A equipe de ESQUINAS seleciona 26 lugares, personalidades e fatos da cidade
Um ano após o lançamento do site de ESQUINAS, seu time traz 26 “paulistanices” de A a Z do que acontece na cidade que nunca para. Entre comes e bebes, festas e baladas, problemas e disparidades, a capital paulista mostra sua diversidade cultural e social com seus lugares, suas personalidades e acontecimentos do dia a dia. São mais de 11,2 milhões de pessoas, a maior cidade do País. Movimenta 57 mil reais de PIB por indivíduo. É centro de referência cultural, gastronômica, educacional, econômica. São Paulo é plural, e ESQUINAS – de nascença – é São Paulo.
Al Janiah
Antes de se instalar no Bixiga, este gastrobar árabe – que é um dos mais instigantes da cidade – ficava no Anhangabaú. Depois da degradação promovida por um quebra-pau entre manifestantes e policiais, o Al Janiah foi para a Rua Rui Barbosa, 269 e tornou-se ponto obrigatório para o público mais politizado que quer se reunir para discutir, assistir a shows de artistas independentes ou comer e beber a preços acessíveis.
Breve
Localizada na Pompeia, a Breve é um espaço cultural que recebe shows na cidade. Apoiadora do circuito independente urbano, é a junção da Neu (casa noturna que ocupava o sobrado) e a gravadora Balaclava Records (responsável por produzir álbuns e eventos). A Balaclava já trouxe ao Brasil bandas como Mac Demarco, Future Islands, Sun Kil Moon e Beach Fossils. É no ambiente escuro e intimista da Breve que rolam shows doidos, lançamentos de publicações independentes e um caldeirão de novidades culturais.
Cinemateca Brasileira
Idealizada e construída pela paixão e pela energia, sobretudo, do estudioso de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, encontra-se desde 1992 no antigo matadouro municipal da Vila Mariana e é um dos lugares mais importantes para a preservação e o estudo do audiovisual brasileiro. No entanto, o descaso do Estado para com ele, em tempos em que o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro já foi apagado de nossa memória, deixa quem se importa com a cultura no País em estado de alerta. O centro, cujo acervo é majoritariamente composto por um material altamente inflamável – o nitrato da película –, já sofreu algum par de incêndios.
Decadência
São Paulo não é toda decadência, mas ainda é. Seja nos cinemas pornôs espalhados pelo Centro, nos bares já sem charme, como o Brahma na esquina da Ipiranga com a São João, na degradação das construções históricas, seja no capital que circula pelos prédios espelhados da Faria Lima e da Paulista e esmaga de “modernidade” o concreto na história da cidade.
Escadaria do Bixiga
Com 90 anos de existência, a Escadaria do Bixiga foi construída sob a gestão do prefeito José Pires do Rio. São mais de 80 degraus e 16 metros e altura. A escadaria liga a Rua Treze de Maio com o Morro dos Ingleses e outras partes históricas do bairro italiano – como o Museu dos Óculos Gioconda Giannini, o da Memória do Bixiga e o Teatro Ruth Escobar. Em 2006, a escadaria passou por reformas e foi tombada como patrimônio histórico. Mensalmente, recebe apresentações de jazz e blues.
Fazendas urbanas
Por incrível que pareça, parques e praças não são as únicas áreas verdes em São Paulo. No meio da selva de pedras paulistas, é possível encontrar plantações que seguem diferentes modelos de agricultura urbana. Em São Mateus, extremo leste da cidade, debaixo de fios de transmissão da rede elétrica, agricultores familiares utilizam o espaço para cultivar verduras, legumes, ervas e temperos variados. Também na mesma região, a ONG Cidades sem Fome utiliza o mesmo tipo de terreno para a produção de hortaliças orgânicas, gerando alimentos de qualidade e empregabilidade para os moradores do entorno.
Gentrificação
O conceito foi criado na Inglaterra pela socióloga Ruth Glass. A gentrificação trata de fenômenos de desigualdade e segregação urbana. Funciona assim: um bairro central, inicialmente desvalorizado, passa por um processo de revitalização que aumenta sua especulação imobiliária, como consequência, os antigos moradores não podem mais permanecer no bairro pelos altos custos e ele é ocupado novamente. Há uma crescente discussão sobre se há ou não este processo em bairros como República, Santa Cecília e Vila Buarque e em ruas como a Augusta.
Hotel Cambridge
O problema de moradia é um dos mais expoentes na capital paulista. As habitações precárias se espalham do centro à periferia nas mais variadas formas, entre elas as ocupações. A região central é cheia delas, opções que não chegam perto de serem ideais, mas que é o possível para seus habitantes. Anteriormente ganharam destaque midiático com o desabamento no Largo Paissandu. Mas antes disso, o prédio que um dia foi o luxuoso Hotel Cambridge, na Avenida Nove de Julho, ganhou visibilidade nas telas de cinema pelo Brasil e exterior, jogando uma luz sobre os dilemas urbanísticos de São Paulo.
Igrejas modernosas
A religiosidade do povo brasileiro se faz presente por aí. Na maior cidade do País, isso não seria diferente: pelas ruas paulistanas localizam-se templos para sediar diferentes credos. Entre eles, as igrejas com tendências progressistas se multiplicam. Os evangélicos crescem em número, e suas igrejas atendem diferentes públicos. Não seguindo o senso comum sobre o conservadorismo, instituições como algumas Igrejas Batistas e a Igreja One acolhem, pelo menos em discurso, a todos e respeitam a diversidade.
JazzB
Curtir e relaxar, eis o mantra. O JazzB surge como uma resposta dionisíaca à correria paulistana. Boa música, boa comida e bom café, instalado no Centro de São Paulo, ao lado da Escola da Cidade. Há uma arquibancada em frente ao palco convidando os espectadores ao clima intimista e uma programação especial organizada pelo JazzNosFundos, clube localizado em Pinheiros, tradicional na capital paulista.
Kevin
Não é só de trabalho que vivem os paulistanos. A vida noturna da cidade é agitada como tudo nessa metrópole. As festas contemplam todos os públicos e estilos. Inclusive, há algumas que podem assustar mentes mais conservadoras. Um exemplo é a Kevin, evento para o público LGBT – majoritariamente gay – que rola na ZIG, balada no Centro de São Paulo, no qual o uso de roupas é opcional e existem ambientes especiais para relações sexuais.
Língua Portuguesa
O português é a língua oficial de nove países do globo terrestre. Sob a gestão tucana de Geraldo Alckmin, o Museu da Língua Portuguesa foi inaugurado em 2006. O centro interativo foi um dos mais visitados em toda a América Latina e enfrentou no fim de 2015 um incêndio de grandes proporções. Quase quatro anos fechado, há previsão de que o museu seja reaberto no segundo semestre deste ano.
MCs
Engana-se quem pensa que o funk é um ritmo exclusivamente carioca. A terra da garoa vem se destacando no mundo dos bailes e MCs. Certos expoentes do ritmo, como Livinho e Kevinho, são do estado de São Paulo. Suas canções estão presentes na capital (e no País) em festas de elite e bailes funks – que são muitos e cada vez maiores. Destaque para o Baile da 17 e o Baile da Marcone.
Nada
Já dizia a rainha do rock brasileiro, Rita Lee: “nada melhor do que não fazer nada”. O que fazer quando não queremos fazer algo, apenas relaxar? São Paulo dispõe de locais que são templos de calma em meio ao turbilhão caótico. Entre as dicas, estão Parque da Água Branca, Terraço do Centro Cultural São Paulo, Jardim Botânico, Pavilhão Japonês no Parque do Ibirapuera e Fundação Ema Klabin.
Ovo e Uva
Apesar de nascer do tipo de historinha gastronômica que paulistas adoram ouvir (no site deles: “Conta uma lenda paulistana que, num belo dia, um ovo encontrou uma uva no meio da rua, bem no coração de Pinheiros…”), esse agradável mix de empório, bar e rotisseria é ótimo para quem quer conferir um extenso cardápio de vinhos, acompanhado de petiscos de todos os tipos. Se puder, tire o escorpião do bolso e vá à Rua Mateus Grou, 286.
Peixaria Mitsugi
Um dos pontos para a galera mais hype da cidade é a Peixaria. Como o nome já denuncia, durante o dia é um restaurante de comidas orientais. À noite, aos fundos da galeria no bairro da Liberdade, o ambiente se transforma e é tomado por festas com ingressos em torno dos 20 reais, nas quais é possível pedir um drinque e uma porção de sashimi. Depois, basta se acabar na pista de dança.
Quintal
Elemento característico das casas brasileiras, o quintal sempre foi excluído das visões mais superficiais do espaço urbano. E hoje, com a sua crescente extinção associada à das casas térreas, muitos logo poderão nem imaginar para que alguém precisaria de um espaço livre na frente, nos fundos ou na lateral de sua moradia. Longe do olhar público, esses espaços parecem cada vez menos conversar com nossa cultura. Ainda assim, basta pensar na ironia da decisão de colocar Echo, a gigantesca escultura de Richard Serra, no quintal da Avenida Paulista.
Represa
“São Paulo não tem praia” não é uma frase que é necessariamente verdade. A Represa Guarapiranga, a aproximadamente duas horas do centro da metrópole, além de ser um dos reservatórios de água que abastece a cidade, é também um ponto de lazer. Para os mais abastados economicamente, é possível ter um barco ou jet ski e passear pelas águas. Para quem não tem toda essa grana, existe uma espécie de orla para dar um mergulho e aproveitar os restaurantes locais.
Sem tempo, irmão
Estresse, pressa e rapidez. Semáforos abrindo e fechando. Paulistanos correndo e ziguezagueando como insetos apressados. Ternos misturam-se com lookinhos hypes em uma corrida maluca sem fim. Falta paciência. A cidade nunca para. Sem tempo para o morador de rua, sem tempo para o garoto jovem de ONG, sem tempo para tudo. Esbarrou em mim? Sem tempo, irmão!
Transitar
Famoso desde que São Paulo é como a conhecemos, o trânsito é assunto dos mais estressantes – além de conversa de elevador. Se nunca antes foi tão fácil locomover-se pela cidade, com a variedade de opções (ônibus, metrô, ciclovias e agora aplicativos), os níveis de conforto e acessibilidade para quem mora no centro e quem mora na periferia permanecem quilométricos.
Um dia…
Em Ulisses, James Joyce provou que um dia na vida de uma pessoa pode render mais de mil páginas. São Paulo demonstra a toda hora que o dia parece nunca acabar. E essa jornada do homem moderno da metrópole, em que só o trabalho ultrapassa as oito horas (e o trânsito ocupa mais duas ou três; o mesmo vale para o sono), é atravessada por uma perspectiva que só nossa miopia alcança de prédios cada vez maiores – que jamais arranharão o céu –, promessas de rios navegáveis, drones e toda sorte de indivíduos trabalhando, sem regulação, para aplicativos internacionais. Seja como for, São Paulo não sairá de seus habitantes.
Viaduto
Balança, mas cai. A cidade de São Paulo possui cerca de 185 pontes e viadutos. Deste número, quase 92,5% não passaram por manutenção. Técnicos da Prefeitura já afirmaram que um colapso pode acontecer. Em março, o Ministério Público de São Paulo entrou com uma ação civil pública pedindo o fechamento de todas as pontes e viadutos da capital que estejam em situação de “grave risco”. As pontes da Casa Verde, Jânio Quadros, Bandeiras, Freguesia do Ó, Cruzeiro do Sul, Tatuapé, Dutra, Eusébio Matoso, Cidade Universitária, Cidade Jardim e os viadutos Gazeta do Ipiranga, Grande São Paulo, General Olímpio da Silveira, Miguel Mofarrej e Carlos Ferraci enfrentam situação emergencial. Quais serão os próximos episódios?
Wi-fi
Ninguém mais vive sem internet. Porém, para muitos dos brasileiros, pagar um plano de dados que dure o mês inteiro não é uma realidade. Dessa forma, depender do wi-fi é algo comum e o acesso à internet se torna um direito e privilégio ao mesmo tempo. Em São Paulo, existe a iniciativa de colocar pontos de internet sem fio em praças e ônibus, porém são poucos os espaços com essa tecnologia e nem todos os bairros possuem locais públicos com rede wireless.
Yas, Queen!
Não é de hoje que as drag queens animam a noite paulistana, mas é indiscutível que nos últimos anos esse entretenimento teve um boom. As antigas baladas e bares em que essas artistas costumavam performar ainda estão na região do Centro e possuem seu público. Entretanto, festas novas e de proporções maiores surgem e trazem inclusive queens conhecidas internacionalmente para fazerem shows.
Zé do Caixão
As unhas longuíssimas, a cartola e a capa preta do personagem, que se confunde com a pessoa de José Mojica Marins, podem parecer mera fantasia de carnaval para quem tem pesadelos com os super-efeitos fabricados por Hollywood. Hoje, se por um lado Mojica é um senhor debilitado de 83 anos, afastado das câmeras desde 2008, com o lançamento de Encarnação do Demônio; por outro, Zé do Caixão sobrevive em registro cinematográfico (e também em recente biografia e documentário de André Barcinski). Um mestre do terror e um “subversivo” para sua época – ímpar não só no cinema paulista, mas também nacional. Permita-se também, seja de qual geração você for, ter sua alma levada à meia-noite.