'Layoffs' em alta: mercado de jogos passa por crise financeira e vê seu público diminuir - Revista Esquinas

‘Layoffs’ em alta: mercado de jogos passa por crise financeira e vê seu público diminuir

Por Rodrigo Bonini : abril 10, 2024

O mercado de jogos enfrenta um momento de crise. Foto: Yan Krukau/Pexels

O mercado de jogos enfrenta um cenário de crise. A principal causa são problemas financeiros e de apoio do público

Em meio ao cenário de demissões e falta de investimentos, os jogos independentes têm ganhado espaço.

No dia 28 de fevereiro de 2024, a Insomniac Games, estúdio fundado em Burbank, na Califórnia, responsável pelos jogos da franquia “Ratchet & Clank” e “Spider-Man 2”, completou 30 anos. A data, que deveria ser motivo de comemoração, acabou ganhando um gosto amargo após a desenvolvedora informar que uma parte significante de sua equipe havia sido demitida. No mesmo período, outros 900 funcionários, estes da Sony Interactive Entertainment, empresa que produz o console Playstation, também foram demitidos.

Esse acontecimento pode ser usado como exemplo de uma tendência que vem assolando o mercado dos games nos últimos meses, os layoffs, demissões em massa que ocorrem nas empresas, visando a redução de custos. Para se ter uma ideia, o site de notícias Kotaku possui uma lista de todos os layoffs que ocorreram em 2024 e o número de profissionais da área que perderam o emprego está na marca dos oito mil, incluindo membros que participavam de grandes indústrias como Sega, Riot Games e Microsoft, esta última dispensou em torno de 1.900 funcionários de diversos estúdios que possui. 

Qual o motivo por trás de tantas demissões e crises? Hugo Vaz, diretor de arte do Behold Studios, estúdio independente brasileiro, explica a atual situação:  

“É um cenário que ninguém gosta de ver, mas são sintomas de um mercado que aposta demais. A indústria dos jogos é muito focada em guardar segredo, em injetar dinheiro a qualquer custo, contratar artistas ou programadores que não estão muito qualificados.”

Para o profissional, uma questão que também dificulta as melhorias no mercado dos jogos é que os programadores e artistas não podem interferir muito no produto final. “Existe uma hierarquização nesse sentido.”

Mas, outro fator tem afetado a indústria dos jogos: a falta de comprometimento com o consumidor. Em 14 de março de 2024, a Aspyr Media lançou o jogo “Star Wars: Battlefront Classic Collection”, que prometia trazer de volta a experiência dos saudosos jogos de tiro baseados na franquia cinematográfica Star Wars, agora em servers online ativos com uma capacidade de até 64 pessoas. O que o público encontrou, entretanto, foram servidores que mal funcionavam e um produto que ocupava um espaço grande de memória, especialmente quando se leva em conta que esses são jogos antigos e sendo assim, menos avançados. 

O mesmo ocorreu com o jogo “Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça”, que tinha como objetivo ser um produto com grande atividade online. A Rocksteady Studios, desenvolvedora do jogo, acreditou que conquistaria uma grande e ativa comunidade multiplayer, contudo um erro nos servidores, que ocorreu logo no primeiro dia, impossibilitou qualquer um de jogá-lo. O enredo polêmico do jogo e a opção da produtora de tentar se afastar do gênero de aventura, pelo qual é mais conhecida, também frustrou os jogadores e fãs. Isso acabou fazendo com que o software, que deveria suportar milhares de jogadores ao mesmo tempo, esteja atualmente com uma média de 579 pessoas online, segundo os dados do site Steam Charts. 

O curioso é que, mesmo em meio à crise, os games estão mais populares do que nunca. Segundo uma pesquisa feita em 2023 pela Abragames, Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos, o mercado no Brasil havia faturado em torno de 251.6 milhões de dólares em 2022, o que daria em torno de R$1.249.646.880. Apesar do faturamento alto, ainda existem melhorias para o mercado no país: 

“O mercado de jogos no Brasil é bem complicado, mesmo para empresas maiores. Enquanto lá fora você pode se especializar em só uma coisa, aqui no Brasil você precisa saber bastante de uma área e saber também sobre as outras para assim poder atuar em todos os pontos. Em jogos independentes chega a ser até mais sobrecarregado, pois todos da equipe precisam saber fazer tudo, ou pelo menos um pouco de tudo”, diz Renato Cavalheiro, estudante de Design de Jogos que pretende lançar um projeto próprio após terminar seu curso. 

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Novos caminhos 

Enquanto as grandes empresas sofrem com a crise e o mercado nacional continua a se desenvolver, a comunidade que adora o universo dos games tem se aprofundado cada vez mais nos jogos independentes, feitos por equipes pequenas, mas que produzem, na grande maioria das vezes, verdadeiras obras primas da mídia.

“Um indie – abreviação de independente – tem que se basear em alguma âncora para que o público possa respeitá-lo. Isso tem muito a ver com a proximidade que o desenvolvedor tem do jogador, da interação entre os dois e também dos jogos que carregam uma mensagem, dos jogos que precisam existir, que falam de algo muito interessante, que as equipes são muito organizadas, em que todo mundo tem um espaço de fala muito bom”, comenta Vaz.

Porém, são poucos os estúdios que conseguem obter sucesso instantâneo e vários podem até mesmo fechar as portas antes de publicarem seu grande projeto, mas uma vez que eles tenham essa oportunidade, geralmente conseguem atrair a atenção do público, seja pelos riscos que o jogo toma para se distanciar do esperado ou pela mensagem que ele carrega. Um exemplo é “Celeste”, jogo desenvolvido pelos canadenses Maddy Thorson e Noel Berry, com arte feita pelo estúdio brasileiro MiniBoss, que utiliza o cenário de escalar uma montanha gigantesca como uma metáfora sobre conquistar os desafios e tristezas da vida e entender melhor sobre si mesmo. 

É necessário lembrar que o cenário da indústria dos games é muito eclético e se transforma constantemente, é só uma questão de tempo até sair algo que revolucione a indústria ou que eleve a mídia a um novo patamar. Eventualmente a crise irá passar e embora os números sejam importantes em um negócio como este, sejam eles na conta bancária ou no código de programação, Cavalheiro deixa uma última dica: “saber fazer jogos não é só saber escrever códigos. É preciso ter uma gama muito mais ampla de conhecimento para fazer um bom jogo, seja ele grande ou pequeno.

Editado por Mariana Ribeiro

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