Peça abordará o final da vida do compositor russo Tchaikovsky com tons de humor, reflexões e música
No dia 05 de setembro de 2018, ocorreu a primeira interação entre público e roteiro com a leitura dramática da peça Tchaikovsky: Tudo o Que o Mar Carrega, escrita pelo dramaturgo Flávio Ermírio de Moraes. O evento se deu no auditório do Museu de Arte de São Paulo (MASP), com direito à uma introdução musical executada pelo pianista André Mehmari.
O espetáculo ainda está na fase de pré-produção e possui previsão de lançamento para 2019. Além disso, já tem atores e diretor definidos. Aimar Labaki terá a responsabilidade de dirigir os artistas Adriana Londoño (Violeta), Carlos Palma (Czar), Luciano Chirolli (Tchaikovsky), Rafael Primot (Alex Romanov) e Theodoro Cochrane (Bob).
A história fantasiosa retrata o final de vida do compositor russo Piotr Ilych Tchaikovsky, no ano de 1893. Em seus últimos dias, ele esteve focado na finalização e ensaios de sua última composição, a Sexta Sinfonia. Curiosamente, veio a falecer nove dias após conduzir sua composição pela primeira vez. No enredo, a homossexualidade do compositor entra em choque com sua vida pública, acontecimento que pode ter influenciado sua morte tão repentina.
O tema melancólico é abordado de uma maneira levemente inusitada. Apesar de momentos densos, a produção conta com cenas cômicas, vindas principalmente da relação entre os personagens Bob e Tchaikovsky. Na trama, Bob é sobrinho do compositor russo e, em diversos momentos, é utilizado como uma ligação com o presente, pois sua jovialidade é representada com elementos do Século XXI.
No roteiro da peça, Tchaikovsky teve que aceitar as ordens do Czar, e receber em sua orquestra o violinista Alex Romanov, familiar do líder de estado russo. Apesar do descontentamento de Pyotr e sua assistente Violeta, o jovem se mostrou extremamente proficiente em seu instrumento, e eventualmente roubou a atenção que pertencia a Bob.
Aimar Labaki, diretor da leitura, reforça a importância de traduzir o texto para o palco e passar a mensagem poética ao espectador. “O objetivo de uma leitura dramática é fazer com que se entenda a estrutura e a poesia do texto”, explica o diretor.
O compositor André Mehmari, será responsável por produzir a trilha musical a ser tocada ao vivo durante cerca de 80 minutos. Ele revelou que pretende utilizar temas musicais de Tchaikovsky em sua própria composição. Seu objetivo é conectar o ouvinte ao universo da peça. “Vou fazer uma livre fantasia sobre os temas da [sexta] sinfonia. Sinto uma responsabilidade boa ao trabalhar com o material do compositor, mas estou muito velho para ter medo”, afirma.
Theodoro Cochrane é o responsável por dar vida a Bob nos palcos e mostra animação com a tarefa. “Estou com uma expectativa grande, adorei essa ideia de ter uma orquestra acompanhando o espetáculo. Tinha que ser, afinal, é Tchaikovsky!”. Também expressou sua identificação com o personagem que interpreta, já que o ator é também DJ e o personagem que interpreta é um precursor de novas tecnologias musicais.
O intérprete do personagem principal, Luciano Chirolli, discorre sobre pontos importantes a respeito do artista. “Estamos falando de um personagem [Tchaikovsky] que é mantido pelo poder, por isso necessitava manter sua vida privada bem escondida. O compositor não possuía liberdade, pois dependia de uma aprovação do regime em que vivia, e sua opção sexual o comprometia”, afirma Chirolli. Já que homossexualidade na Rússia foi descriminalizada somente em 1993 e ainda hoje a população LGBT encontra forte repressão no país.
Discutir a figura de Tchaikovsky é extremamente importante e conivente dentro de um país onde as discussões sobre sexualidade e exposição da vida privada estão em alta. A peça terá um grande impacto dentro do ambiente de debate, e se mostra como uma das grandes promessas do teatro brasileiro em 2019. A equipe da produção espera que o espetáculo abra ao público geral durante o mês de março, com uma temporada na cidade de São Paulo.