Pandemia pode ter impacto grave no fluxo de doação de sangue; de acordo com o Ministério da Saúde, pacientes infectados com a covid-19 devem esperar 30 dias para doar
A Dra. Luciana Sampaio, médica hemoterapeuta da Fundação Pró-Sangue, afirma que a perspectiva em relação aos bancos de sangue ainda é pessimista. A previsão é que cada vez menos pessoas estejam aptas para doar, apesar do sucesso da campanha realizada pelo Ministério da Saúde. “A evolução da pandemia cria um ciclo que diminui cada vez mais o número de doadores. Os pacientes infectados pela covid-19 e todos que tiveram contato com alguém doente terão que esperar 30 dias para fazer a doação de sangue”, relata.
Sampaio diz que o sistema de saúde sofrerá muitas baixas com materiais e funcionários, o que também afetará a estrutura de doação. Ela conta que, devido ao coronavírus, deve haver um aumento nos pedidos por bolsas de sangue. “Casos graves de covid-19 podem desenvolver complicações na coagulação sanguínea e, por isso, também irão precisar de doações”, alerta.
O hemocentro de São Paulo registrou um grande aumento de pessoas interessadas em doar sangue. Essa elevação na procura ocorreu três semanas após o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingenciamento para o Coronavírus em São Paulo, declarar em uma coletiva de imprensa, no dia 17 de março, que os bancos de sangue da cidade estavam “praticamente vazios”.
Mesmo que a situação tenha sido normalizada nos hemocentros, a orientação é restringir o uso e fazer racionamento do sangue até o fim da pandemia. Diante dessa situação, os hospitais estão sendo aconselhados a adiar cirurgias menores. Pacientes que estão na fila de doação de órgãos e na quimioterapia, por exemplo, são considerados prioridades.
No dia 8 de abril, a Anvisa emitiu a Nota Técnica 21/2020 que permite o tratamento de infectados por coronavírus com plasma convalescente — parte líquida do sangue de alguém que está recuperado. O procedimento consiste em fazer a transfusão desse plasma para um indivíduo infectado. Dessa maneira, os anticorpos que já possuem uma “memória” do coronavírus seriam compartilhados. Esse tipo de tratamento já foi utilizado nas epidemias da SARS e MERS, por exemplo. Dentro desse cenário, o hemocentro dobrou seus esforços para identificar potenciais doadores que podem ajudar no procedimento.
Para realizar a doação de sangue de maneira segura, a Pró-Sangue adotou medidas especiais no período da pandemia, seguindo recomendações do Governo do Estado de São Paulo. Os doadores devem se inscrever no site para agendar a doação e evitar aglomerações nos postos de coleta. Para doar basta estar em boas condições de saúde e alimentado; ter entre 16 e 69 anos; pesar mais de 50 kg e levar documento de identidade original com foto. Até sábado (10/04), os tipos sanguíneos O- e B- possuíam quantidade suficiente para apenas três dias.
Para quem foi infectado ou teve contato com algum doente, os requisitos de doação sofreram mudanças. Seguindo as orientações da Nota Técnica Nº5/2020, do Ministério da Saúde, ficaram estabelecidos os seguintes critérios:
* Pessoas infectadas pela covid-19 são consideradas inaptas a doarem por um período de 30 dias, após recuperação clínica completa (assintomáticos).
* Pessoas que tenham tido contato, em casa ou no trabalho, com casos suspeitos ou confirmados de contaminação por coronavírus devem aguardar 14 dias após o último dia de contato para realizar a doação de sangue.
* Profissionais da saúde (médicos, enfermeiros entre outros) que tenham tido contato direto com pacientes, em casa ou no trabalho, devem aguardar 14 dias após o último dia de contato.