Digital muda plim plim e afeta domínio da Globo - Revista Esquinas

Digital muda plim plim e afeta domínio da Globo

Por Ana Guercio, Francisco Prates Camargo, Lucas Massei e Maria Alice Primo : maio 22, 2024

"Já falaram que é a 'Globo da internet' e o objetivo é mais ou menos esse”, afirma Luiz Funari, produtor executivo dos estúdios Flow. Foto: Anete Lusina/Pexels

Profissionais da comunicação avaliam transformações do digital, rebranding de veículos tradicionais e impacto de influencers na mídia

Pegue de exemplo o famigerado podcast, o formato que surge um novo a cada esquina, está crescendo nos últimos anos. O valor gasto em publicidade totalizou US$ 1,93 bilhão no ano passado. Em 2022, a quantia investida foi de US$ 1,82 bilhão, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. O modelo, hoje, atende todos os interesses, com conteúdos jornalísticos, transmissões esportivas e entretenimento. Algo inimaginável nos primórdios de seu surgimento em 1993.

“Globo da internet”

O ‘Flow Podcast’, por exemplo, conta atualmente com programas noticiosos, cietíficos, esportivos, entre outros. Segundo Luiz Funari, produtor executivo do canal, em entrevista à ESQUINAS, confirmou haver um planejamento de crescimento em novas áreas. “A ideia é falar com todo mundo. O Flow está virando um complexo de televisão. Já falaram que é a ‘Globo da internet’ e o objetivo é mais ou menos esse”, afirma.

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Luiz Funari, produtor executivo dos estúdios Flow.
Foto: Reprodução/LinkedIn

Oportunidades antes exclusivas aos grandes meios de comunicação se tornaram disponíveis a estas “Globos da internet”. Na última eleição presidencial do Brasil, o Flow realizou duas entrevistas com os dois principais candidatos, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), ao todo, os conteúdos geraram 25,7 milhões de visualizações, tendo, a do atual presidente, o recorde de um milhão de espectadores simultâneos.

Para Funari, esse alcance do podcast é atrelado ao ambiente mais à vontade que o formato possibilita. “São dois motivos que atraem os candidatos: o primeiro é ter o público que vota assistindo ou escutando, já o segundo é a liberade durante a entrevista. Aqui [Flow] eles tem muito tempo para exporem as suas ideias, diferentemente da televisão que existe um tempo durante as falas”, analisa.

Em conjunto com a expansão de seu ecossistema comunicacional, o Flow, hoje, se destaca pela dinâmica informal de seus programas, aproximando emissor com receptor. O produtor executivo acrescenta que a essência dos estúdios deve permanecer a mesma com o tal “bate-papo”. Essa liberade cedida aos convidados garante o encontro de opiniões, muitas vezes erradas ou imprecisas, por não passarem pelo crivo jornalístico. Em meio a este cenário de “mesa de bar”, no ano passado, a FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas) se posicionou a favor da regulação democrática das plataformas digitais.

O modelo a ser seguido? 

Rafael Lara, repórter da TV Anhanguera, afiliada da TV Globo em Goiás, se questiona se todas as empresas ou complexos televisivos querem ter o “Padrão Globo” e seguir o mesmo caminho. “É muito investimento para chegar a esse nível. São mais de 100 afiliadas com altos níveis de produção. A estrutura de uma televisão como a Globo é inviável para canais digitais menores”, comenta.

Já Thatiana Brasil, jornalista da TV Record, acrescenta a importância da televisão na opinião pública. “Ainda é muito potente, principalmente, quando utilizada como ferramenta de comunicação em massa. Além de que é mais democrática por chegar em locais inimagináveis”, afirma. Ela completa que a televisão aberta integra comunidades sem acesso à internet, destacando a presença de antenas em quase todas as casas.

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Virada na comunicação

Dizer que os canais tradicionais ocupam as salas da maioria dos brasileiros nas últimas cinco décadas já é um pleonasmo, mas com o crescimento de mídias digitais alternativas, há, no mínimo, uma sugestiva virada dessa constatação.

“Esse aumento é justamente a possibilidade do relacionamento com diferentes públicos. Ele [o público] quer interagir, se manifestar, até mesmo ser protagonista. Toda essa vontade gera com que organizações foquem em estratégias de aproximação entre o público e os produtores de conteúdo”, analisa Bianca Marder Dreyer, diretora e fundadora da Relatio, empresa especializada em gestão integrada de negócios e relações públicas

Para a jornalista Brasil, hoje, os canais oferecem o recurso da multiplataforma com o objetivo de aumentar a audiência. “A Record, por exemplo, coloca toda a progamação no PlayPlus [aplicativo da emissora]. É um meio de atrair o público jovem e fortalecer esse relacionamento”, completa.

Além dessa briga por “quem agrada mais”, o repórter Lara acrescenta que a virada também ocorre no dia a dia da comunicador. “Hoje, faço vídeos [reels e stories] para as redes sociais, já é uma tarefa diária”, diz.

Quem se comunica melhor?

E como em toda disputa há competição, na comunicação não seria diferente ou seria? A jornalista da TV Record acredita que, canais digitais não competem diretamente com veículos tradicionais. “O público é de outro nicho. Essas plataformas chegam para somar e com uma linguagem diferente”, afirma.

Na contramão de Brasil, a diretora da Relatio enxerga uma concorrência forte e direta. “Eles [mídias digitais] influenciam o público, principalmente, pessoas que não buscam ou não consomem a mídia tradicional. Confesso que estou observando com atenção esse crescimento”, destaca.

Editado por Ronaldo Saez

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