O Instituto Luisa Mell não quer apenas resgatar animais, mas salvar vidas
Marina Zatz de Camargo Zabrowsky ficou conhecida pelo seu nome artístico Luisa Mell. A jovem é uma ativista e apresentadora formada em Direito e Artes Cênicas, que conquistou a fama por militar a favor dos direitos dos animais no Brasil. Em fevereiro de 2015, foi responsável por fundar o Instituto Luisa Mell (ILM), que atua no resgate de animais em situações de risco ou feridos, além de sua recuperação e adoção responsável. O ILM mantém cerca de 300 animais entre cães, gatos, cavalos, porcos e até mesmo cabras, que são cuidados graças a doações que o instituto recebe – em sua maioria, de pessoas físicas. Todas as despesas e contas são públicas e podem ser consultadas.
“O Instituto é pensado para os animais como um local transitório. Gostaríamos de vê-los em uma casa, inseridos em um lar com amor”, explica Mell, que ocupa o cargo de presidência do ILM e é autora de dois livros que envolvem a temática animal: Poemas que latem ao coração (2009) e Como os animais salvaram minha vida (2018).
Em visita ao Instituto Luisa Mell, a fundadora revelou informações sobre o trabalho do ILM e sobre adoção responsável.
ESQUINAS Como você descreveria a estrutura do Instituto?
Ele foi construído onde antigamente era uma “casa de fim de semana” e sua estrutura original foi modificada completamente. Tudo foi reformado e construído em prol daqui. O terreno é grande, tem quase 30 mil metros quadrados, com algumas áreas de preservação que não podem ser modificadas.
ESQUINAS Diariamente, vocês recebem muitos pedidos de ajuda e resgate de animais. Como fazem para selecionar os casos?
O volume de e-mails com pedidos de resgate é gigantesco, às vezes com fotos horrorosas. Há pessoas que mandam fotos, mas não enviam o endereço nem o telefone do local onde o animal se encontra. Aí você fica com aquela imagem na cabeça e pensa “meu Deus, e agora?”. Por conta dessa quantidade, primeiro sempre fazemos uma triagem, que ajuda a separar as mensagens de pessoas que querem adotar daquelas que são denúncias.
Em relação aos resgates, priorizamos os casos mais graves. Muitos mandam casos de animais de rua, mas que não estão em situação de risco ou que já são cuidados pela vizinhança, foram castrados e estão relativamente bem. Nós damos prioridade, por exemplo, ao caso daquele cachorro que está no meio do nada, atropelado, com fratura exposta, com bicheira. Infelizmente temos que fazer isso porque o espaço é limitado.
ESQUINAS E uma vez aqui dentro, para onde os animais vão?
Temos duas áreas de soltura. Os filhotes vão para as feiras de adoção, já castrados e vacinados. O instituto é pensado para eles como um local transitório. Gostaríamos de ver esses animais em uma casa, inseridos em um lar com amor. É tirá-los de uma situação de risco, cuidar, para que eles possam ser adotados. O centro nervoso do nosso trabalho é a adoção responsável.
ESQUINAS Para adotar os animais especiais, vocês utilizam os mesmos critérios de uma adoção convencional ou é mais rígido?
Os critérios são um pouco mais rígidos. Nós analisamos a condição financeira em todos os casos, mas isso não é o mais determinante. Já recebemos pessoas que esbanjavam ter uma condição financeira fartíssima, mas que não estavam nem aí para o cão que tinham acabado de adotar. A maioria delas adota e depois vem devolver o animal sob a justificativa de que estavam tendo muitos gastos. Em contrapartida, há muitas pessoas simples, mas que têm responsabilidade para cuidar dos animais. Elas têm um trabalho fixo e reservam um valor para gastar com o animal de acordo com a necessidade. É isso que procuramos analisar nas pessoas que querem adotar.
ESQUINAS Imagino que faz parte do trabalho do ILM um acompanhamento do animal depois da adoção, certo?
Sim, inclusive temos o caso de uma adotante que desistiu de cuidar de um cão que ela adotou e devolveu o animal para rua. Por sorte, tomamos conhecimento por meio de denúncias e conseguimos recuperar o animal.
Alguns canis [são 17 para cachorros e dois para gatos] estão com mais cães do que outros porque, se retirarmos um cachorro de um determinado canil e o colocarmos em outro, ele briga com os outros animais. Muitas pessoas que adotam animais já têm outros cães ou gatos em casa. Então, além da revitalização física, um de nossos trabalhos é a revitalização emocional, que às vezes demora mais tempo.
ESQUINAS Nos trabalhos aqui dentro, vocês tomam quais precauções com os animais?
Tomamos todos os cuidados necessários. Nessa água tem germicidas para que os cães não se contaminem quando o cuidador muda de um canil para o outro, mesmo que todos os animais sejam vacinados. É algo importante a se tomar. Todos os funcionários utilizam um Crocs azul marinho, para cuidar dos animais na área externa, e um branco, para utilizarem dentro da clínica.
ESQUINAS Como vocês conseguem lidar com o temperamento de alguns cães? Se algum animal chega aqui muito agressivo, como a equipe lida com ele?
Geralmente os veterinários sabem o que fazer e os tratadores têm um treinamento especial para lidar com esse tipo de animal. Quando, mesmo assim, o comportamento do cachorro continua agressivo, aí precisamos sedá-lo para manuseá-lo, principalmente se ele precisa receber algum medicamento. Além dos agressivos, os mais difíceis de serem adotados são os cães mais velhos, de porte grande e de pelos pretos.
ESQUINAS Por curiosidade, é verdade que vocês não doam animais pretos perto de datas como sexta-feira 13 ou Halloween?
O cuidado é maior. A pessoa passa por uma entrevista ainda assim. Temos uma série de técnicas para entrevistá-la, sem a pessoa perceber o que está acontecendo. Mas se chega alguém aqui em uma quarta-feira, dia 11, e faz questão que seja um animal preto, com urgência, nós desconfiamos.
ESQUINAS Sobre os funcionários daqui, são todos voluntários ou há exceções?
Todos nós da parte administrativa somos voluntários, mas há funcionários remunerados, sim. Eles são os veterinários, tratadores, jardineiros, o pessoal que realiza obras para nós – que é terceirizado por sinal. Eles todos são pagos por meio de doações. Vivemos só disso, por parte de pessoas físicas e de algumas empresas que ajudam com produtos específicos ou parcerias. Até algum tempo atrás, tínhamos uma certificação que ONGs têm para que possam receber isenções fiscais. Hoje em dia parece que não funciona mais assim. Órgãos públicos não fazem nada. Mas nós somos apolíticos, não defendemos um partido, defendemos uma causa. Nossa causa é a animal.