O Museu do Seringal Vila Paraíso resgata alguns dos acontecimentos dos trabalhadores locais e da economia da borracha em Manaus
O turismo de Manaus, apesar de pouco divulgado, apresenta ótimos passeios que proporcionam uma visão mais ampla daquilo que antes só se via pela TV ou em livros de História e Geografia. A cidade conta com um rico centro histórico, cujo ponto mais conhecido é o Teatro Amazonas. Também é possível visitar a Igreja Nossa Senhora da Conceição, localizada em frente ao porto de onde saem os barcos que levam os turistas mais aventureiros a conhecer de perto as maravilhas do Rio Negro, e o Largo São Sebastião, em que foi construído um monumento dedicado à Abertura dos Portos às Nações Amigas, decreto de 1808, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal.
Se hoje Manaus conta com tantos passeios históricos é porque teve uma grande importância econômica durante o período da borracha. É justamente sobre esse momento histórico e essa atividade típica da região que trata o Museu do Seringal Vila Paraíso, a cerca de 20 quilômetros em linha reta do Centro, mas a quase 90 quilômetros por estrada. Chegar até o local exige pegar um barco que leva tanto turistas como moradores a vários pontos, entre eles comunidades rurais e praias de rio.
O espaço do museu é na verdade o cenário usado para o filme “A selva”, de 2002, inspirado no livro homônimo de Ferreira de Castro. Porém, é uma representação fiel do seringal original localizado no município de Humaitá. A visita guiada começa na casa do barão da borracha, repleta de móveis e decorações luxuosos vindos do mundo todo, como um relógio de maquinário suíço e um piano alemão de 1911. Dentro da casa, o passeio atravessa a cozinha, o quarto de Dona Iaiá, esposa do gerente local, e também o quarto de hóspedes que na época era ocupado por Alberto, português que trabalhava na contabilidade do local. Todos os cômodos trazem inúmeros objetos cheios de história e cultura. Os detalhes e curiosidades da história do seringal são passados aos visitantes durante a visita guiada assim como a história contada no filme.
O espaço conta também com uma pequena capela, onde era dada uma festa no dia 8 de julho de cada ano na época do funcionamento do seringal. A comida e a bebida consumidas eram anotadas e cobradas de todos os trabalhadores, inclusive aqueles que não compareceram. Além da festa, o coronel convidava um amigo que se passava por padre, os trabalhadores confessavam e isso era anotado e levado direto ao coronel. Os seringueiros que tinham saldo positivo podiam sair do lugar. No meio do caminho, homens contratados esperavam e matavam os recém-libertos, jogando seus corpos no rio. Tudo isso para manter em segredo o que acontecia no local.
Saindo da casa, o tour continua no barracão de suprimentos, onde os seringueiros compravam principalmente comida e seus instrumentos de trabalho, não podendo adquirir nada que não fosse vendido pelo barão e contraindo dívidas quase impossíveis de serem pagas. A pouca diversidade de alimentos disponíveis acarretava diversas doenças entre os trabalhadores, como o beribéri, causada pela carência de vitamina B1. Ainda no barracão, encontra-se de perto as ferramentas de trabalho e a borracha feita pelos seringueiros.
Após a visita ao barracão, a guia turística leva o grupo a uma seringueira. Ali, ela mostra como era extraída a seiva da árvore. A partir disso, segue-se uma pequena trilha, onde é apresentado todo o processo de fabricação da borracha em si, que levava em média uma semana. Os trabalhadores do local dormiam em pequenas casas de madeira no meio da mata, ambiente propício para o desenvolvimento de doenças e ataques de onças e índios. O coronel, visando a defesa do seu seringal, prometia créditos ao trabalhador que matasse mais índios e levasse as orelhas até ele. Era uma guerra entre índios e seringueiros, mas o único beneficiado era o barão da borracha.
A visita termina na casa de banho da Dona Iaiá, que possui apenas uma banheira, mas é cenário importante para o desenvolvimento do enredo de “A selva”. Todo o trajeto pelo museu dura cerca de meia hora e os guias do passeio são bem informados tanto sobre a história local quanto sobre o período da borracha. Após a visita, os turistas aguardam a lancha que os levará de volta a Manaus.
Aprender mais sobre a Amazônia, a vida levada pelos seringueiros dali e a floresta de perto são alguns dos benefícios da visita. O próprio caminho para chegar ao museu também permite uma visão breve das comunidades rurais do Amazonas. É uma experiência imperdível e que poucas pessoas têm conhecimento, que vale a pena a visita.