Mesmo bairro, realidades distintas: os alunos secundaristas Rithielli Vasconcelos e Felipe Bossi contam como tem sido suas experiências com o EAD
Rithielli Vaconselos, 17, mora na zona oeste de São Paulo, no bairro de Pirituba. Estudante de escola pública, está no último ano do ensino médio. Sonha em cursar psicologia em uma faculdade federal. No mesmo bairro, estudando a metros de distância, encontramos Felipe Bossi, também de 17 anos. EAD
Felipe estudou durante a vida inteira em colégio particular. Também no terceiro ano do ensino médio, quer prestar jornalismo e tem condições para seguir seu ramo acadêmico em uma universidade particular. Hoje, se encontra em um colégio referência da região.
Rede Pública
Ainda que tão perto, os dois estão em paralelos completamente diferentes. Rithielli relata a dificuldade que está enfrentando com a educação a distância em tempos de isolamento social decorrente da pandemia de Covid-19: “A escola começou a tentar dar aulas online no final de abril, mas agora só temos aula uma vez por semana em formato de vídeo e gravadas pelos próprios professores. O conteúdo é passado para nós durante a semana”, explica sobre o método adotado pela escola.
De acordo com a estudante, seu colégio não adotou nenhuma plataforma específica e comenta que os alunos não recebem o respaldo necessário da coordenação ou do corpo docente. Muitas vezes, seus colegas precisam ir atrás das informações sozinhos. “Está sendo complicado, alguns professores não conseguem se disponibilizar para um plantão de dúvidas. Geralmente a gente que tem que se virar mesmo”, completa.
A pressão causada em detrimento dos vestibulares é corriqueira na vida de qualquer estudante de ensino médio. Porém, tendo em vista que enfrentamos uma situação inédita desde a gripe espanhola, esse problema tende a se intensificar. “Eu estou com muito medo, tenho dúvidas se vou conseguir passar. Não confio no meu potencial, já que não tenho a base que deveria. Duvido da minha própria capacidade de aprender sozinha.”, desabafa.
Rede Privada
Já Felipe, relata que as aulas estão sendo ministradas normalmente por plataformas como o Google e uma outra desenvolvida pela editora do material didático adotado pela escola. Além disso, está realizando provas e simulados de forma virtual. A preparação está sendo quase a mesma que teria caso as aulas fossem presenciais. Até a carga horária é semelhante.
Seus professores, ao contrário dos de Rithielli, tiveram um preparo prévio para se adaptarem ao EAD, incluindo manejo de tarefas e controle de presença. “Os professores estão adaptados, está fluindo tudo bem. O papel deles em si está sendo bem executado. A única coisa que complica é a falta de dinâmica, mas isso não é culpa do professor e nem dos alunos, mas sim do contexto em que estamos”, explica.
Felipe e Rithielli tem noção do privilégio e da desigualdade vista na educação. Isso sempre existiu, mas em contextos como esse elas se intensificam.
“O meu colégio proporciona um bom acesso e visto que não são todos que conseguem seguir esse padrão, somos privilegiados, temos que olhar com uma visão mais humana para o outro lado”, contextualiza Felipe.
Rithielli diz estar fazendo o máximo para estudar por conta própria, mas ainda assim não acha ser suficiente. “Eu não estou tendo base, procuro me informar e ir atrás por conta própria. Isso me afeta bastante, não tenho o aprendizado que queria ter. Querendo ou não, o pessoal que tem tudo isso está com a cabeça pronta e com menos preocupação para fazer as provas”, relata.
Os casos variam de região para região, consequentemente não é possível assumir que os fatos relatados acima são uma regra. Porém essa disparidade entre o acesso a educação de qualidade no Brasil é um fato. A pandemia além de agravar está chamando atenção para um sistema que sempre foi falho.