Ato contou com a revisão de promessas não cumpridas e sanções de novos PLs, como a isenção do IR para quem ganha até dois salários mínimos
Com o tema ‘Por um Brasil mais justo’, o dia do trabalhador carregou protestos sobre as condições de emprego no Brasil. Além disso, contou com gritos por baixa da taxa de juros, valorização do serviço prestador por servidores públicos, igualdade salarial de gênero e correção da tabela do imposto de renda (IR). O ato, realizado na Neo Química Arena, reuniu aproximadamente 5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar.
Há o que comemorar?
Durante o ato, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) destacou a melhora nos indicadores de emprego e o retorno de projetos por parte do governo federal. “Temos que comemorar o menor índice de desemprego desde 2014. Além da volta do ‘Minha Casa, Minha Vida’, da ‘Farmácia Popular’ e de programas sociais arruinados pelo último governo.”
O pré-candidato à Prefeitura de São Paulo afirmou também: “O atual governo está querendo dar direito aos trabalhadores de aplicativo e garantira de aposentadoria. A cidade de São Paulo vai voltar a ser a terra da oportunidade, da renda e da educação. Nós vamos trabalhar para barrar a privatização da Sabesp. Isso é um ataque ao povo de São Paulo”.
Entre os discursos, o do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, ressaltou a importância do povo na construção do país. “Quem constrói a riqueza [do nosso país] não são os algoritmos, aplicativos ou máquinas. É o povo trabalhador. Está em nossas mãos esse processo de conquista.”
Após as falas de Boulos e Marinho, presidentes sindicais expressaram suas demandas, entre elas, a reforma tributária, a queda da taxa de juros, a igualdade de salário entre homens e mulheres, a redução da jornada de trabalho e o fim da “uberização”. “Um Brasil mais humano e menos desigual”, disse Adilson Araújo, presidente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).
Mudança de local
O ato, realizado historicamente no centro de São Paulo, mudou de região, e ocorreu na Zona Leste. O estacionamento da Neo Química Arena, estádio do Corinthians, em Itaquera, foi o destino. Organizadores do evento já imaginavam uma diminuição de público, mas não tanto como aconteceu. Segundo a Polícia Militar, o evento estava preparado para receber 15 mil pessoas, entretanto, nem 5 mil estiverem presentes, de acordo com a instituição.
E o presidente Lula (PT) notou: “Não fizemos o esforço necessário para trazer a quantidade de gente que era preciso. De qualquer forma, estou acostumado a falar com mil, um milhão, mas se for necessário falo apenas com a senhora maravilhosa que está aqui na minha frente”.
O deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) comentou sobre a habilidade de Lula em conversar com o povo. “O presidente tem uma sensibilidade muito significativa na fala. Ele leva em conta as aspirações do povo brasileiro, especialmente dos trabalhadores que veem nele uma esperança.”
A opinião dos participantes do ato, desde trabalhadores até vereadores, se difere quanto ao local da localização do evento deste ano.
Giovana Assis, de 23 anos, estudante de Ciências Sociais na PUC-SP, disse que não gostou da mudança. “No centro estava bem mais cheio, além de ser mais acessível também. Apesar de o centro ser uma área mais elitizada, acho mais perto de todas as periferias que ficam ao redor.”
Já a vereadora Luna Zarattini (PT-SP) ressaltou que a mudança de local é uma tentativa de mostrar que esses eventos também podem ser descentralizados.
Hélio Rodrigues, também vereador de São Paulo pelo PT, completou: “Reunir a classe, quer seja na avenida Paulista, aqui ou em qualquer outro lugar é muito importante. A nossa luta é desproporcional. É a batalha dos trabalhadores e trabalhadoras contra aqueles que detém os meios de produção e o capital. É um compromisso com as pautas históricas da classe trabalhadora”.
Importância do ato
O Dia do Trabalho, criado para homenagear a histórica greve geral de 1886 em Chicago, nos Estados Unidos, chega a mais um ano de luta pelos direitos trabalhistas. O ato unificado contou com a presença de cinco centrais sindicais e reuniu pessoas pelo Brasil inteiro. “Ainda que as correntes sejam distintas, todos se unem com o mesmo objetivo”, disse Irene Lírios, dirigente do Sindicato dos Bancários do Estado de São Paulo.
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Lula e as promessas
Com duas horas de atraso, Lula iniciou seu discurso anunciando a sanção de dois novos projetos. A Lei 14.848/2024, que altera os valores da tabela progressiva mensal do IR e o decreto 12.009/2024, que promulga a convenção de trabalho decente às trabalhadoras e trabalhadores domésticos. A alteração no IR isenta o imposto de quem ganha até R$ 2.864 – o equivalente a dois salários mínimos. O presidente também afirmou: “Até o final do meu mandato, as pessoas que recebem até R$ 5.000 não pagarão imposto de renda”.
Durante o discurso, Lula valorizou a alta da economia e destacou a importância de investimentos do exterior. Neste ano, apenas no setor automobilístico, o país recebeu um aporte de R$ 129 bilhões, destacou.
Segundo o presidente, antes de assumir o governo, em 2023, a sua maior preocupação eram os resultados socioeconômicos de seu terceiro mandato, mas, de acordo com ele, a previsão é positiva. “Eu tinha a preocupação de voltar ao governo e não conseguir competir com os meus outros mandatos, mas vamos fazer melhor do que nos outros.”
Lula fez questão de minimizar a “guerra” entre o Congresso e governo federal, afirmando que todos os projetos foram aprovados. “Isso mostra a competência dos ministros e deputados, que aprenderam a conversar ao invés de se odiar.”
Outra ressalva feita foi em relação à falta de informações divulgadas pelo governo. O presidente citou a criação do site ComunicaBR, que permite acompanhar o que está sendo gasto e quais são as obras realizadas em cada cidade brasileira. “Vamos provar para a elite brasileira que, outra vez, o metalúrgico vai consertar o país que ‘eles’ quase estragaram”, finalizou.
Após as falas de Lula, o público se dispersou, restando apenas alguns representante das centrais sindicais. O ato do 1º de Maio contou com a Petrobras e o Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, como patrocinadores.
Pós-ato
A vereadora Zarattini reforçou as expectativas trabalhistas para os próximos anos, já que grande parte do Congresso é dominado por opositores ao governo. Paula Mazzutti, de 29 anos, advogada que esteve presente no ato, fez um apelo: “A classe trabalhadora é a que sustenta a sociedade nas costas. Por isso, é preciso estar unida e lembrando dos seus direitos”.