociedade. “Os serviços essenciais têm sempre que funcionar plenamente. A ausência de qualquer um deles sempre gera grandes danos para o indivíduo e a população”, comenta.
A biomédica Laís Oliveira Barbosa, formada pela Uniararas e pós-graduada pela Unicamp, afirma que essa superlotação é grave, afinal não só os contaminados pelo coronavírus precisam de atendimento. “O país não tem estrutura para dar suporte a esses pacientes, quer seja aqueles que tenham a covid-19 ou alguma doença respiratória. Não podemos esquecer também que, junto com essas situações, as pessoas ficam doentes por outras patologias, agravando ainda mais o processo de contenção do problema”, destaca.
Como solução para este problema, Santarsiere ressalta o valor de disseminar informações corretas. “Uma população educada, que tem a prevenção acima de tudo, que sabe quais são os sinais e sintomas de uma doença, e sabe quando e como procurar assistência profissional, com toda certeza iria causar uma queda vertiginosa no número de doentes e internações hospitalares, tanto se tratando da covid-19 quanto de outras doenças”, afirma.
As enchentes apesar de serem fenômenos naturais, ao longo dos últimos anos, foram intensificadas pelas práticas antrópicas como o descarte inapropriado do lixo e aumento da poluição. A junção dessas ações potencializa a ocorrência de inundações, sendo que estas são meios diretos de propagação de doenças como a leptospirose e as hepatites A e B, além de ocasionar outros problemas.