"Saí de lá mudada": pacientes e especialistas explicam como a acupuntura pode ajudar no combate à ansiedade - Revista Esquinas

“Saí de lá mudada”: pacientes e especialistas explicam como a acupuntura pode ajudar no combate à ansiedade

Por Beatriz Cresciulo e Carolina Ferraz : junho 26, 2021

Apesar de ser muito conhecida no combate às dores, a acupuntura é tratamento alternativo no cuidado da saúde mental, em especial durante a pandemia

Medo, incerteza e solidão. Essas foram só algumas das coisas sentidas pelas pessoas durante a pandemia do novo coronavírus. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ao longo dos meses de maio, junho e julho de 2020, apontou que 80% da população brasileira passou a ter ansiedade após o início da crise da covid-19 no País.

Este foi o caso de Luma Schincáglia, estudante de Rádio, TV e Internet da Faculdade Cásper Líbero. A jovem de 20 anos conta que, no auge da pandemia, em meados de 2020, a ansiedade estava lhe causando sintomas físicos. Foi neste momento que decidiu procurar uma terapia alternativa e se deparou com a acupuntura. “Foi uma questão do momento. Acho que a pandemia agravou muito a situação para eu procurar esse tipo de tratamento”, lembra.

O que é a acupuntura?

Segundo o Dr. Reginaldo de Carvalho Silva Filho, PhD em Acupuntura pela Universidade de Medicina Chinesa de Shandong, a técnica atua seguindo as teorias da Medicina Chinesa. O tratamento consiste no uso de agulhas para promover a movimentação do “Qi”, termo cujo significado mais próximo para a cultura ocidental é “energia”.

A deslocação do Qi pelos Canais e Colaterais, vias do corpo por onde circula a energia vital, irá propiciar a regulação das funções internas. “A acupuntura estimula o corpo para que o mesmo possa reagir e isso leva à indução de diferentes mecanismos de resposta que são os responsáveis pelos efeitos terapêuticos”, explica o fundador e Diretor Presidente da Escola Brasileira de Medicina Chinesa (EBRAMEC).

De onde vem a ansiedade?

De acordo com a psicóloga Magda Tartarotti, a ansiedade, usualmente, é confundida com o medo. Os dois sentimentos estão muito ligados. O medo é uma resposta a alguma ameaça, enquanto a ansiedade é uma antecipação disso, a previsão de um perigo futuro. A especialista explica que tal comportamento é totalmente esperado, visto que nos mantêm em um estado de alerta.

Ela argumenta que a situação torna-se preocupante quando se apresenta de forma excessiva. “Quando estamos em vigilância é quase como um bicho. Os pelos eriçam, a gente começa a ter muita cautela e ficar muito atento a tudo que está à nossa volta. Isso gera um estresse muito grande”, comenta.

O isolamento social, provocado pela pandemia, intensificou esse sentimento em muitas pessoas. Tartarotti afirma que o convívio social é essencial para a sobrevivência do ser humano e que tal afastamento, aliado à preocupação com o vírus, pode ter aumentado o medo de muitas pessoas, que não souberam se adaptar à condição. “Nós, humanos, somos seres coletivos. A gente se compõe com a outra pessoa”, diz.

Ela aconselha que, para superar tais dificuldades, é necessário procurar a ajuda de profissionais especializados no assunto. “Não exija muito de você. Você não está naquela situação que estava antes. Não tem as mesmas condições que tinha. Trabalhe com o possível para o momento, diante do que tem”, recomenda. “Tenha uma rotina leve. Crie coisas. Busque algo que te dê prazer”. Para ela, a acupuntura é uma forma de lidar com esse problema: “É um recurso, um instrumento dentro deste quadro.”

Como a acupuntura e a ansiedade se relacionam?

Apesar de ser muito conhecida no combate às dores, a acupuntura também pode trazer benefícios para as pessoas que, assim como Luma, sofrem com a ansiedade. O Dr. Reginaldo de Carvalho Silva Filho aponta que o tratamento proporciona a melhora funcional do corpo, o que acaba repercutindo no emocional. “É bastante comum pacientes relatarem que se sentem mais calmos e relaxados durante e após uma sessão. Estes efeitos podem beneficiar pacientes ansiosos, mas tudo de acordo com uma boa avaliação”, ressalta o acupunturista.

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Giovana Bretas, 20 anos, fez um curso para se especializar em acupuntura, depois que teve o primeiro contato com a atividade, em 2018. Ela conta que tinha muitas cólicas e sofria de ansiedade e a técnica foi um recurso que a ajudou a superar tais problemas.

A jovem explica que é preciso saber do histórico do cliente, antes de elaborar um plano de tratamento, afinal isso é algo que varia de pessoa para pessoa. “É nesse momento que vamos conseguir dar um sentido para as queixas desse paciente, é quando a gente consegue entender qual é o real problema e onde está o desequilíbrio”, comenta.

Além disso, Filho argumenta que, por meio do estudo do histórico do paciente, é possível identificar o tratamento mais indicado para cada um. Para casos específicos, o uso de agulhas pode não ser o mais indicado naquele momento. Já para aqueles que podem se beneficiar das sessões, destaca que a acupuntura pode ser aplicada de modo único, como também integrada a outras modalidades de tratamento da Medicina Chinesa, medicamentos alopáticos ou fitoterápicos.

Resultados do tratamento

Para Luma Schincáglia, as sessões, que faz a cada dois ou três meses, trouxeram muitos benefícios. A estudante relata que, para além dos sintomas físicos, a acupuntura mexeu muito com o seu emocional. “A gente acha que essa questão das agulhas não tem influência nenhuma, mas tem muita. Eu lembro que, na primeira vez que fiz, saí de lá mudada”.

Depois que experimentou a acupuntura, a jovem afirma que, na sua opinião, o procedimento deveria estar ao alcance de todas as pessoas. “Não é só para quem está precisando, deveria ser uma coisa normal, um hábito de todo mundo”, indica.

Atendimento durante a pandemia

A acupuntura foi utilizada por muitas pessoas como um recurso para aliviar a ansiedade durante o período de pandemia. Apesar do isolamento, muitos pacientes não puderam abandonar seus tratamentos e, por isso, os profissionais da área tiveram que adotar medidas de segurança para poderem realizar os seus trabalhos. “Meus atendimentos continuam funcionando para os pacientes que precisam muito. Os que não são urgentes, decidi parar por causa do período em que estamos vivendo”, relata Giovana Bretas.

Filho também continua atendendo. Alguns dos cuidados adotados por ele são o uso de máscaras e a higienização constante das mãos. “A acupuntura e demais recursos da Medicina Chinesa podem auxiliar os pacientes que estão preocupados com esta situação, que possuem um risco aumentado ou pacientes pós-covid. Ou seja, é possível buscarmos formas de auxiliar. Não há milagre, não há uma solução única. Mas um esforço conjunto pode trazer bons resultados, sempre a partir de uma análise individual de cada um”, afirma.

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