Entregadores de aplicativo e economista analisam a situação que levou a categoria às ruas
No dia 1 de julho de 2020, entregadores de aplicativos organizaram uma greve que afetou quase todos os estados brasileiros com a paralisação dos serviços de entrega. Os líderes do movimento são os Entregadores Antifascistas, que buscam melhores condições de trabalho, de salário e, principalmente, um amparo por parte das empresas como Rappi, Uber Eats, IFood e Loggi.
A porta-voz dos entregadores, Luciana Kasai, de 26 anos, explica que nos últimos dois anos o funcionamento dos aplicativos mudou em relação a taxas e ao modus operandi. Em outras palavras, essa mudança acabou prejudicando cada vez mais o trabalho dos motoboys. Em nome do movimento, ela diz que “os antifascistas cooperaram com o Sindicato dos Motoboys de São Paulo, mesmo divergindo em muitos aspectos”. O presidente interino do sindicato, Gerson Cunha, confirmou a união.
Segundo a porta-voz, o motim ganhou notoriedade e relevância com o “Breque dos Apps”. “A maior conquista que nós tivemos com o breque, que teve muita visibilidade, foi a adesão popular. As pessoas não sabiam como era a nossa situação, o quão precarizada ela era, e assim passaram a olhar com outros olhos”, afirma Luciana.
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A pandemia do coronavírus também impulsionou os entregadores a realizar a greve. A porta-voz alegou que os aplicativos não forneciam o apoio devido aos trabalhadores. “Somente era disponibilizado um posto para a higienização das mochilas, sem propiciar transporte até o local e sem prover uma ajuda de custo. Também não forneceram máscaras e álcool em gel, como foi solicitado”.
Uberização e precarização do trabalho
As condições precarizadas privam os entregadores do acesso aos direitos trabalhistas. “O buraco é bem mais embaixo. O que a gente quer de verdade é que nosso trabalho seja visto como uma profissão. Que a gente tenha as mesmas garantias que outros serviços oferecem”, afirma o entregador Warley Gomes, de 22 anos.
Luciana possui outra visão a respeito. Ela pensa que deveria haver uma regulamentação, mas que isso não partiria dos aplicativos, e sim do Governo Federal. Em sua opinião, “a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho] não é o melhor cenário por ser muito fechado, então seria melhor criar uma outra alternativa com um modelo semelhante ao da nuvem, mas com um mínimo de horas trabalhadas combinadas previamente”. Isso daria um ganho mínimo aos entregadores, além de recursos e acesso a direitos básicos.
O economista da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base, Frederico Barreto, afirma que “existe uma oferta muito grande de mão de obra que atende os serviços de app. Não acredito que as paralisações na escala que aconteceram possam ter impactado o serviço de entrega de forma severa. A eficácia do breque dos aplicativos serviu mais para que a categoria evidenciasse a precarização das relações trabalhistas. Mas o sistema certamente soube absorver esses impactos sem grandes prejuízos para os estabelecimentos e para os apps”. [Leia entrevista com Barreto aqui].
O CEO da Rappi, Sérgio Saraiva, participou de uma live promovida pelo Citibank no dia 26 de agosto. Nela, ele afirmou que os lucros durante a pandemia praticamente triplicaram e, “caso haja algum imprevisto, a empresa teria caixa suficiente para lidar com a adversidade sem muitos problemas”.
Ouça abaixo o podcast da Factual900 com consumidores sobre o Breque dos Apps.