Feche os olhos e respire fundo - Revista Esquinas

Feche os olhos e respire fundo

Por Julia Gomes, Sofia Demarchi, Thiago Bio e Victória Boito : agosto 16, 2018

Forma alternativa de cura, Reiki trabalha com os pontos energéticos do corpo

Nosso primeiro contato com o Reiki seria no Ipiranga, Zona Sul de São Paulo. Caminhamos pela rua escura, mal iluminada pelos postes de luz, até a casa 716 da Rua Lino Coutinho. Uma jovem moça nos recepcionou no portão e falou para tirarmos nossos sapatos, para deixar todas as impurezas do lado de fora ali na entrada.

Enquanto esperávamos ser chamados, assistimos a tudo atentos. Sete pessoas faziam uma roda, dando as mãos, na garagem da casa. Um homem, com roupas claras e uma trança que ia até sua cintura, caminhava ao redor daqueles indivíduos.

Reiki é um tratamento alternativo que está se tornando cada vez mais popular e trabalha com energias e o relaxamento físico e mental do indivíduo. A palavra tem origem japonesa e vem da junção entre “Rei” (Universo) e “Ki” (energia). Por meio de movimentos com as mãos, os reikianos deixam a pessoa disponível para o canal da energia Vital Universo. Segundo seus praticantes, é um processo de cura que envolve o corpo, a mente, as emoções e o espírito. Sem se associar a alguma religião, o Reiki traz diferentes benefícios, entre eles a harmonização dos chacras, redução do estresse, tratamento de doenças e fortalecimento do ser.

Os chacras, significam “roda” em sânscrito e são centros de energia no corpo humano ou animal e que distribuem essa energia para os órgãos e sistemas. Se organizam em forma de círculo e cada um desempenha um papel diferente no corpo. É a vibração dele que diz se a pessoa está bem com aquela parte do corpo e com cada setor da sua vida. Dividem-se por todo o corpo humano, os sete principais são:

Coronário: o Sahashara (lótus das mil pétalas, em sânscrito) é responsável por energizar o cérebro. Por meio dele se conecta ao plano espiritual, se expressa a fé e evolui espiritualmente.

Frontal: conhecido como Ajna (centro de controle, em sânscrito), vincula-se à hipófise, glândula cerebral, e é considerado o terceiro olho. É dele que saem todos os comandos para o restante dos chacras.

Laríngeo: vinculado à tireoide, o Vishudda (purificador do sangue, em tradução do sânscrito) é o que faz com que se expresse as ideias, se comunique e verbalize projetos.

Cardíaco: a câmara secreta do coração (Anahata, no original em sânscrito) nada mais é do que o chacra responsável pela transmissão dos sentimentos, pela compaixão, pelo altruísmo e, fisicamente, pelo sistema imunológico.

Plexo solar: relacionado à personalidade, representa a vontade e o poder. Também chamado de Manipura, cidade das jóias na tradução do sânscrito.

Umbilical: o Swadhisthana (ou cidade do prazer, em sânscrito) liga-se às gônadas, onde se produzem as células sexuais, e é o chacra da procriação, da gravidez e da troca sexual. Cuida também do controle urinário no sistema renal.

Básico: por fim, esse chacra é conhecido por Muladhara e em sânscrito significa suporte. Responsabiliza-se pela absorção da energia do planeta Terra. Por isso, liga-se à capacidade de lidar com os rumos da vida e a realização de ideias.

Chacras, como visto, são os responsáveis pelos setores da vida. Quando não se está bem física ou mentalmente, é comum que algum chacra esteja desequilibrado ou até mesmo fechado, dificultando a entrada de energia no corpo. Eles facilitam o encontro entre o bem-estar físico, mental e espiritual. São os pensamentos e sentimentos negativos que interrompem o fluxo energético.

Nos animais, os chacras têm as mesmas funções dos do homem, se localizando em lugares semelhantes no corpo. O tratamento das energias de cães e gatos também vem se tornando uma tendência nos últimos tempos como uma alternativa às técnicas veterinárias atuais.

Há poucos estudos nesse campo de pesquisa espiritual. O mais comum é atender os cães e gatos e, em alguns casos, cavalos, vacas e porcos. Os animais dos outros reinos – peixes, anfíbios, répteis e aves – são pouco atendidos e tem-se pouco conhecimento do efeito do Reiki neles.

Em imersão

Enquanto esperávamos ser chamados, assistimos a tudo atentos. Sete pessoas faziam uma roda, dando as mãos, na garagem da casa. Um homem, com roupas claras e uma trança que ia até sua cintura, caminhava ao redor daqueles indivíduos. Com a ajuda de um cachimbo com uma cobra entalhada enrolada nele, ele assoprava fumaças de um incenso de ervas como alecrim e guiné na cabeça das pessoas, no peito e nas mãos atadas. Depois, pegou um borrifador comum, daqueles que podemos encontrar nos supermercados, e espirrava um líquido de sálvia americana um a um. No fim, ele segurou um chocalho e começou a girá-lo gradativamente mais rápido em cima da cabeça das pessoas

Quando chegou nossa vez, todo esse processo se repetiu. As mãos entrelaçadas, os sopros de incenso, os borrifos e o chocalho. Fomos então guiados e sentamos em uma sala escura, com incensos acesos e uma música suave, como um mantra, ao fundo. Ali havia uma pessoa responsável por guiar as pessoas do recinto para a imersão total do tratamento. Juntos a cerca de vinte pessoas, escutamos o que o homem tinha a dizer: ele nos explicava o que estávamos fazendo naquele lugar, pedia para fecharmos nossos olhos e refletir sobre o que precisávamos naquele momento da vida e repetia “a harmonia está em meu coração”, algo como a oração daquela semana.

Permanecemos de olhos cerrados. O tratamento do Reiki vem após um longo período de imersão. O mais comum, apesar de poder ser feita por conta própria, é que algumas pessoas, vestidas de branco, ajudem na aplicação. Elas entraram no cômodo escuro e faziam a manutenção das energias do nosso corpo, tentando alinhá-las e deixá-las em harmonia espiritualmente. É possível sentir o calor que emana das mãos dos aplicadores ao se conectarem com a nossa energia vital. Nesse momento, já é possível vivenciar o relaxamento físico e mental proposto por essa técnica medicinal alternativa. Ao mesmo tempo, o homem que havia nos recebido na garagem da casa com os sopros e borrifos circulava pela sala e batia num tambor de forma ritmada, ora devagar, ora rápido.

Ao final do tratamento, as pessoas saíam uma a uma de volta para a garagem, podendo conversar com o aplicador do Reiki de branco para entender o que estava acontecendo com seus chacras. Ele diz o que sentiu durante a aplicação, mostrando as áreas que necessitam de mais atenção, e recomenda o que fazer para harmonizar suas energias. Uma das “receitas médicas” que nos deu foi acender uma vela branca e tomar banho com rosa branca por três dias seguidos.

O tratamento do Reiki está intimamente ligado à natureza e à manutenção energética do corpo. As prescrições dadas sempre envolvem flores e luz, já que é um recurso terapêutico que mexe com as energias. Cada vez mais famoso e utilizado, o Reiki é mais uma forma que visa o bem-estar mental e físico da medicina moderna.