Estudante e psicóloga explicam obstáculos enfrentados por adolescentes na pandemia e consequências com a saúde mental
Piora na saúde mental e medo de ser julgado como “inútil” e “improdutivo”. Essas foram algumas das coisas que o estudante do segundo ano do Ensino Médio, Cauã Felipe, de 16 anos, sentiu durante a pandemia da covid-19.
A crise sanitária deixou muitos adolescentes em um cenário desconhecido, gerando problemas psicológicos em muitos desses jovens. De acordo com um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), uma a cada quatro crianças e adolescentes apresentou sinais de ansiedade e depressão na pandemia.
Em decorrência dos acontecimentos e de seus conflitos externos e internos, Cauã comenta que a situação se refletiu em seus estudos, por se sentir desmotivado para realizar cursos e atividades escolares: “Minha escola mandava muita lição e eu acabava deixando que acumulasse. Me sentia sobrecarregado, com medo de não passar de ano, mas quanto mais lição fazia, mais tarefas chegavam.”
De acordo com a psicóloga Caroline Tavela, a pressão interna ou externa para se ter um bom desempenho em alguma área da vida pode gerar quadros clínicos de depressão e ansiedade quando acontece fora de um padrão saudável. Isso pode resultar em pensamentos catastróficos e perturbadores a respeito do futuro.
O ocorrido com o estudante em suas atividades escolares pode ser explicado pelo chamado “cansaço mental”, condição que atinge milhões de indivíduos no mundo todo. Segundo Tavela, ela é resultado de horas seguidas de trabalho, sem o devido descanso à mente, o que desencadeia o estresse, diminuição da capacidade de tolerância, desmotivação para tarefas e, eventualmente, uma visão desesperançosa sobre o futuro.
As alterações psicológicas e emocionais também afetaram a socialização de Cauã. O jovem conta que, ao estar em uma nova escola para cursar o Ensino Médio, apresentou dificuldades para se enturmar e fazer amizades, uma vez que já estava acostumado com seus colegas do colégio antigo. Ele afirma que, durante o isolamento social, se fechou para novas pessoas: “Socializar não é mais tão fácil quanto parece”.
Nessa situação, a psicóloga explica que, apesar de nos aproximarmos das pessoas que estão longe com a tecnologia, também conseguimos nos afastar daqueles que estão perto. Para ela, esse fator foi capaz de tornar relacionamentos extremamente superficiais.
Como melhorar a situação?
Ao refletir sobre pessoas que podem se encontrar na mesma situação, Cauã sugere a procura de um psicólogo, algo que ele próprio está fazendo: “Estou focado em minha saúde mental, quero melhorar”.
Tavela concorda com a necessidade de auxílio profissional. “Quando estamos vivendo uma situação, temos sentimentos envolvidos e nosso ponto de vista, por ser interno, fica prejudicado, confuso, e perdemos vários ângulos que só são vistos de fora”, afirma.
Segundo a especialista, o profissional da saúde mental traz uma técnica e especialização que ajuda o paciente a lidar com o que está passando: “Por isso que existe a frase ‘só descobrimos que estamos numa ilha quando olhamos para ela de cima’. A ajuda profissional é justamente o olhar de fora”.