Na rua da Consolação, loja Objetos de Cena relembra tempos passados vendendo e alugando antiguidades
O marrom prevalece junto à poeira, uma cabeça de leão e a telefones coloridos. Que saudade da minha avó. A penteadeira de madeira me leva à sua casa em Minas. Cada mínimo artefato conta sua história e emite sua energia, os objetos são carregados de lembranças e sentimentos. São Paulo é onde tudo acontece. A cidade é conhecida por sua rapidez e pelas novidades que abarca. No entanto, caminhando pela rua da Consolação, é possível adentrar um universo nostálgico que destoa do resto da capital paulista. A loja Objetos de Cena, fundada em 2000 por Mauricio Galletta, possui um acervo de mais de 30.000 antiguidades. Galletta diz que seu intuito é atender a carência do mercado para ambientação de cenários.
Quem passa por lá não esconde o estranhamento e a curiosidade ao se deparar com peças como um Pinóquio gigante em madeira, uma banheira velha e cabeças de animais. Os curiosos que estiverem dispostos a esquecer a correria cotidiana paulistana e a embarcar numa viagem intemporal podem caminhar pelos corredores estreitos e abarrotados de objetos de todas as épocas e estilos. Quadros antigos, estátuas de santos e uma infinidade de artefatos entulhados e presos no teto contribuem para a ambientação soturna do local.
A clientela de Galletta inclui emissoras de TV, produtoras de comerciais, teatro, cinema e trabalhos acadêmicos, além de apreciadores de antiguidades. Ele afirma, orgulhosamente, que a maioria das novelas e filmes nacionais hoje em cartaz possui artefatos de sua coleção. Eles já fizeram parte de filmes como Carandiru (2003), Nada a Perder (2018) e Hebe – A Estrela do Brasil (2019). A existência desse nicho artístico, segundo o proprietário, explica a grande procura do mercado.
A produtora cinematográfica Clíssia Morais trabalha no ramo há 30 anos e já utilizou objetos da loja em filmes como Hans Staden (1999) e Desmundo (2003) e em séries como Sintonia (2019). “O que mais me interessa é a variedade de produtos que eles têm. A gente pode fazer um filme contemporâneo ou do século 16 que eles vão ter objetos para fornecer. E, claro, as pessoas maravilhosas que trabalham lá! Eles entram profundamente nas histórias para fornecer o material necessário”, afirma Morais. A importância dos objetos, para a produtora, reside na capacidade que têm de traduzir as personagens e seus mundos.
A Objetos de Cena está repleta de histórias a serem contadas. A loja, na contramão da sociedade atual, carrega fragmentos do que ficou para trás, seguindo a filosofia de resgatar lembranças de tempos passados que, certamente, permanecem guardados na memória coletiva e afloram nas visitas por lá.