A slow fashion quer ser uma nova maneira de se consumir moda
Movimento mais consciente e que incentiva a fabricação de um produto em escala local e em pequena quantidade, a slow fashion valoriza o trabalho artesanal e artigos com maior vida útil. Essa é uma corrente que vem ganhando terreno desde a crise financeira global, em 2008, atenta às consequências ambientais e sociais que o consumo desenfreado pode causar.
A slow fashion se opõe a outra vertente de produção, que surgiu com a crise mundial na década de 1970, como uma maneira de manter a economia estável: a fast fashion. Esse estilo de produção consiste no oposto, ou seja, na fabricação em larga escala de roupas que estão sempre respondendo às tendências do mercado, renovando-se constantemente e desenvolvendo novas coleções diversas vezes ao ano. Por se tratar de um modelo que visa o lucro, questões como a procedência de materiais, mão de obra, descarte, impactos sociais e ambientais são deixadas de lado muitas vezes.
Segundo a Forbes, o poliéster por exemplo é a fibra mais utilizada na fast fashion atualmente. O tecido consome aproximadamente 70 milhões de barris de petróleo para a sua produção anual e demora mais de 200 anos para se decompor no meio ambiente. Já outra fibra artificial também usada na fast fashion, a viscose, que tem como matéria prima a celulose, requer a derrubada de quase 60 milhões de árvores por ano. Por sua vez, o algodão utiliza em seu plantio 24% de todos os inseticidas usados no mundo e 11% dos pesticidas.
Junto à slow fashion, outros modelos de produção estão revolucionando o mundo têxtil ao tentar redefinir os processos de fabricação. A moda ética, por exemplo, aposta numa produção que respeite os limites éticos tanto de um humano para outro quanto do homem para um animal. Ela adota costumes como o veganismo, a doação de lucros para caridade e a remuneração justa entre os funcionários. Já a moda consciente parte do princípio de que só se comprará alguma peça nova quando for realmente necessário, dando valor à troca, ao garimpo em lojas de usados e também à própria manufatura.
Maira Gleizer, sócia da boutique Goiaba Urbana, em Pinheiros, acredita que uma marca que se diz cem por cento sustentável está mentindo. “A sustentabilidade, na verdade, acontece nas marcas que trazem esse diálogo e essa transparência sobre os seus problemas e o que estão fazendo para ficarem melhores”, explica.
Mesmo se tratando de um movimento que tem chamado atenção e reúne um número considerável de defensores nos últimos anos, a slow fashion está longe de se tornar um padrão de consumo. O maior problema que ela enfrenta está relacionado à acessibilidade. Esse modelo de produção ainda não permite que as peças produzidas tenham um custo baixo no mercado. “A mão de obra e o tecido são caros, mas na teoria é um valor justo por tudo isso, o que torna o movimento bastante elitizado”, comenta a estudante de moda da Faculdade Santa Marcelina, Ana Carolina Stauch. É um processo que preza todo o desenvolvimento da peça, que verifica desde a compra do tecido até quanto ele dura, quem irá produzi-lo.
Justamente pela questão do preço das lojas de slow fashion, que variam de 200 a 400 reais em uma blusa, por exemplo, comprar em brechós se torna cada vez mais comum. Os adeptos do movimento consciente de consumo, apesar de não terem acesso às marcas de produção sustentável em alguns casos, veem nos brechós uma maneira mais barata de comprar. A estudante Giuliana Purchio se considera uma ávida compradora de brechós. Depois de ler uma notícia sobre trabalho escravo na loja americana Forever 21, conscientizou-se sobre seus hábitos de consumo e resolveu mudar. “Aí eu comecei a olhar o meu comportamento de um jeito diferente, comecei a me sentir mal pelas roupas que eu já tinha comprado”, relembra a jovem.
A slow fashion é uma alternativa entre uma moda extremamente barata e uma de grife, que prioriza a procedência de cada peça. Muito além da compra de roupas, o movimento está baseado em uma onda cultural que dá importância à sustentabilidade, ao trabalhador e à produção de uma maneira geral. Fugindo da concepção varejista, quer ser cada vez mais consciente.