Brasil Game Show (BGS) contou com gamers, convidados e influenciadores. Feira se consolida como experiência geek e espaço cultural
Com a chegada do mês de outubro, o sentimento de ansiedade que antecede cada Brasil Game Show (BGS) começa a fazer parte da rotina. A feira, realizada entre os dias 9 e 13, completou sua 12ª edição e é uma das únicas oportunidades para os jogadores testarem os games mais aguardados e saborearem um ambiente construído e pensado no mundo das jogatinas.
Novamente realizada no Expo Center Norte, em São Paulo, centro de convenções que a BGS já pode chamar de casa, o evento deste ano não promoveu destaque a nenhuma atração específica. Apoiados pelo Banco do Brasil, que visou angariar o público “gamer” por meio de benefícios na compra de ingressos e um estande próprio, a Brasil Game Show focou no slogan “Aqui Se Joga” e em ser, primeiramente, uma experiência.
Estandes
A Brasil Game Show teve várias atividades para entreter os visitantes, mas nada que fugisse da fórmula já adotada em edições anteriores. Foram disponibilizados estandes com jogos de empresas como a Playstation, que pela primeira vez trouxe ao público brasileiro os games Final Fantasy VII Remake, Nioh 2 e Marvel’s Avengers; a Xbox, que expôs o recém lançado Gears 5 e seus próximos exclusivos: Bleeding Edge e um novo Battletoads; a Warner Bros, com Mortal Kombat 11 e o spin-off da série Resident Evil: Project Resistance; e a estreante entre os grandes, Epic Games, apresentando um espaço colorido e tematizado de seu game Fortnite, disponibilizando até a lhama clássica do jogo em formato de touro mecânico.
Porém, o realce dentre as companhias foi a presença da Nintendo – fora do Brasil desde 2014 e da BGS desde 2012 -, que trouxe um estande com espaço de sobra para os fãs testarem títulos que já chegaram para Nintendo Switch, juntamente do aguardado Luigi’s Mansion 3, que será lançado em 31 de outubro de 2019. Apesar da aparição na feira e da venda já oficializada de cartões contendo os games de Switch, Romina Whitlock, gerente de marketing da Nintendo Latin America, revelou em entrevista ao The Enemy que a empresa não tem planos de voltar ao Brasil e nem de trazer seus jogos localizados no Português Brasileiro. Questionada pelo repórter Claudio Prandoni, Romina alfinetou os fãs para que se esforcem, mesmo sem uma tradução: “Hoje é mais fácil de pesquisar na internet… quando eu era pequena e jogava games em inglês, tinha sempre um dicionário por perto”.
Focando os jogadores de PC, várias empresas de periféricos compareceram à BGS. Dentre as que comercializavam teclados, mouses e headsets estavam a Dazz, em um estande com DJ próprio; a Logitech, contando com um espaço especial para a gravação de programas da imprensa; a HyperX, que levou um caminhão decorado com as cores vermelho e preto, clássicas da empresa; e a LeNovo, com sua nova linha de notebooks e a já conhecida decoração de dragão.
Havia também lojas de colecionáveis e roupas. A Fallen Store e a Loja da Vivo, com produtos voltados ao eSport, ficavam entre os demais estandes, enquanto que os comércios com vendas de figuras de ação, Funko Pop e camisetas, estavam em um pavilhão separado, junto à praça de alimentação.
Um fato notório foi a vinda de emissoras de TV que apostam em criar uma plataforma focada nos games. O SBT ofereceu um espaço no estilo de programas famosos do canal, optando por um teor mais informativo sobre o SBT Games, portal que utiliza como principal plataforma o YouTube, e, voltando com a produção de conteúdo em setembro deste ano, aposta em um programa de notícias semanal e entrevistas.
Já a RedeTV resolveu divulgar o recentemente criado “eSports 360”, portal que chegou ao site da emissora há pouco mais de três semanas. Contudo, a falta de cuidado ao organizar o “estande”, que era composto por basicamente “pufes”, bonecos de papelão e uma TV, fez com que poucas pessoas fossem ao estande.
BGS Arena e eSports
Como de costume, a Brasil Game Show reservou um espaço para a BGS Arena, local com vários assentos e um telão projetado especialmente para competições de eSports. Durante o evento, ocorreram competições de CS:GO Feminino, com a consagração das meninas da Vivo Keyd como as grandes campeãs, e também rodadas do campeonato de CS:GO masculino. O destaque foi o Mortal Kombat Pro Competition, torneio de Mortal Kombat 11, realizado durante o fim de semana do evento. A disputa passou por fases eliminatórias no sábado e as finais no domingo. Tekken Master, jogador do Barém, foi o vencedor, seguido por Dizzy (Reino Unido) e KillerXinok (Brasil). O torneio contou com a presença do criador do Mortal Kombat, Ed Boon.
Avenida Indie
Corredor apertado em meio ao pavilhão principal, a Avenida Indie era um espaço destinado às empresas e desenvolvedoras independentes, nacionais e internacionais, que almejam uma oportunidade de trazer sua criação para o público testar e opinar. Por terem propostas diferentes dos grandes lançamentos, os jogos indies acabam atraindo a atenção do público devido aos temas abordados e a coragem dos profissionais em arriscar projetos que muitas vezes batem de frente com produções de destaque na indústria.
É o caso de Eternal Hope, uma plataforma 2D focada na aventura, em que o jogador precisa resolver uma série de puzzles para encontrar a alma de sua amada. Gabriel Oliveira, compositor da trilha sonora do game, disse que a maior dificuldade foi refazer o jogo do zero – “Após termos recebido o feedback da comunidade, por meio de uma demo lançada online, tivemos que recomeçar a produção, implementando mudanças drásticas”. Gabriel também contou que uma de suas inspirações foi o game Ori and The Blind Forest, cujos visuais e a própria trilha sonora lembram a de Eternal Hope, que é desenvolvido pelo estúdio brasileiro Double Hit. “O nosso maior desafio será colocar o jogador no papel do personagem, por meio de todos os elementos artísticos e também pela narrativa.” O curitibano, junto de seus colegas, pretende criar uma campanha de financiamento no site Indiegogo, começando no dia 22 de outubro. O objetivo é que Eternal Hope chegue para PC e Xbox One e, dependendo do suporte do público, poderá chegar para outras plataformas.
Outra empresa brasileira de destaque que esteve presente na BGS foi a Behold Studios, com o game Out of Space. O novo indie é um jogo cooperativo em que os participantes devem limpar uma nave espacial enquanto administram recursos e as necessidades dos personagens, como dormir e comer. Em entrevista, Vítor Malcher, Gerente de Comunidade da Behold, contou à Esquinas que ficaram receosos ao fugir do tradicional com um projeto alternativo aos moldes do “single-player strategy” habitual, mas decidiram manter a comunidade próxima para garantir um desenvolvimento de sucesso para Out of Space. Revelou ainda que o jogo recebeu financiamento da Ancine nos dois primeiros anos de produção, mas que agora a Behold caminha com as próprias pernas na empreitada, que deve levar mais algum tempo para ficar pronta. “Sentimos que tem potencial e queremos sempre adicionar coisas novas, por isso vamos trabalhar mais um tempo no game. A ideia é fazer a portabilidade para PC e Consoles e lançar ao mesmo tempo” – expõe Vítor.
A curiosidade quanto às cores e visuais levou a Esquinas até Rafa Skoberg, programador do estúdio Pink Array, responsável pela produção do game Grashers. O centro de criação conta apenas com quatro integrantes, sendo dois deles americanos. Rafa, um dos brasileiros no projeto, revela que a proposta é fazer um jogo divertido, mas que também seja educativo. Em Grashers, o jogador controla um “Gari Interestelar”, responsável por limpar os planetas da galáxia em níveis gerados aleatoriamente, com inspiração em The Binding of Isaac.
Participante do BIG Festival de 2018, Rafa aponta que o Grashers está em produção há cinco anos e destaca o esforço da equipe. “Todos têm trabalho de dia e fazem o jogo no resto de tempo que sobra. Estamos procurando uma publicadora para ajudar a vender o game. É por amor, muito amor” – completa.
Meet and Greet e Influenciadores
Um dos atrativos da BGS é trazer personalidades conhecidas da indústria de videogames para o evento, reunindo também influenciadores digitais e streamers para atrair um público maior. Em sua 12ª edição, a feira trouxe novamente nomes como Charles Martinet (dublador do Mario) e Yoshinori Ono (produtor de Street Fighter) e inovou trazendo Hidetaka Miyazaki (“pai” da série Souls), que infelizmente veio com agenda restrita e participou apenas de um encontro previamente marcado.
Entretanto, apesar da possibilidade de conhecer convidados importantes, as condições para os visitantes tirarem fotos e conseguirem um autógrafo foram, em alguns casos, incondizentes com a proposta do evento. Os atores que dublaram e deram vida aos protagonistas de GTA V compareceram à BGS 2019, e, após o Meet and Greet padrão, resolveram cobrar para tirarem fotos e autografarem itens dos visitantes. Apesar de ser uma prática comum nos eventos da Comic Con, os preços estavam superfaturados, chegando a R$ 250 para uma foto com os três. Nos Estados Unidos o preço acaba ficando na faixa de US$ 25, ou seja, adequado a renda do estadunidense. Lembrando que essa prática foi uma condição feita pelos agentes dos atores, não envolvendo a organização da Brasil Game Show.
Ainda assim, empresas como AOC, HyperX Brasil e Razer estavam disponibilizando Meet and Greet com influenciadores de graça para os visitantes da feira. A organização estava preparada para o impacto que os influenciadores causaram no evento, visto que tumultos em anos anteriores eram frequentes. Além dos estandes citados, Twitch e Facebook Gaming, ambas focadas em streaming, ofereceram inúmeros encontros com streamers e outras personalidades, direcionando seus estandes a essas práticas quase exclusivamente. A prática de ter como atrações o encontro com influenciadores digitais acaba atraindo público, mas causa certa defasagem na proposta geral da feira. O que era para ser sobre games, acaba sendo sobre encontrar aquele YouTuber favorito, o que pode vir a mudar o foco da maior feira de games da América Latina. Que tal conferir alguns destaques da BGS? A seguir, listamos o que a galera citou.
Jogos Testados
Bleeding Edge → em definição, o game é uma mistura de Overwatch e seus elementos de Battle Arena com a agitação sanguinária do game indie Drawn to Death. Ainda assim, Bleeding Edge consegue ser extremamente criativo na concepção de seus personagens, revitalizando um gênero pela ousadia aplicada. O projeto da recém adquirida pela Xbox, Ninja Theory, provou que a desenvolvedora será uma tremenda adição ao time da Microsoft.
Data de Lançamento: 2020 / Plataforma: Xbox One
Nioh 2 → seguindo os passos de Nioh, a sequência aposta nas mecânicas da série Souls e na cultura folclórica japonesa para levar ao público um game desafiador. Não houve uma mudança na engine, o que significa que melhorias gráficas e diferença nos efeitos serão mínimas. Contudo, novidades no gameplay agradam, com a possibilidade de se tornar um Yokai e utilizar uma gama grande de novos poderes.
Data de Lançamento: 2020 / Plataforma: Playstation 4
Final Fantasy VII Remake → um dos games mais disputados para testar no estande da Playstation possuía a mesma demonstração disponibilizada no evento da E3 2019. No teste, Cloud e Barret enfrentam um inimigo com forma de escorpião. Quanto ao combate, tivemos a impressão do game se aproveitar das mecânicas de Kingdom Hearts e melhorá-las. Caso o jogador queira batalhar em turnos (como no game de PS1), basta mudar nas opções de jogabilidade.
Data de Lançamento: 3 de março de 2020 / Plataforma: Playstation 4
Predator: Hunting Grounds → game cooperativo que envolve a colaboração de quatro jogadores que tentam escapar de uma selva dominada por bandidos e um quinto player, controlando o Predador. No estilo de jogos como Dead by Daylight, Hunting Grounds, ele aposta em uma gameplay mais militarizada, com ação frenética e táticas de guerra. A decepção fica por conta da versão disponibilizada para teste. Com muito pouco polimento, a impressão foi de um jogo ainda em sua fase inicial de balanceamento.
Data de Lançamento: 2020 / Plataforma: Playstation 4
Project Resistance → se aproveitando das mecânicas e do motor gráfico RE Engine, o mesmo presente em Resident Evil 7 e Resident Evil 2 Remake, Project Resistance é um “frankenstein” que ganhou vida e também figura como destaque desta BGS. Recicla ideias de games como Friday the 13th, colocando quatro jogadores contra um, nos ambientes de Resident Evil, com inimigos já estabelecidos na franquia. A versão disponibilizada não estava totalmente polida, os cenários eram apertados e os controles pareciam imprecisos, resultando em uma experiência não tão boa.
Data de Lançamento: Sem data definida / Plataformas: Playstation 4 e Xbox One
Luigi’s Mansion 3 → O game já é um sucesso por causa de seu visual e de sua jogabilidade, que cativaram o público do evento. Na pele de Luigi, o jogador precisa limpar os cenários assombrados por fantasmas, claramente inspirados por Ghostbusters. A demo também explorava mecânicas de puzzle e no final dela enfrentávamos um chefão na forma de uma cavaleiro fantasma. Um ponto positivo foram as várias estações disponíveis para teste, permitindo que o público realmente aproveitasse o futuro lançamento.
Data de Lançamento: 31 de Outubro / Plataforma: Nintendo Switch
Battletoads → revelado na E3 de 2019, a série ganhou um novo título depois de cerca de 25 anos de ausência. O novo Battletoads aposta em uma mecânica cooperativa entre 3 jogadores e em um estilo Beat’em Up, no qual os jogadores devem enfrentar uma sequência de inimigos, ao estilo de Streets of Rage. O visual mais cartunizado e totalmente reformulado, juntamente com as mudanças (principalmente na dificuldade), dão um ar de recomeço para Battletoads, adaptando-se aos moldes atuais.
Data de Lançamento: Não definida / Plataforma: Xbox One