Repórteres de ESQUINAS estiveram na Conferência do Clima da ONU, na Polônia, e trazem um panorama geral do evento
Aproximadamente sete milhões de pessoas morrem por ano devido à poluição. Os pequenos países insulares do Pacífico são os que menos emitem gases poluentes no mundo, mas os mais afetados pelas mudanças climáticas. Mesmo se forem cumpridas todas as medidas estabelecidas no Acordo de Paris, de 2015, não será o suficiente para salvar o planeta do impacto humano. Esses assuntos foram alguns dos muitos que permearam as discussões na Conferência do Clima da ONU (COP 24), realizada em Katowice, na Polônia.
O evento ocorre anualmente desde 1995 e tem como intuito debater assuntos relacionados às mudanças climáticas, preservação ambiental e seus impactos na vida humana ao redor de todo o globo. Na edição de 2018, a Conferência teve 195 países confirmados e mais de 23 mil pessoas e 1600 jornalistas dos mais diversos países estiveram presentes. Tudo isso em uma área de 20 mil metros quadrados, em estrutura preparada especialmente para o evento.
O berço da COP foi o Brasil. As reuniões anuais tiveram início após a Rio-92 – também chamada de Eco-92 e Cúpula da Terra –, na qual as questões climáticas foram debatidas por 172 países e tiveram repercussões globais. Após três anos desse encontro, realizou-se em Berlim, na Alemanha, a primeira COP. Entretanto, os êxitos das Conferências das Partes, como também é conhecida, só chegariam dois anos depois, com o Protocolo de Kyoto e, posteriormente, com o Acordo de Paris, que pauta as resoluções ambientais de cada país atualmente.
A COP 24 aconteceu em um pavilhão que continha estandes de países dos cinco continentes. Em cada um, foram realizados eventos e palestras com convidados relevantes em temas que tratavam sobre o impacto das mudanças climáticas em suas respectivas regiões. Um exemplo foi o expositor do Brasil, que trouxe mulheres indígenas, instituições reconhecidas internacionalmente – como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a ONG Observatório do Clima – e faculdades brasileiras para discutir o que ocorre no País no que se trata de meio ambiente.
Sônia Guajajara, líder indígena e primeira mulher a participar de uma chapa presidencial no Brasil, era uma das convidadas e acredita que a participação na COP é importante. “Não dá mais para termos mediador e deixarmos os governos falarem por nós. Precisamos trazer essa representatividade enquanto povos indígenas”, disse Guajajara. Ironicamente, a COP 25 estava sendo negociada para ocorrer em território brasileiro, no território de Foz do Iguaçu, mas o presidente eleito Jair Bolsonaro retirou a possibilidade de o Brasil sediar a Conferência da ONU. Para a líder indígena, a eleição do membro do PSL pode ser negativa para questões de meio ambiente. “A gente está em um momento muito tenso no Brasil. Bolsonaro traz uma agenda destrutiva em relação aos direitos humanos, direitos ambientais e o reconhecimento da diversidade. Essa valorização da diversidade fica totalmente ameaçada”, explica a ativista.
Para além do pavilhão, durante os 15 dias que duraram o evento, ocorreram negociações com representantes de cada país que participaram na COP, como ministros do meio ambiente, embaixadores, diplomatas e governadores. Essas discussões se passaram em salas fechadas e foi a partir delas que os objetivos do que se espera para o futuro do meio ambiente e as condutas que cada país trilhará foram traçados. As resoluções estabelecidas ainda não foram totalmente conclusivas. Os resultados parciais ainda não foram divulgados ao mundo.
No decorrer das duas semanas da Conferência, empresários, iniciativas privadas e da sociedade civil tiveram um local para mostrar o desenvolvimento de seus projetos. Como exemplo, tem-se a Bnpetro, empresa brasileira que transforma lixo em biocombustíveis, ou então os indígenas da Bacia Amazônica que defendem as demarcações de seus territórios ancestrais para a preservação da floresta e combate às mudanças climáticas. Alguns foram premiados, outros procuravam por investimentos, mas todos utilizaram do espaço para divulgação.
Para alguns a COP 24 foi positiva. Para outros, nem tanto. André Ferretti, coordenador geral do Observatório do Clima, avalia o posicionamento dos países como menos ativos do que em outros anos, inclusive nações que costumavam ser importantes atores nas discussões, como França, Alemanha e até mesmo o Brasil. “A gente vê o Brasil diminuindo o seu protagonismo. Falta uma liderança e isso se reflete nas negociações”, opina.
Com a saída brasileira da COP, a probabilidade é que o evento aconteça no Chile no próximo ano. Enquanto se espera por certezas, só resta manter a atenção para ver se os países estão se comprometendo ou não em seguir as metas e objetivos do Acordo de Paris, mostrando-se conscientes ambientalmente.