A Factual900 entrevistou um artista independente para descobrir como a categoria está lidando com o “novo normal” durante a pandemia de covid-19
A vida de músicos depende de aglomerações. Shows, ensaios, aulas e gravações são as principais atividades dessa profissão e, consequentemente, o ganha-pão. E, de um dia para o outro, tudo foi limitado. Os grandes nomes da música nacional e internacional conseguiram explorar as lives como solução para esse problema, vendendo o espaço para publicidade de grandes marcas. Já para quem é artista independente foi diferente.
A pandemia causada pelo novo coronavírus virou “de cabeça para baixo” o setor musical independente, fazendo com que esses artistas tenham que se desdobrar para fechar as contas ao final do mês. Sem apoio nenhum, travam uma árdua batalha com a dúvida que paira em suas cabeças: sair e arriscar suas vidas ou sofrer ainda mais problemas financeiros. Segundo a pesquisa “Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil”, divulgada em live do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura, para 42% dos artistas brasileiros a pandemia acarretou redução de 100% de receita com seu trabalho, entre março e abril de 2020.
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Vida do avesso
Um dos artistas que vem sofrendo com esse dilema é Rafael Valverde, 28, músico percussionista e baterista. O jovem tocava em orquestras de rua, rodas de samba e um trio de blues, além de ser professor de bateria em uma escola de música. A vida de Rafael foi completamente afetada pela pandemia. Ele fez seu último show em bares no Carnaval, suas aulas passaram a ser remotas e em um primeiro momento conseguiram se manter. Mas, com o passar do tempo e o aumento da crise financeira novas questões vieram à tona. A dificuldade em passar um conteúdo presencial de forma online, afetaram também a escola onde ele trabalhava, que chegou a perder 50% de seus alunos.
“Mudou tudo, principalmente na vida de nós artistas. Mudou 100%, da água para o vinho”, afirmou Rafael.
Antes da pandemia, a agenda do músico era completamente cheia a semana inteira, entre shows em bares, nas ruas, festas, rotina das aulas, entre outros trabalhos como freelancer. Com a flexibilização da quarentena, as possibilidades de retorno a algumas atividades apareceram. Dessa forma, as aulas presenciais devem ser retomadas e alguns bares vão abrindo aos poucos. Por mais que a saúde sempre venha em primeiro lugar e todas as medidas preventivas estejam sendo tomadas, sempre há o risco. Porém, a necessidade de voltar ao dia a dia em busca de renda fala mais alto, ainda mais após tanto tempo de isolamento. Rafael deixa evidente que não era a favor do retorno às aulas.
“É uma situação delicada, a escola vive da mensalidade dos alunos, com a situação precária da saúde no país eu não queria voltar de jeito nenhum, mas não tinha como, já não estava mais fazendo renda. Aceitei voltar ‘a contragosto’, mas era uma situação que não tinha mais jeito”, concluiu Rafael.
Assim, a solução encontrada por muitos artistas foi a transmissão ao vivo de shows, as lives. Porém, para artistas pouco conhecidos esse meio não tem surtido tanto efeito. O engajamento e o alcance de lives desses músicos muitas vezes se limitam a amigos e familiares, sendo difícil conquistar um público significativo e fazer dinheiro com o show. Mesmo assim, Rafael disse que pretende se apresentar neste formato, se receber um convite.
>> Cobertura estendida: ouça o podcast com Fábio Hurtado (Nerd Break) e depoimentos de consumidores(as) que se adaptaram às medidas de isolamento para frequentar cinemas e shows.