Com número de mortos 33 vezes menor que o Brasil, Argentina segue recomendações internacionais e obtém resultados positivos no combate à pandemia
Combate ao vírus
“Diferente do que aconteceu no Brasil, todos [os políticos] aderiram a quarentena. Diria que foi uma unanimidade”, afirma Marcia Carmo, jornalista e editora do Diário Clarín, jornal de maior circulação na Argentina. Buscando medidas efetivas, o Presidente Alberto Fernández e o prefeito de Buenos Aires, Horácio Rodríguez, deixaram a oposição política de lado e criaram uma frente ampla para combater o novo coronavírus.
O resultado dessa união refletiu nos números da Argentina. Até então o país rio-platense atingiu 130.761 casos confirmados e 2.373 óbitos, enquanto no Brasil chega-se a marca de 2.118.646 infectados e 80.120 mortos. Agravando ainda mais o cenário, as mortes por milhão de habitantes do país vizinho são de 52 mortes/milhão, e no Brasil 378 mortes/milhão.
Moradora de Buenos Aires, a jornalista Marcia Carmo explica como vê a situação de seu país. “Até aqui, vale frisar, que no combate à pandemia a Argentina está sendo cotada como um dos melhores países da América Latina e alguns dizem que do mundo. Isso acontece porque ela tomou a decisão muito rápida da quarentena nacional e as pessoas aderiram”, diz.
A estudante de medicina em Buenos Aires, Ana Zani, foi repatriada para o Brasil no início de julho e viu como estavam os postos de gasolina dos dois lados da fronteira. “Foi um choque. Voltei de ônibus e foi muito estranho porque na Argentina estava tudo fechado, com controle. E assim que passamos pela fronteira de Uruguaiana (Rio Grande do Sul), todos os postos brasileiros estavam abertos, lotados. Eu fiquei assustada, parecia que não estava tendo uma pandemia.”
Economia argentina
Apesar de quarentena seguir orientações internacionais, o fechamento do comércio e da indústria corroborou para agravar a crise econômica da Argentina. No final de maio as agências rebaixaram a nota de crédito do país devido ao não pagamento da dívida externa, que passa de 65 bilhões de dólares. “A pandemia está acontecendo em um momento em que a economia da Argentina já estava com muitos problemas. No ano passado, a inflação estava acima dos 53%, a pobreza em torno de 30% e o desemprego 10%”, pontua Marcia.
Agravando essa situação, existem projeções negativas em relação ao futuro econômico da Argentina. “Antes da pandemia a gente via muito catador de papel, pedintes. Como essas pessoas estão vivendo? Quando a quarentena acabar e a economia reabrir nós iremos saber a gravidade”, comenta a jornalista.
No dia 17 de julho, o Presidente Alberto Fernández anunciou que o país terá um reabertura gradual da quarentena, e que essa medida se estenderá até o dia 2 de agosto. Antes dessa atitude, o presidente argentino chegou a prorrogar a quarentena sete vezes. Apesar de algumas críticas sobre suas decisões, boa parte da população aprova seu mandato, iniciado em janeiro deste ano. “Os analistas aqui dizem que os argentinos sentem que têm um líder no comando de uma situação muito grave e mundial. Essa é a percepção aqui”, diz a jornalista.