Com as novas tecnologias em desenvolvimento e produção, o tratamento da doença mudou ao longo do tempo
“Eu descobri que tinha diabetes quando eu tinha 7 anos […]. Eu fiquei um pouco assustada no começo, mas já no hospital percebi que não era nada terrível, só iria ter que me acostumar com as agulhas”, relata a estudante Vivian Bortolozzo, de 21 anos. Ela possui diabetes do tipo 1.
Em 14 de novembro, ocorreu o “Dia Mundial de Combate ao Diabetes”. Criado em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) junto à Organização Mundial de Saúde (OMS), a iniciativa pretende conscientizar sobre a doença que acomete 16,7 milhões de brasileiros, sendo que 7,7 milhões não sabem que têm, segundo a IDF. Ao redor do planeta, são mais de 350 milhões de pessoas.
Muitos podem associar a diabetes à obesidade, mas a Dra. Nathalie Santana, doutoranda e residente em Endocrinologia pela USP, explica que, “na verdade, a diabetes é um termo bem heterogêneo. Há várias doenças dentro do termo. É uma situação onde a glicemia, ou o açúcar do sangue, sobe; sendo causada por diversos motivos”. Apesar disso, é conhecida por seus três tipos mais comuns: tipo 1, tipo 2 e a diabetes gestacional.
Tipo 1
A doutora explica que no tipo 1 ocorre um aumento da glicemia, pois há pouca ou nenhuma produção de insulina por conta das células beta do pâncreas serem destruídas, geralmente, por alguma causa autoimune. Essas células pancreáticas são responsáveis pela produção de insulina. “A palavra cura é algo que usamos com certa cautela, pois, na maioria das vezes, se trata de uma doença crônica”, continua a endocrinóloga. No caso de Vivian Bortolozzo, o tratamento se baseia, predominantemente, na insulinoterapia.
“A adaptação como criança e logo após como adolescente foi muito complicada” diz Emili Dalpa Pereira, 20 anos, que também foi diagnosticada com diabetes tipo 1 aos 10 anos. “Pulava doses de insulina, comia sem precedentes, não fazia as medições diárias e tive muitas mudanças no psicológico, até mesmo ansiedade e depressão”, conta.
Entretanto, hoje a universitária relata mudança na sua postura em relação à doença. “Acredito que a maior mudança foi em relação aos cuidados diários e a um tipo de dor interna que criei em mim por não aceitar […]. Isso fez crescer um grande senso de responsabilidade e autocuidado.”
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Tipo 2
“Muda tudo no estilo de vida. A primeira coisa é a restrição de comida – doces, massa. Realmente, a vida muda, porque você fica condicionado a certos procedimentos”, conta Ivo Gemignani, 79 anos, paciente do tipo 2 há 49 anos.
Neste, o principal fenômeno é o de resistência à insulina – ou seja, a pessoa a produz o hormônio, porém o organismo não responde tão bem à ele. Na maioria das vezes, essa resistência ocorre pelo sobrepeso, estilo de vida ou histórico familiar, algo que torna o tipo 2 o maior de carga genética – e também o mais comum.
Nele, se fala muito em diminuição dos sintomas, principalmente nos casos que têm poucos anos de doença, seja através da perda de peso significativa ou uma mudança no estilo de vida. Mas, para Ivo, “ao mesmo tempo, a vida continua a mesma coisa se você controlar a alimentação e se ater aos remédios”.
Tratamento
Desde a descoberta da insulina em 1921, pode-se observar um “enorme avanço no tratamento da doença, desde da produção inicial à forma de aplicação”, segundo a assessoria da Sociedade Brasileira de Diabetes. “Os remédios vão se modernizando. Hoje, existem remédios mais eficazes que antigamente. A modernidade ajudou muito”, concorda Ivo Gemignani.
E o mercado apresenta muito dessa “modernidade”, principalmente para o tipo 1. Hoje é possível observar terapias de injeções mais rápidas e métodos que independem da seringa, que usam insulina inalável e bombas de insulina. Neste último, liberam-se hormônios continuamente de acordo com a dose de glicemia no sangue, e convencionou-se chamá-las de pâncreas artificial devido ao rápido avanço da tecnologia.
Já no tipo 2, pode-se observar novos medicamentos que baixam a chance de hipoglicemia, como também menor risco de ganho de peso. Antidiabéticos de metformina com duração prolongada são fornecidos pela Farmácia Popular, sendo uma terapia barata e com poucos efeitos colaterais.
Desde os novos aparelhos de medição que reduzem o número de picadas aos diferentes tipos de insulina mais rápidas, as novas tecnologias dão mais flexibilidade para o paciente, “diminuindo o fardo do tratamento” e trazendo benefícios metabólicos que as drogas anteriores não traziam, de acordo com Dra. Nathalie Santana.
No entanto, frente a criação e inovações, o acesso à elas se apresenta, em certos casos, como um empecilho. Embora “muita coisa interessante” esteja sendo produzida no Brasil, Emili conta que o preço para sair do tratamento convencional é elevado, e exige tempo buscar os recursos novos oferecidos pelo SUS. “Acredito que o maior sonho de todo diabético hoje seja a chegada do ‘pâncreas artificial’”, diz a estudante. Usuária da bomba de insulina há sete anos, sempre busca a tecnologia e “novidades dos próximos modelos, como podem ajudar no controle e ajudar a facilitar o dia a dia.”