O que (ou melhor, quem) os ouros da ginástica representam? - Revista Esquinas

O que (ou melhor, quem) os ouros da ginástica representam?

Por Marina Buozzi : agosto 16, 2024

Simone Biles subiu ao local mais alto do pódio pelo salto em cavalo e pela categoria individual geral. Já Rebeca Andrade conquistou a mdealha de ouro na categoria solo. Foto: Reprodução/Site Oficial Paris 2024 (à esquerda) e Luiza Moraes/COB (à direita)

Suor, garra e superação são sinônimos para ginástica olímpica, sendo ouro, prata ou bronze considerados todos a primeira posição

“É o esforço de uma vida sendo recompensado neste exato instante. É a lágrima mais doce que pode escorrer pelo rosto de um atleta.” Essas foram as palavras da crônica olímpica de Tadeu Schmidt, apresentador da TV Globo, proferidas durante uma das transmissões do programa “Central Olímpica” da no dia 11 de agosto de 2024. Esse trecho, representa não somente o evento único para todo e qualquer atleta de alto rendimento, mas também o alcance dos maiores objetivos deles.

Uma das modalidades mais associadas ao sacrifício esportivo e dedicação incessante é a ginástica, a qual possui a força e a consciência corporal extrema como principais características e, portanto, é aclamada por cada conquista de seus competidores, como rememorado nos Jogos Olímpicos Paris 2024.

15 medalhas de ouro individuais foram conquistadas entre as provas masculinas e femininas de forma equilibrada entre as nações competidoras.

Na ginástica artística, os expoentes foram:

Simone Biles (EUA):

Os Estados Unidos, o favorito da modalidade, se destacou novamente com Simone Biles subindo ao local mais alto do pódio pelo salto em cavalo e pela categoria individual geral. Biles, no auge de seus 27 anos, já acumula um total de sete medalhas olímpicas, sendo quatro delas de ouro.

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A história completa de Biles na ginástica é representada em “Coragem Para Vencer” (2018) e “O Retorno de Simone Biles” (2024).
Foto: Reprodução/Site Oficial Paris 2024

Abandonada com os irmãos pela mãe, ela já demonstrava talento para o esporte e trajetória de vida grandiosa. Com 16 anos, conquistou seus primeiros dois primeiros lugares no Campeonato da Antuérpia e também consagrou um movimento inédito, e que hoje leva seu nome, um duplo mortal com meia torção. A partir daí, a atleta foi ganhando cada vez mais espaço e fama, o que ao longo dos anos, modificou sua maneira de enxergar seu trabalho e, dessa forma, realizá-lo.

“Não sou o próximo Usain Bolt ou Michael Phelps. Eu sou a primeira Simone Biles”.

Isso se demonstrou, principalmente, durante os Jogos de Tóquio 2020, durante o qual se retirou da maioria das provas em favor de sua saúde mental em meio ao crescente aumento de expectativas e holofotes, bem como a descoberta de um bloqueio mental desorientador durante manobras aéreas, os “twisties”

A história completa de Biles na ginástica é representada em diversas produções cinematográficas, como “Coragem Para Vencer” (2018) e “O Retorno de Simone Biles” (2024), provando ao mundo sua unicidade dentro e fora das arenas. Com sua maturidade, excelência e dedicação, a ginasta, de apenas 1,42m, é tida como uma das maiores referências esportivas mundiais para qualquer pessoa que tenha um sonho.

Rebeca Andrade (BRA):

A cidade de Guarulhos, em São Paulo, também foi dona do primeiro lugar no solo com a ginasta Rebeca Andrade. Filha de mãe solo e com três lesões ao longo da carreira, ‘Rebe’ foi perseverante novamente e conquistou quatro medalhas apenas nessa edição olímpica.

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Rebeca Andrade é frequentemente equiparada a Simone Biles, devido às altas habilidades e apresentações inesquecíveis marcadas pela música “Baile de Favela” e canções de Beyoncè.
Foto: Luiza Moraes/COB

Duas horas de caminhada até o centro de treinamento e o salário de empregada doméstica de sua mãe para proporcionar os treinos são parte do início da história da atleta, que hoje compete pelo clube Flamengo, no Rio de Janeiro. Em determinado momento dessa história, Rebeca teve de lidar com a escassez de recursos para treinar, contando com o esforço de seus treinadores para mantê-la na arena.

Ao iniciar suas participações em Jogos Olímpicos, Andrade foi frequentemente equiparada a Simone Biles, devido às altas habilidades e apresentações inesquecíveis marcadas por referências ao seu início e inspirações por meio da música “Baile de Favela” e canções de Beyoncè, bem como acrobacias com suntuosos níveis de dificuldade. Entretanto, ela sempre manteve o foco em si mesma e afirmava que questões pessoais a influenciam mais.

“Não é sobre vencer a Simone Biles, é sobre vencer a mim mesma, a briga está na minha cabeça, no meu corpo. A gente se incentiva, quer dar o máximo, a briga é sempre comigo mesmo.”

Sua valorização às raízes, força para o enfrentamento de múltiplas lesões e o desejo de se superar e inspirar gerações fazem dela uma atleta respeitada e tida como uma das maiores do Brasil.

Alice D’Amato (ITA):

A Europa também marcou presença na ginástica artística no aparelho mais desafiador: a trave de equilíbrio, com seus 10cm de largura. A italiana Alice D’Amato ouviu o hino de seu país ser tocado e sua bandeira ser hasteada na mais alta posição.

D’Amato se desenvolveu na ginástica juntamente a sua irmã gêmea, Asia D’Amato, participando de torneios na Itália e alcançando o seu primeiro lugar, mesmo com lesões durante quase todo o ano, em 2016 durante o “Italian Event Championships” nas barras assimétricas.

Ela acumula, aos 21 anos, seis medalhas de ouro entre campeonatos europeus, mediterrâneos e Olimpíadas, além de ser a primeira italiana a ganhar uma medalha nas barras assimétricas em um campeonato europeu em 2019. Sua primeira prata ocorreu no mesmo aparelho em 2022 no Campeonato Europeu de Ginástica Artística Europeu Feminino ocorrido em Munique, Alemanha. E seu primeiro ouro individual foi em Paris 2024 (dessa vez na trave).

Kaylia Nemour (DZA):

E para finalizar a participação feminina na ginástica artística em Paris, a medalha dourada brilhou no peito da argelina Kaylia Nemour nas barras paralelas assimétricas, representando a primeira medalha do continente africano no aparelho, bem como a melhora de seu resultado no mundial de 2023, derrotando quem a havia derrubado.

Suas primeiras medalhas foram conquistadas em 2022 no Campeonato Árabe, quando também estreou como atleta representante da Argélia – até então, ela competia como francesa. Nesse evento, ela pôde voltar para casa com dois ouros (por equipe e barras assimétricas) e uma prata (na trave de equilíbrio).

A partir desse momento, Nemour foi conquistando cada vez mais espaço dentro e fora da África e, em 2023, conseguiu adicionar um movimento no Código de Pontuação da ginástica, o “stalder na barra para Tkatchev alongado” que, por causa de sua impecável execução dele no Campeonato Africano, hoje, leva o sobrenome da atleta como denominação. (Biles está ganhando cada vez mais concorrentes, não?)

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Carlos Edriel Yulo (FIL):

Apesar de as Olimpíadas de Paris terem sido marcadas pelo protagonismo feminino, os homens também brilharam, sendo o filipino Carlos Edriel Yulo um deles, ao conquistar duas medalhas de ouro pela ginástica artística. Os pódios ocorreram pelas modalidades de salto e solo.

Assim como Nemour, Yulo é um dos atletas pioneiros na conquista de medalhas para a sua nação em Jogos Olímpicos e campeonatos internacionais. Com 24 anos, possui uma coleção composta por mais de 30 medalhas nas mais diversas competições de ginástica.

Sua carreira se iniciou em um playground aos sete anos, quando seu pai o viu fazendo algumas acrobacias e decidiu levá-lo para treinar na Associação de Ginástica Filipina. Em 2016, ele teve a oportunidade de ir treinar na Associação Olímpica Japonesa por meio de um programa acadêmico, podendo se especializar ainda mais no esporte, bem como nos estudos.

O ano de 2017 ficou marcado na cabeça de Yulo, devido algumas lesões que sofreu enquanto treinava para sua apresentação de solo no Campeonato Asiático Junior, comprometendo parte das suas participações nesse evento e durante sua preparação para a Competição Internacional Junior. Entretanto, no ano seguinte alcançou seu primeiro bronze em Doha (Catar), seguido pelo ouro em Stuttgart (Alemanha) em 2019 e a prata em 2021 na cidade de Kitakyushu (Japão).

Yulo foi conquistando seu lugar nos rankings mundiais aos poucos e com o apoio e financiamento de instituições de ensino sempre, demonstrando a importância da educação e do investimento na vida de qualquer atleta, pois apenas assim, ele conseguiu mudar o rumo de sua história e da de seu país.

Shinnosuke Oka (JAP):

A seleção que mais deu dor de cabeça para os brasileiros nesses Jogos também teve seu lugar no pódio com três medalhas de ouro, na barra fixa, por equipes e no individual geral, bem como um bronze nas barras fixas.

Oka é estreante em competições de elite a nível internacional, mas deu início a sua carreira quando tinha apenas quatro anos. Com 16 anos, ele teve de se mudar de Okayama a Kamakura no Japão a fim de treinar no Tokushukai Gymnastics Club.

“Eu estava determinado a ter sucesso na ginástica. Os primeiros seis meses foram difíceis. Meus pais sempre me apoiaram quando eu estava em Okayama, mas quando me mudei para longe da família, tive que me virar sozinho.”

Jingyuan Zou (CHI) e Liu Yang (CHI):

O ouro nas barras paralelas e nas argolas foi conquistado pela China, com notas de 16.200 e 15.300 pontos, respectivamente.

Com esses resultados, Zou se torna bicampeão olímpico, confirmando sua dedicação iniciada aos quatro anos de idade. Além disso, a primeira medalha conquistada pelo atleta foi um ouro no Campeonato Mundial de Ginástica Artística de 2017 em Montreal, Canadá, o que resultou também em um favoritismo mundial, uma vez que de 12 medalhas na carreira, nove são douradas.

Yang, por sua vez, iniciou sua carreira aos cinco anos de idade e, em 2012 foi selecionado para a equipe nacional de ginástica da China. Durante a carreira, ele sofreu com muita pressão e expectativa mundial sobre seus resultados, em especial nas argolas (tradição medalhista chinesa). Suas principais medalhas são nessa modalidade, entretanto, cometeu falhas no  Campeonato Mundial de Ginástica Artística de 2013  e nos Jogos Rio 2016, o que ocasionou críticas e o seguinte depoimento:

“Não chorei porque não havia nada do que me arrepender. Não competi bem, então chorei demais! Se eu jogasse sozinho ok, então talvez eu pudesse chorar.”

Rhys McClenaghan (IRL):

Por fim, a Irlanda viu sua bandeira ser hasteada devido ao excelente desempenho no aparelho de cavalo com alças. McClenaghan tem o cavalo como especialidade, sendo o primeiro ginasta campeão em contextos olímpicos, mundiais e europeus em um único aparelho.

Nos Jogos de Commonwealth, ele foi o primeiro ginasta irlandês a levar o símbolo do mais alto degrau do pódio para casa. Na ginástica rítmica e de trampolim, por outro lado, a Europa brilhou majoritariamente.

Darja Varfolomeev (ALE): 

Na rítmica individual, Varfolomeev levou o ouro. Em sua estreia olímpica aos 17 anos, é uma ginasta russa que, ao viver na Alemanha, compete por esse país e ascendeu ao topo do pódio no ano passado nos Mundiais ocorridos em Valência, na Espanha.

Entretanto, apesar da pouca idade, Varfolomeev já passou por uma cirurgia no pé no ano retrasado, comprometendo sua competição no Torneio de Fellbach-Schmiden, na Alemanha, porém levou o ouro nos dois aparelhos em que participou.

Bryony Page (UK) e Ivan Litvinovich (AIN – Atletas Individuais Neutros): 

A modalidade de trampolim, implementada nos Jogos de Sydney, Austrália, proporcionou medalhas de ouro para Bryony Page e Ivan Litvinovich (Belarus) – o qual competiu com a bandeira neutra (AIN – Atletas Individuais Neutros) devido aos conflitos contemporâneos entre Rússia e Ucrânia.

Page competiu pela primeira vez no Rio de Janeiro em 2016, porém estava preparada para fazê-lo em 2012, em Londres, mas por motivo de doenças e lesões, não pôde. Dessa forma, a história da atleta é marcada pela presença da persistência e desejo de superação, já que desde que iniciou sua participação em Olimpíadas ganhou prata, bronze e ouro, nessa ordem.

Litvinovich, nesses Jogos adicionou a sua coleção o ouro parisiense juntamente com a mesma medalha olímpica japonesa e a prata no Campeonato de Trampolim de 2019, porém, dessa vez, não pôde ouvir o hino de sua nação, nem ver a sua bandeira no alto.

“Assinei que esporte está fora da política, eu sempre apoiei isso. O que acontece, acontece. Isso não me toca, isso não me atingiu”.

Editado por Ronaldo Saez

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