Jovens encontram dificuldades para fazer terapia durante a quarentena - Revista Esquinas

Jovens encontram dificuldades para fazer terapia durante a quarentena

Por Laura Vicaria : maio 7, 2020

Edward Jenner via Pexels

Com o alastramento da covid-19 e a necessidade do isolamento social, muitos psicólogos transferiram seus atendimentos para o ambiente online.

“O ir a terapia, sair de casa, caminhar, ir até o consultório. Isso já é muito terapêutico para vários pacientes”, explica a psicanalista Thereza Cristina Goulart. A psicóloga de 55 anos também comenta que há uma perda na consulta online. “Quando você está no atendimento presencial, você tem outro olhar”, reforça.

A vestibulanda Caroline Carvalho, 18 anos, apesar da quarentena continua mantendo os atendimentos e reafirma as dificuldades apontadas pela psicóloga. “As principais diferenças pra mim são de que, inconscientemente, acabo me perdendo muito mais na sessão online do que ao vivo, e também não preciso mais quebrar a rotina, saindo da zona de conforto para ir até a psicóloga”, diz.

De fato, as pessoas não necessitam mais se locomover como antes para dar início às suas obrigações diárias. E o estudante de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, Gabriel Cruz Lima, 22 anos, conta como essa falta de mobilidade impactou seu tratamento.  “Acredito que tem uma espécie de ritual toda vez que vou a terapia. De me deitar, tirar os sapatos, deitar no divã. Essas coisas não ocorrem porque eu estou em casa”, conta.

A especialista também explica que, além dos problemas com a rede de internet, realizar os atendimentos em casa existem outros fatores que dificultam o tratamento. “O paciente está sendo atendido e a família toda está em próxima. Existem alguns assuntos que o próprio paciente não quer abordar”, observa.

Por conta de a terapia ser online, não há uma leitura da linguagem corporal de quem está sendo atendido, dificultando assim o trabalho do profissional. Você vê a forma que o paciente está chegando, qual é a sua postura. Existe uma outra condição de olhar e interagir com esse paciente. Quando você vai atender on-line, ele já está em um determinado local”, explica a psicóloga.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu dados em 2019 mostrando que o Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas. Durante a quarentena, a saúde mental do brasileiro pode ser ainda mais prejudicada. “Não está fácil, principalmente para quem é ansioso”, comenta Goulart. “A pessoa que já tem uma ansiedade mais aguçada não tem para onde escapar”, complementa.

Caroline, além de ter as preocupações do vestibular, também é diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). “A terapia vem sendo a minha principal ajuda ao passar por uma situação que ninguém imaginaria ter de passar”, afirma.

Ela também entende que há uma diferença na conversa com o profissional. “É bom ter uma pessoa fora do ciclo familiar e de amigos para conversar, ainda mais por ser uma pessoa que também está vivendo a situação. A diferença é que o profissional consegue ver de uma maneira que não instaure ainda mais o caos e sim, ajude a acalmar e direcionar”, explica.

No mesmo tom, Gabriel reforça esse ponto de vista. “(As terapias online) são um espaço garantido para falar sobre as angústias devido a não poder sair de casa, ou até mesmo angústias que são anteriores a isso”, diz.

Mesmo com todas as implicações ocasionadas pelo isolamento, a psicóloga reforça que a terapia online deve ser mantida. “É melhor que se tenha esse atendimento, especificamente no caso dessa quarentena e da situação extremamente insegura que estamos vivendo. Acho que (a terapia online) é uma ótima ferramenta” esclarece.

Sobre um efeito pós-traumático gerado pela quarentena, a psicóloga argumenta que há uma possibilidade. Contudo, os problemas mentais pré-existentes são os mais prováveis de aparecer. “Já existe um conteúdo interno para que isso aconteça”, confirma. Em vista disso, ela destaca que esse é mais um motivo do porquê manter o tratamento é importante.

Em 2018 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) autorizou o atendimento através de celulares e computadores. Para realizar esse procedimento é necessário se registrar no site “Cadastro e-PSI”, onde os profissionais informam as ferramentas que serão utilizadas para realizar as consultas.

Durante os meses de março e abril, o CFP permitiu que os psicólogos ainda não cadastrados iniciem as sessões de psicoterapia on-line, sem precisar da confirmação da plataforma.

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