Falta de clientes, de infraestrutura e de apoio da Prefeitura são alguns pontos levantados por feirantes em São Paulo
Estima-se que ocorrem em São Paulo cerca de 900 feiras livres por dia. Elas foram consideradas essenciais neste momento pandêmico em que aglomerações devem ser evitadas, já que são responsáveis pelo abastecimento da população e pelo fornecimento de mercadorias fundamentais. Mas a dinâmica calorosa, característica marcante das feiras, não foi mantida, e os feirantes se queixam de muitas mudanças.
Quando se trata do movimento da clientela, eles sentem na pele a realidade trazida pela pandemia: “As vendas despencaram. As pessoas estão assustadas, nós estamos assustados. Porém, continuamos, é melhor pingar do que faltar. O movimento caiu, mas estamos firmes”, afirma Lucas Daniel dos Santos, que participa de algumas feiras, uma delas no Itaim Paulista, Zona Leste de São Paulo.
Contatado por ESQUINAS, o Departamento de Abastecimento de São Paulo divulgou as recomendações dadas aos feirantes para esse período. Dentre elas estão a distância mínima de um metro entre as barracas das feiras; a proibição de degustação de alimentos; a suspensão de mesas e cadeiras e a orientação para a disponibilização de equipamentos e produtos de higiene, como pias com sabão e álcool em gel.
Nesse cenário, os trabalhadores relatam a real situação vivida no dia-a-dia durante a pandemia. Lucas diz que a fiscalização da prefeitura tem sido remota. “Quando olhamos a realidade, vemos que os feirantes estão abandonados. Não temos acesso a sanitários, sendo que pagamos impostos e ficamos horas na rua. Vamos se cuidando e driblando a situação”, denuncia. Na região metropolitana de São Paulo a situação é similar. “A prefeitura só ditou as regras e não auxiliou em mais nada. Nós mesmos que fizemos uma pia portátil”, relata Pedro*, trabalhador de uma banca de pastel em Itaquaquecetuba.
É difícil para os trabalhadores evitar o contato e os hábitos calorosos, aspectos fortes nas relações pessoais e comerciais que fazem parte das feiras livres. Além deles, os clientes também demonstram dificuldades na adaptação com a situação, contribuindo para um cenário dificultoso. “Em uma entrega, um homem chegou a jogar o dinheiro no chão”, conta Lucas, o que deixa nítido como o serviço está sendo afetado.
Outra questão delicada é que muitos idosos, que se encontram no grupo de risco, não seguem as recomendações da OMS e continuam frequentando as feiras pela necessidade de fazer compras ou por puro descaso.
Mesmo com tantas adversidades, sabemos que a atividade não pode parar, mas precisa se adequar ao atual contexto em que estamos vivendo, assim como os outros setores primordiais de abastecimento. “Todo mundo está se adaptando e precisamos nos ajudar, precisamos trabalhar. Acredito que quando esse período passar, muitas coisas na relação de trabalho vão mudar, seja no jornalismo, na feira, onde for. Todo mundo precisa se adaptar. Todo mundo vai se adaptar”, finaliza Lucas.
*Nome fictício a pedido do entrevistado