Saúde mental na pandemia: “Muitas vezes temos medo das emoções, mas devemos aceitá-las”, diz psicóloga Karen Vogel - Revista Esquinas

Saúde mental na pandemia: “Muitas vezes temos medo das emoções, mas devemos aceitá-las”, diz psicóloga Karen Vogel

Por Ana Ferrari : junho 5, 2020

Na primeira live de ESQUINAS da série “Saúde mental em tempos difíceis: conversas com universitários”, a especialista abordou aceitação, autocompaixão e autocuidado

Como lidar com o sofrimento durante a quarentena? Como não se culpar por ser privilegiado e ainda ter maus sentimentos e preocupações? Como enfrentar a ansiedade de não saber quando tudo isso vai acabar e o que nos espera no futuro pós-pandemia? Essas foram algumas das questões discutidas durante a live inaugural de ESQUINAS da série “Saúde mental em tempos difíceis: conversas com universitários”.

Nesse primeiro evento, o editor-chefe da Revista, Rodrigo Ratier, recebeu a psicóloga, psicoterapeuta, professora e escritora Karen Vogel para conversar sobre três tópicos complementares: “Aceitação, autocompaixão e autocuidado”. Durante esse período, ela tem feito atendimentos online individuais e em grupo, além de lives aos domingos contendo meditações de autocompaixão, autoaceitação e autocuidado.

Para começar, Karen explicou que quando esses temas são debatidos, estarão sendo abordadas as emoções, as angústias e as dores específicas de cada indivíduo. E, nesse momento, é preciso considerar que estamos vivendo diferentes tipos de sofrimento, sendo “todos eles legítimos”. “Alguns sofrem por não ter o que comer, alguns sofrem por não saber como lidar com os filhos em casa, outros têm que lidar com o sofrimento de perder o emprego. São sofrimentos de amplitudes diferentes, mas devemos olhar sem julgamento. O meu sofrimento não é maior que o seu e nem menor que o do outro”, afirma a psicóloga.

Segundo ela, para que essa legitimação seja feita de maneira pessoal, é necessário que o indivíduo reconheça seu sofrer e o porquê de ele existir. A aceitação é muito importante no processo de lidar com a sensação de culpa. “Aceitação é a constatar a sensação de culpa e entrar em contato com ela, ao invés de fazer coisas que tirem o foco dela”, explica.

Esse conceito estaria diretamente ligado à autocompaixão, pois se trata do ato de não desviar a atenção do sentimento de culpa, mas sim refletir sobre ele, dando atenção e cuidando.

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Karen constata que a autocompaixão é intrínseca ao autocuidado, já que uma das formas de amar a si mesmo é cuidando do seu bem-estar, o que pode ser mais desafiador do que aparenta. “Nós somos sabotadores do nosso bem-estar: a gente sabe as coisas que não são boas para nosso organismo, por exemplo, mas vamos lá e comemos. Sabemos que devemos fazer exercício, mas não fazemos”, diz.

Ao ser questionada sobre como lidar com a ansiedade gerada pelas incertezas do futuro pós-pandêmico e pela imprevisibilidade do fim da quarentena, ela coloca que a manifestação mental desse sentimento de angústia acarretaria sensações físicas e a melhor forma de enfrenta-las seria aceitando e observando.

“Você deve ‘sentar’ com sua ansiedade, algo que é aversivo, e levar as mãos para a parte do seu corpo em que ela se manifesta. Então, você vai observando a ansiedade e naturalizando”, orienta Karen. Outra estratégia citada por ela é a de focar no presente, já que pensar em um futuro incerto não teria serventia alguma.

Em seguida, foi perguntada sobre como dosar o consumo de notícias, em sua maioria, ruins, durante a pandemia. A especialista diz que é preciso medir até que ponto elas estão servindo como informação e não como gatilho para a tristeza e o medo, o que “traz um fechamento para a vida”.

Ao fim da live, Karen reforça que a aceitação não é se aquietar e ser passivo diante das situações. “É sobre algo que mora dentro de mim”. “Não podemos aceitar violências externas, mas sim aquelas emoções relacionadas a algum episódio”, explica.

Ela enfatiza também que o momento atual pode ser utilizado como uma chance de questionamento sobre quais hábitos e situações devem ser mudados e quais devem ser mantidos. “Segundo o que tenho ouvido de pacientes, esse é um momento que está modificando muito o pensamento das pessoas. Muita coisa vai mudar daqui para frente e estamos tendo a oportunidade de refletir sobre o que queremos nas nossas vidas”. “Se a gente não sair mudado desse momento, não teve sentido”, completa Karen.

As próximas quatro lives da série “Saúde mental em tempos difíceis: conversas com universitários” acontecerão nos dias 10, 12, 17 e 24 de junho, às 18h.