Hábito pode se tornar um vício e causar dependência nos espectadores, além de ter um impacto direto na vida sexual de homens e mulheres
“Sempre tive dificuldades em chegar nas mulheres por ter passado a adolescência inteira consumindo pornografia”. Esse é o desabafo de um jovem brasileiro, de 19 anos, viciado em filmes e vídeos eróticos, que prefere não se identificar. Um estudo produzido em maio de 2018 pelo Quantas Pesquisas, a pedido do canal de conteúdo adulto Sexy Hot, que visava analisar o perfil daqueles que assistem pornografia, revela que cerca de 22 milhões de brasileiros acessam o material explícito.
É difícil encontrar alguém que navegue pela internet e não tenha se deparado com temática adulta. Um cookie no canto da tela ou um vídeo de 5 minutinhos com conteúdo pornográfico pode parecer inofensivo, mas, de acordo com a psicóloga Victória Ferrazoni, o consumo dessas imagens pode se tornar um vício. “A pornografia aparece como escape das condutas morais que ditam padrões de relacionamento e de relações sexuais. O problema é que a pornografia pode levar o sujeito a um mundo irreal de devaneio”, afirma Ferrazoni.
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Um professor, de 20 anos, começou a notar a gravidade do problema quando passou a imaginar diariamente cenas de sexo com suas alunas. Viciado em conteúdo explícito, ele prefere não se identificar. Assim como o primeiro relato, ambos os entrevistados iniciaram o consumo precocemente. “A busca pela pornografia começou como uma forma de ascensão no meio de meus colegas, quando eu tinha cerca de 14 anos. Eu via pornô quatro vezes ao dia, na época que eu comecei a me masturbar”, relata o professor.
Os homens representam, segundo estudo do Sexy Hot, 76% dos consumidores brasileiros de pornô. Mas seu consumo não se restringe apenas ao mundo masculino. Mariana, 20 anos e bissexual, relatou que o interesse surgiu também na sua pré-adolescência, por volta dos 11 anos, um pouco antes da sua primeira menstruação. Dois anos depois, a masturbação passou a ser cada vez mais frequente, três vezes ao dia, algo que durava horas.
Cenas de agressões físicas e verbais presentes nos filmes pornô passaram a afetar a vida adulta de Mariana. “Até hoje tenho sequelas do que eu assistia. Me sinto mais confortável fazendo sexo pesado. Porém meu corpo não aguenta tantas agressões, por mais que eu curta no momento’’, revela. Marcas, dores e inchaços em sua pele fizeram com que Mariana repensasse seus hábitos. A socióloga Laura Bing afirma a problemática de retratar aquilo visto no pornô. “Aquilo não é realidade, o sexo do dia a dia fica vulnerável a essas cenas cinematográficas”, explica Bing.
Em entrevista, nenhuma fonte buscou ajuda profissional, o que dificulta no tratamento da dependência. Vale lembrar que pessoas que sofrem com a compulsão pela pornografia podem procurar os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), o Instituto de Psicologia Aplicada (Inpa) e buscar assistência em grupos sigilosos digitais, como o Anti Pornografia.