Apresentando o espetáculo Subterrâneo, grupo Gumboot Dance Brasil levou dança e música aos presentes na Conferência Internacional Cidades Sustentáveis 2019
Os artistas batem palmas e tapeiam suas botas de plástico, vestindo macacões simples esverdeados e blusas brancas como se estivessem sujas de terra. O chão do palco vibra pela força dos movimentos e choques das mãos nas botas dos dançarinos do Gumboot Dance Brasil, seguindo uma melodia única ao fundo. A coreografia e as expressões dos artistas impressionaram a plateia do Auditório Oscar Niemeyer, no Parque do Ibirapuera, na última quarta-feira (22), durante a apresentação do espetáculo Subterrâneo.
Parceria do grupo com o Itaú Cultural, a apresentação trouxe movimentos sonoros. A dança em si encanta o público. Ao ouvir as palavras que os dançarinos entoam durante a realização do número, a estranheza inicial é inevitável. São grunhidos e gritos. “Uma energia muito visceral, que faz o chão tremer”, define o bailarino, coreógrafo e diretor do Gumboot, Rubens Oliveira. Inspirada na dança sul-africana que dá nome ao grupo, criada no século XIX pelos trabalhadores das minas de ouro do País e utilizada como meio de comunicação por não falarem o mesmo idioma. Fizeram musicalidade a partir de seus instrumentos de trabalho: botas, capacetes e lanternas. E é da história desses movimentos que se deu o nome ao espetáculo.
Pamela Amy, uma das bailarinas, é enfática ao comentar que, por mais que dancem o passado, mostram ao mundo sua indignação com o atual. Segundo ela, a arte traz o questionamento do entorno. Para isso, Oliveira tem 15 anos de pesquisa pessoal envolvendo a gumboot, incluindo uma viagem à África do Sul para estudá-la. Quando voltou ao Brasil, quis contar a história não apenas dos mineiros, mas também a dos artistas sobre os palcos: periféricos, que vivem em condição de opressão, que não precisam estar debaixo do asfalto, mas que por cima dele ainda se encontram invisíveis, oprimidos e vítimas de violência. “O gumboot oferece uma visibilidade a questões que são extremamente violentas no nosso país, sobre milhares de homens e mulheres que vivem em situações subterrâneas mesmo estando em cima do asfalto”, explica o bailarino.
Para o diretor do número, o artista olha para o mundo e devolve por meio de seu corpo o que enxerga como reflexão para a sociedade: um lugar de sustentabilidade e tecnologia humana. E é isso que o grupo apresenta no palco do Auditório Oscar Niemeyer em uma dança que já existe há cinco anos. A companhia necessita de uma equipe bem articulada e há muito tempo ensaiando, sendo rara a presença de novos integrantes. Pamela Amy tem 24 anos, dança gumboot há sete e treina com grupo de Oliveira desde então, por exemplo.
As palavras que os artistas entoam palavras ocasionalmente no palco, incompreensíveis para parte do público vem de origem sul-africana, de acordo com Rubens Oliveira. No processo de criação de Subterrâneo, o coreógrafo entendeu que seria interessante criar uma linguagem própria, um código que fosse musical para se entenderem no palco.
Atualmente, o coletivo está em temporada pelo Brasil. Além da apresentação na Conferência Internacional Cidades Sustentáveis, chegaram a São Paulo no dia 18 deste mês e partiram no dia seguinte para a Região Norte. Antes disso, ficaram um mês e meio pelo sul no Palco Giratório das unidades do Serviço Social do Comércio (Sesc).