Durante o mês de julho, Esquinas publica reportagens especiais sobre o impacto da covid-19 no comércio e serviços. Este é o 4º texto da série
Crianças pulando na piscina, jogos de pebolim, batatas sendo fritas, conversas altas e risadas calorosas. Essa era a trilha sonora da pousada Brilho do Sol, localizada na cidade de Olímpia, São Paulo, sede do maior parque aquático do país. Hoje, o silêncio toma o local, fechado desde o dia 20 março, em decorrência da pandemia do coronavírus.
“A gente não tem previsão de abertura. Porque a gente depende do Thermas, que está fechado e ninguém fala quando vão abrir. Quando eles decidirem, a gente dá um tempinho e abre. Mas, por enquanto, a gente não sabe nada” – explica a proprietária Liamara Precioso, 50 anos.
“Thermas” é a versão curta para Thermas dos Laranjais, o 4º parque aquático mais visitado do mundo e o centro da economia de Olímpia. Segundo a Secretaria de Turismo, os visitantes do parque aquático movimentam cerca de 65% da economia do município, que, por ano, tem um fluxo médio de 2 milhões de pessoas e movimenta cerca de R$ 1,5 bilhão por ano.
No entanto, essas são águas passadas. Com o parque aquático inoperante, hotéis e pousadas viram seu lucro zerar de um dia para o outro e tiveram que fechar as portas.“Não deu tempo de pensar em nada.”, afirma Liamara. “Alocamos tudo pra não ter mais perda do que já ia ter. Aí a gente colocou todo mundo de férias, porque, naquele momento, a gente não sabia o que fazer com ninguém”. Mas, passados os 30 dias, a pandemia se alastrou, o que acabou ocasionando a demissão da maioria dos funcionários da Brilho do Sol.
Além de seis membros da família de Liamara – irmãos, cunhada, marido e filha – a pousada empregava outros 17 colaboradores. Destes, 15 foram demitidos. Para a proprietária, essa foi a decisão mais difícil, principalmente por se tratar de uma empresa familiar. “Você tem um vínculo grande com todo mundo. E aí você fala: qual a melhor forma de fazer a empresa sobreviver e fazer com que as pessoas não fiquem desamparadas? Esse era o nosso maior desespero: deixar todo mundo na mão.”
Apesar disso, acredita ter feito a escolha certa. Vários funcionários eram antigos na casa. Trabalhavam lá desde quando a pousada foi inaugurada em 2004, pelo falecido Vicente Precioso, pai de Liamara. Isso lhes garantiu um alto fundo de garantia, que atualmente está lhes sendo pago em prestações mensais. Saíram também com a “promessa” de que seriam os primeiros a ser recontratados na reabertura.
Aos olhos da proprietária, esse dia, infelizmente, não está nada próximo. “É complicado. O último setor a abrir vai ser esse de hotelaria. Muita gente não tem como viajar porque já tirou férias. Muita gente está sem emprego e não tem dinheiro para viajar. Esperamos um ano de 2020 completamente comprometido e 2021, com muita sorte, um ano difícil.” Com o aumento dos casos de covid-19 na região, a cidade Olímpia encontra-se na fase laranja do Plano São Paulo, instituído pelo governador João Dória.
“Como eu estou me sentindo? Meu Deus! Eu acho uma situação bem triste né. A gente ter que fechar tudo por uma coisa dessas. Mas eu acho que é necessário. Apesar de eu ficar triste com tudo isso que está acontecendo, não está acontecendo só comigo, está acontecendo com o mundo. Eu acredito que a gente tem que seguir o que eles falam, não tem que abrir” – finaliza.