Confira abaixo uma lista de artistas LGBTs que vem ganhando destaque no mundo da música
No passado existiram artistas musicais LGBTs que alcançaram o estrelato, como por exemplo Fred Mercury, Cássia Eller e David Bowie. O tempo passa e atualmente a variedade de cantores que se identificam com essa comunidade cresce, mas infelizmente eles acabam sendo colocados dentro do guarda-chuva de “artistas queer”, o que faz com que muitos acabem não recebendo o reconhecimento do público no geral e fiquem retidos a ambientes e públicos de pessoas já familiares com as identidades não heterossexuais.
Pensando nisso, ESQUINAS traz nesta reportagem uma lista de artistas musicais que fazem parte da comunidade LGBT e não são tão conhecidos assim. Figuras internacionais e “brazucas” foram selecionadas para compor a postagem que vai do pop à MPB, para agradar a todos. Boa leitura e não esqueça de conferir o som das indicações.
Serpentwithfeet
Criado em Baltimore, nos Estados Unidos (EUA), Josiah Wise cresceu frequentando a igreja e a livraria cristã de seu pai. Nessa época, desenvolveu uma paixão por cantar no coral, já que ele apreciava a grandeza dos louvores. Essa parte de seu passado marca presença em suas músicas atuais, como na canção Cherubim. Seu primeiro EP Blisters, de 2016, e seu álbum Soil, de 2018, mostram claramente sua voz dramática e flexível, que transita entre a música clássica, R&B e a melancolia eclesiástica. Crescer queer dentro de um bairro negro e religioso foi sufocante, como diz em sua entrevista para a revista Fader, mas atualmente, sente-se perfeitamente confortável em sua pele, traduzindo para seu projeto seu amor por homens, seu interesse pelo ocultismo, o experimentalismo e a sua dedicação para criar suas próprias e únicas “gay love songs”.
MNEK
“Quero mostrar que um homem negro e gay pode fazer isso”, é o que Uzo “MNEK” Emenike afirma ser seu propósito como cantor, em entrevista para a Time Out London. O artista britânico de apenas 23 anos faz parte da indústria musical há 7 e compôs para inúmeros artistas como Madonna, Little Mix, Beyoncé e a banda coreana BTS. Seu sucesso como MNEK começou com Never Forget You, uma colaboração com Zara Larsson, em 2015. Na passado, lançou seu primeiro álbum intitulado Language, que mistura pop e R&B em suas 16 faixas. MNEK explica como é importante que personalidades negras sejam orgulhosas de suas identidades, já que podem servir de encorajamento e ajuda no processo de aceitação dos jovens que já sofrem na sociedade atual com o racismo. Em constante ascensão, o cantor quer ser um exemplo para sua comunidade de que sim, é possível ser afeminado, gay, negro e ter orgulho de todas esses pedaços que te formam.
Dorian Electra
Dorian Electra, artista não-binário texano, está abertamente expondo sua identidade e usando sua visibilidade para virar as noções de gênero de ponta cabeça. Seu visual, um mesclado de maquiagem, bigodes desenhados, vestidos, calças e cabelos pintados, se traduz para sua música, que mistura synths e sons eletrônicos por cima de sua voz fortemente editada, solidificando-se como potência dentro da PC Music e pop futurista. Man to Man, seu mais novo single, é uma crítica direta à masculinidade tóxica, característica valorizada enquanto a vulnerabilidade é vista como fraqueza. A letra traz um bom resumo da missão de Electra: “Are you man enough to open up?” (Você é homem o bastante para se abrir?).
Jaloo
Paraense, indígena e andrógino, Jaloo é um artista de um gênero completamente brasileiro, o tecnobrega, com uma afeição particular pelo pop. Apesar disso, fala que seu som está em constante transformação, desde seus dias de lançar músicas na internet, como ganhou reconhecimento, até hoje, com a preparação de seu segundo álbum. Seu primeiro projeto, o #1 de 2015, era bastante pautado nessa androginia que ele adotou para si, mas o novo Jaloo se encontra com uma masculinidade maior, querendo voltar à suas origens e explorando a época quando começava a se descobrir nesse aspecto. O cantor diz querer continuar o seu trânsito entre o masculino e feminino, orgulhoso de ser considerado um artista de militância e abraçando essa bandeira mesmo que não fale explicitamente sobre isso em suas músicas.
Davi
Parte do maior nome do tecnobrega brasileiro, a Banda Uó, Davi Sabbag começa a dar seus primeiros passos como artista solo. Adotou apenas o primeiro nome e lançou seu primeiro EP Quando, em novembro de 2018. O cantor em sua época com o grupo, que encerrou suas atividades ano passado, fez questão de se abrir como homem gay e defender a causa LGBT diretamente, protestando na eleição de 2018 contra Jair Bolsonaro e o apoiando Fernando Haddad. Na banda, Sabbag cantava ao lado de Candy Mel e Matheus Carrilho, mas agora como ato solo, ele se compromete com a honestidade total, mostrada nas cinco músicas de seu projeto. “Quando me vi solo e encontrei o momento de jogar limpo com vocês, me colocando vulnerável e livre”, relata na explicação sobre o título do EP.
Hayley Kiyoko
Hayley começou como atriz, atuando em filmes da franquia Scooby Doo, como Velma Dinkley, e em Lemonade Mouth, filme da Disney de 2011. Mas sempre teve a presença da música como uma constante em sua vida, escrevendo canções sobre suas crushes e inseguranças na época em que estava se descobrindo como lésbica. Ganhou reconhecimento em 2015 com o hit Girls Like Girls, a primeira música em que falava explicitamente sobre sua sexualidade, mesmo com receios próprios e de sua gravadora. Apelidada de “Lesbian Jesus” por seus fãs, Kiyoko soltou seu primeiro álbum completo ano passado, o Expectations. A cantora sempre diz que se orgulha muito de ser uma mulher lésbica e asiática, para ela cantar abertamente sobre isso faz com que outras pessoas se identifiquem.
Alextbh
Alextbh, um menino gay malaio, nunca achou que encontraria seu lugar na indústria musical, porém, com seus esforços como artista independente ele vem ganhando reconhecimento. Seu número de seguidores só cresce e ele já possui mais de 10 milhões de streams no Spotify. Atualmente vive em Kuala Lumpur, capital da Malásia, e sente que sua determinação vem em grande parte da comunidade LGBT de lá, muito próxima entre si devido ao fato de a homossexualidade ainda ser considerada um crime. Mesmo com a suposta liberdade de expressão que prega a constituição malaia, Alex afirma que a LGBTfobia continua forte e desregulada, sendo sua missão como o primeiro pop star queer da Malásia criar um espaço mais seguro para os jovens que se identificam com a comunidade. Para Alex na Malásia não há formas de abertura a mentalidade e o orgulho queer é uma forma de defesa, mas acredita que essa situação violenta é uma mensagem para que a comunidade levante e lute por seus direitos, o que ele espera estar fazendo com sua música.
Shea Diamond
Shea Diamond é uma das mais novas apostas para o soul estadunidense. Com seu primeiro EP Seen It All, de 2018, ela apresenta sua perspectiva como uma mulher negra trans, contando suas experiências com colorismo, amor e a exclusão do típico “sonho americano”. Diamond encontrou sua voz quando começou a trabalhar no seu single de lançamento I Am Her enquanto ainda estava na prisão por um roubo armado, feito para pagar por sua cirurgia de redesignação sexual. Suas vivências enquanto encarcerada na ala masculina envolveram casos de estupro e discriminação intensa, considerados comuns com mulheres trans presas, e mesmo assim ela perseverou e se conectou cada dia mais com sua identidade de gênero, dedicando-se completamente ao ativismo quando foi solta. Shea Diamond está concretizando seu maior sonho e vivendo honestamente, brilhando após ter sido pressionada como o diamante no seu nome.
SOPHIE
A produtora visionária por trás do Vroom Vroom, EP da cantora Charli XCX e que está atualmente trabalhando no próximo álbum de Lady Gaga, é uma orgulhosa mulher trans. Em 2017, pela primeira vez ela usou seu rosto e voz em um trabalho, no clipe de It’s Okay to Cry, assumindo que SOPHIE não era apenas um projeto e sim sua real identidade como pessoa trans. Com seus sons distorcidos e a produção de letras que serão repetidas para dar ênfase, ela criou seu primeiro álbum oficial como ela mesma: o Oil of Every Pearl’s Un-Insides, recebendo aprovação crítica e do público, o que rendeu uma nomeação ao Grammy. Sophie se mudou para Los Angeles na busca de um ambiente que a aceitasse completamente e estivesse envolvido nas discussões que ela queria ter. Atualmente planeja fazer com que sua música e seus shows sejam espaços assim para seus fãs, criando essa atmosfera queer, dinâmica, fluida e sem gênero em volta de si mesma.
Kevin Abstract
Rapper e cantor, Ian Simpson, nascido no Texas, sempre teve como seu objetivo usar sua voz para pessoas que se identificassem com ele. Com um grande desejo por uma comunidade artística que o entendesse e apoiasse como um homem gay negro, ele a achou na internet. Criou uma amizade virtual com pessoas pelo mundo inteiro, e com algumas delas, decidiu se mudar para Los Angeles e formar o grupo do qual faz parte atualmente, o Brockhampton. American Boyfriend, de 2016, seu álbum solo é um amontoado de confissões sobre o primeiro garoto por quem se apaixonou. O trabalho teve como inspiração o cantor Frank Ocean, assim como ocorreu durante o processo de aceitação de Kevin. O artista diz ter se sentido realmente bem consigo mesmo após ler a carta em que Ocean se abre sobre sua experiência com outro homem. Abstract versa nas músicas em grupo sobre sua sexualidade com ferocidade e afirma querer ser um ícone, forte na decisão de lutar por sua voz no ambiente normalmente homofóbico do rap mainstream.
dodie
Sentimentais, honestas e íntimas são características das músicas de dodie, compositora britânica assumidamente bissexual. A artista começou no YouTube em 2011, plataforma na qual tem quase dois milhões de inscritos. Ela possui três EPs, Human (2019), You (2017) e Intertwined (2016). Neles, a cantora aborda sobre assuntos que vão de saúde mental, como em When (música melancólica na qual ela descreve sua luta com dissociação e despersonalização), até amores não correspondidos, em She por exemplo (sobre sua primeira paixão por uma mulher). A total verdade de suas letras faz com que ouvir dodie seja como passear por seu diário, conhecendo-a e suas inseguranças profundamente.
MUNA
O trio de Los Angeles é composto de Katie Gavin, Josette Maskin e Naomi McPherson, três mulheres queer cuja autoproclamada missão é serem o mais honestas o possível sobre suas experiências. As três esperam que ao falar das coisas que mais importam para elas consigam fazer com que as pessoas se sintam ouvidas e representadas. No início da banda elas não tinham certeza desse seu destino e se questionavam sobre sua face como um grupo politicamente carregado e abertamente queer. Porém, tudo mudou após a eleição americana de 2016, em Donald Trump assumiu a presidência dos estados Unidos. As mulheres se encontraram no centro de uma procura por inclusão na música e em um momento de polarização política e com o ataque à boate LGBT Pulse, em Orlando, seu single I Know a Place se tornou um hino para encorajar a comunidade LGBT no momento. MUNA quer que sua arte conecte pessoas e promete continuar ocupando espaços na indústria musical.
Rina Sawayama
“Acho que todo mundo tem uma ideia de como uma pessoa japonesa deve ser ou deve parecer, eu quero quebrar isso com cada música que lanço”, conta Rina Sawayama em sua entrevista para a Vulture. A cantora nasceu no Japão e mudou-se para Londres quando tinha 5 anos. Na Inglaterra, teve dificuldades com estereótipos de asiáticos e insegurança ligada ao seu sobrenome, que acabou adotando artisticamente. Seu primeiro EP, RINA, explora as relações interpessoais na era da internet, assunto pelo qual a cantora se interessa desde seu tempo estudando política, psicologia e sociologia na Universidade de Cambridge. O seu próximo projeto será mais pessoal, como pode ser visto no single Cherry, que Sawayama usou para se assumir pansexual. Com colaborações com BTS, Marina e Charli XCX previstas para esse ano, ela está preenchendo seu objetivo de representação para quem se vê refletido nela.
Zolita
Zoë Montana Hoztel, ou apenas Zolita, é abertamente lésbica e tem um amor pelo rótulo de artista queer. Ela sonha com um mundo onde esses nomes não sejam mais necessários, mas enquanto isso não acontece, quer ser o ícone lésbico que nunca teve enquanto crescia. No seu primeiro EP Immaculate Conception, de 2015, ela explora imagens católicas e as expressa de acordo com sua própria visão, como pode ser visto no clipe de Holy. Seu enfoque em visuais vem de sua formação acadêmica como diretora, com isso em mente, é clara a importância que os vídeos têm para seus projetos. O exemplo mais sólido disso é o clipe de Come Home With Me. O objetivo de Zolita é tomar as rédeas da representação lésbica, que por tempo demais foi fetichizada pela visão masculina.
Princess Nokia,
Bissexual e com uma autoconfiança que transborda, a nova iorquina Destiny Nicole Frasqueri, mais conhecida como Princess Nokia, constrói seu império do hip-hop. De origens porto-riquenhas, ela exalta sua própria presença como mulher LGBT e feminista nesse gênero musical. A artista se identifica como uma tomboy, pois não se encaixa nos padrões de feminino. Em entrevista à NME ela revela não se sentir adequada para nenhum lugar, mas que isso é algo que considera bonito, da mesma forma que vê a beleza no que é bagunçado e alternativo. O que Nokia mais ama dentre os inúmeros impactos que sua música teve é a criação dessa sororidade em volta dela. Seu desejo é de que as garotas a sua voltase sejam livres e amem todas as partes de si mesmas, para atingirem o mantra de “eu gosto de mim mesma, eu sou legal. Meu coração é bom”.