'Sem holofotes': imprensa dá pouca (ou quase nenhuma) atenção a times de futebol pequenos? - Revista Esquinas

‘Sem holofotes’: imprensa dá pouca (ou quase nenhuma) atenção a times de futebol pequenos?

Por Arthur Marin, José Eduardo Rodrigues e Vinicius Piazza : junho 20, 2024

Treino pré-jogo, em 15 de março, contra o Santos, no Estádio do Canindé, em São Paulo Foto: Vinicius Piazza/ESQUINAS

Entenda como a mídia esportiva trata os clubes de menor expressão, quando comparados aos “grandes” times do futebol brasileiro

É comum vermos no futebol brasileiro, clubes como Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, em destaque no jornalismo esportivo. Um esporte, inicialmente usado como entretenimento ao grande público, se transformou em uma forma de monetização e negócio, mas a notoriedade de clubes menores decai cada vez mais devido a nova prática da imprensa desportiva.

Em reflexo à questão editorial comercial, o repórter fotográfico Ariovaldo Vicentini, relembra um episódio que presenciou em sua carreira quando trabalhava para o veículo “Lance!”, que ocorreu durante a seleção da foto de capa.  A decisão prévia, na época, era estampar a final do Campeonato Paulista entre São Caetano e Paulista de Jundiaí, mas após o canal conseguir uma entrevista com o Rogério Ceni, então goleiro do São Paulo, a foto do jogador foi a selecionada para estampar o veículo.

A pauta perdeu espaço de holofote, ficou em menor tamanho, ao lado da logo do Lance!. Vicentini relembra da resposta que recebeu quando questionou o dono do jornal sobre o ocorrido do dia anterior, e sinaliza que, naquele momento, ele notou que o jornal e suas manchetes são mais que notícias, são o comércio de uma empresa, que precisa sobreviver . “Quantos caras de São Caetano vão comprar o Lance! hoje? – Houve um silêncio diante de todo mundo-  É por isso! Não vai vender! Por que vou dar a manchete para quem não vai vender? Manchete é uma empresa, isso tem que dar lucro, a gente escreve para as quatro grandes torcidas de São Paulo. Saiu daí, ninguém compra”.

 

A VISÃO DENTRO DE UM CLUBE PAULISTA

Durante a preparação do time da Portuguesa para as quartas-de-final do Campeonato Paulista de 2024, ESQUINAS esteve no Estádio do Canindé para questionar sobre a falta de atenção midiática com funcionários de dentro do clube, incluindo, o presidente da Associação Portuguesa de Desportos. Antônio Carlos Castanheira que expressa sua opinião sobre o possível “desprezo” da mídia com o time do Canindé em relação às “quatro grandes forças” de São Paulo.

“Não vejo isso como descaso. É natural que a imprensa dê mais destaque aos times com mais torcedores. A Portuguesa se distanciou dos grandes clubes do futebol brasileiro ao longo do tempo. Na década de 80 e 90, essa distância não era tão evidente. A cobertura da imprensa aumenta quando o time está em destaque e disputando campeonatos com sucesso, como foi o caso da nossa campanha para subir para o Paulistão em 2022 e agora nas quartas-de-final.”, afirma Castanheira.

Entrevista com Antônio Carlos Castanheira, presidente da Portuguesa, antes do confronto com o Santos
Foto: Vinicius Piazza/ESQUINAS

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Não apenas no Estado de São Paulo, o jornalista Ayrton Baptista Junior, produtor da CBN Esporte de Curitiba, comenta sobre a perspectiva da imprensa de outros estados.

“Quando eu digo estratégia de programação, falo que uma cobertura nunca é planejada em função do time do jornalista. O jogo-comando sempre é o que a rádio acredita que tenha maior apelo. Há também dentro da estratégia, momentos em que uma emissora de rádio opta por um “segundo jogo” da rodada por entender que o “primeiro” já está muito dividido entre as outras emissoras.”

Ainda tratando sobre os clubes do estado paranaense, Baptista ressaltou sobre como a mídia trata os dois grandes clubes da região, o Coritiba e o Athletico-PR. Segundo o jornalista, a mídia dá mais destaque ao Athletico por estar em diversos espaços de destaque no futebol brasileiro, como o Campeonato Paranaense, a Série A, a Sulamericana e a Copa do Brasil. Já o Coritiba, encontra-se apenas com a Série B e o Paranaense.

Troféu da Copa do Brasil, conquistada pelo Athletico Paranaense
Foto: Reprodução/Pedro Miranda

Na hora de receber patrocinadores, os times mais conhecidos pelo público, ainda tem mais prioridade quando comparados aos clubes “menores”. Os times cariocas como, Flamengo e Vasco, possuem patrocínios que movimentam milhões de reais estampados no centro de seus uniformes.

Como método de comparação, o site ‘oGol’, fez um levantamento que aponta que a casa de aposta PIXbet, que ocupa o cargo de maior patrocinador do Flamengo e do Vasco, fornecendo R$85 milhões de reais mensais para o Flamengo e, cerca de R$20 milhões ao Vasco.

“No Rio de Janeiro, é bom frisar que o espaço maior ao Flamengo já acontecia antes da televisão entrar com força no futebol. No início dos anos 1980, era comum nas principais rádios cariocas que o narrador principal transmitisse no sábado um jogo do Flamengo contra um adversário de menor tradição e no domingo, sem o Flamengo, o clássico do dia.”, complementou Baptista.

Editado por Julia Tortoriello

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