Como as novas tecnologias de monitoramento auxiliam a fiscalização e promovem a sustentabilidade
Satélites são corpos tecnológicos colocados em órbita ao redor de um corpo celeste; como o planeta Terra. Eles enxergam tudo aquilo que não é possível ver a olho nu e permitem a visão do planeta sob uma perspectiva diferente.
Voltando na linha do tempo, esse instrumento foi lançado pelos soviéticos em 1957 e utilizado pela primeira vez na Guerra Fria, marcando o início da corrida espacial. Essa época foi caracterizada por fortes investimentos em novas tecnologias para ver quem dominaria o espaço.
Inúmeras utilidades foram empregadas aos satélites, que se tornaram grandes aliados no monitoramento da Terra, ajudando a identificar desde plantações ilegais e áreas de desmatamento até derramamento de óleo nos mares e desastres ambientais. Muitos deles trabalham com diferentes frequências eletromagnéticas, distinguindo até maconha de outras plantas.
Esse equipamento é a única maneira de olhar grandes áreas de maneira constante e repetitiva e, apesar de não oferecer todas as informações sobre uma região, em conjunto com uma equipe em terra e com outros instrumentos, é possível manter a vigilância, mesmo que não seja em tempo real. A fiscalização regular possibilita economizar a quantidade de pessoas trabalhando em solo.
Nos últimos meses, as imagens de satélite foram muito importantes para denunciar o aumento das queimadas na floresta amazônica. Cláudia Maria de Almeida, pesquisadora sênior da divisão de sensoriamento remoto do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), disse em entrevista à Esquinas que “as imagens de satélite são muito confiáveis, estando disponíveis em várias resoluções e para toda e qualquer finalidade. Muitas agências espaciais disponibilizam imagens de satélite gratuitamente”.
Essa tese é comprovada por Zoltan Bartalis, Engenheiro de Ciências da Terra na direção de observação da Terra da Agência Espacial Europeia na Itália. “As imagens são muito confiáveis, vimos exemplos nesse verão, no qual podemos quase que imediatamente e precisamente estimar a área queimada, é uma aplicação já consolidada e validada muitas vezes”, diz.
Para continuar o monitoramento da situação da Amazônia, o Brasil está desenvolvendo o Amazônia-1, o primeiro satélite totalmente nacional, tendo sido projetado, integrado, testado e operado no país, de acordo com o INPE. Será utilizado na Missão Amazônia, que fornecerá imagens visando o monitoramento do desmatamento na região amazônica, mas também observará a agricultura do território nacional como um todo, trabalhando em conjunto com os programas ambientais já existentes e no “monitoramento da região costeira, reservatórios de água, florestas naturais, desastres ambientais, entre outros”, segundo o site do INPE.
A Missão Amazônia irá contar com três satélites de sensoriamento remoto: Amazônia-1, Amazônia-1B e Amazônia-2, o primeiro sendo o que está em desenvolvimento. O Brasil sempre teve bons sensores de baixa resolução, mas não de alta resolução ou veículos lançadores (foguetes), segundo Cláudia Maria. Então, parcerias com outros países, por parte do INPE, ainda são necessárias. Como, por exemplo, com a Rússia, na questão de veículos lançadores e combustível sólido, e com a China, com quem tem parceria no desenvolvimento de satélites próprios (estão no sexto) e na incorporação de câmeras de média e alta resolução.
As imagens mais detalhadas são mais caras para serem feitas e analisadas, o que faz com que esses sejam os maiores gastos do INPE. A boa notícia é que o custo das fotos tem diminuído nos últimos anos. O instituto tem parcerias com o ministério do meio ambiente para subsidiar a aquisição de algumas fotografias.
Porém, não é apenas da tecnologia externa que o Brasil depende, é também da presença física de alguns funcionários da Índia, Rússia e China, que tentam ajudar o INPE a recuperar o conhecimento perdido em 2003, quando o veículo lançador do Instituto sofreu um acidente, causando a morte de 21 técnicos altamente especializados e treinados durante 10 anos.
Por mais que o custo de montar uma equipe e desenvolver tecnologia espacial seja muito alto, Cláudia se refere a ele como investimento e ainda comenta que “hoje, todo país que se preza dispõe de agência espacial e lança seus próprios satélites” e enfatiza o fato da Nigéria e do Peru, países com menor poder econômico, contarem com essa tecnologia. Um dos principais objetivos do INPE é alcançar a autonomia brasileira na área.
“Ninguém consegue autonomia de uma hora para outra sem aprender”, foram as palavras da pesquisadora sênior ao comentar sobre uma futura independência brasileira no setor de tecnologia espacial, o que corrobora a surpresa que Zoltan expressou ao comentar sobre a palestra de Cláudia, na qual viu processos também realizados na Europa feitos no Brasil e teve a chance de observar mais de perto a agenda do país.
Sobre o futuro, Zoltan prevê que “haverá muito mais (satélites), muito menores e mais especializados, produzindo grande quantidade de informação. Criaremos ferramentas para filtrar informação útil e combinar diferentes fontes de dados para conseguir respostas sobre o que está acontecendo com o meio ambiente”.
Já Cláudia Maria fala sobre o desenvolvimento de nanossatélites e aparelhos menores, mais práticos, menos custosos e menos suscetíveis a gerar lixo espacial volumoso, um problema que vem crescendo ao ponto de não ser incomum os especialistas verificarem “cada vez mais casos em que os satélites precisam fazer manobras para desviar do lixo, pois mesmo as menores partículas podem fazer muito estrago e comprometer o equipamento por completo”, segundo o engenheiro italiano.
Para monitorar o lixo espacial, a aeronáutica dos Estados Unidos desenvolveu o programa Space Situational Awareness, no qual mapeia e rastreia todos os pedaços de tecnologias inutilizadas no espaço. Além disso, sempre que possível, as agências espaciais usam um método para se livrar dos restos de satélites e outras construções: perto do fim da vida útil, os técnicos abaixam a órbita do objeto até que ele reentre na atmosfera e seja queimado pelas altas temperaturas.