Os desafios e incertezas do terceiro ano do ensino médio remoto em meio à pandemia do coronavírus
Desde março de 2020, cerca de 48 milhões de estudantes no Brasil encerraram suas atividades presenciais em suas respectivas escolas. Uma medida que, apesar de inconveniente, foi extremamente necessária como forma de prevenção à propagação do coronavírus. Assim, milhões de estudantes e educadores precisaram se adaptar rapidamente a um novo modelo de ensino: o remoto, não mais pautado nas relações sociais, mas sim em uma educação mediada por tecnologia.
É nesse cenário de mudanças e incertezas que os alunos do terceiro ano do ensino médio concluem seu último ano escolar. Uma pesquisa do Conselho Nacional de Juventude, divulgada em julho, mostrou que 7 em cada 10 estudantes, entre 15 até 29 anos, afirmam que seu estado emocional piorou durante a pandemia. A pesquisa mostrou também que 34% dos alunos são pessimistas em relação ao futuro.
“Sei que todos estão passando por essa mudança, mas estou muito mais ansiosa e tensa para os vestibulares. Com a diminuição da minha motivação e ritmo de estudos me sinto menos preparada do que deveria”, conta Fernanda Bittencourt. A pré vestibulanda de 17 anos quer prestar para o curso de Desing e sonha em ingressar em uma universidade pública.
A adaptação as aulas remotas é, definitivamente, um desafio. “Foi bem estranho no início, mas me adaptei super bem, comparando com o que meus amigos falam acho que estou bem em relação a isso. Claro que não se compara ao presencial!”, conta Juliana Dantas, 17, sobre sua experiência com o ensino a distância (EAD). Desejando ingressar no curso de Medicina Veterinária na Universidade de São Paulo, Juliana está focada nos estudos desde o início do ano e não encarou as aulas remotas como algo prejudicial.
Já a experiência com o EAD por Carolina Mechenas, 17 anos, não foi tão boa. “Não me adaptei às aulas online, para mim está muito difícil. É a mesma coisa que nada porque eu me distraio demais. Eu já tinha problemas de aprendizado em aulas presenciais e agora está impossível me concentrar. Sinto que não aprendo nada.”, conta a estudante. Objetivando entrar na Escola da Cidade, para cursar Arquitetura, Carolina não está nada satisfeita com seu desempenho esse ano.
Apesar de toda a dificuldade com a adaptação e o aproveitamento das aulas remotas, as alunas do Colégio Parthenon contam que as preparações para os vestibulares quase não se alteraram. “A preparação está tão intensa, tanto nas aulas quanto após as aulas. Por estar perto do fim do ano os professores estão aumentando os ritmos das aulas e acaba ficando muita coisa pra fazer depois. Geralmente acumula bastante atividade para fazer em fim de semana. Além dos simulados, que já fizemos uns 10.”
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Ainda segundo as alunas, a alta carga de tarefas e o ritmo acelerado de estudos para os vestibulares não coincidem com o momento atual. “Os professores não diminuíram nem um pouco a pressão em relação aos vestibulares. E eu acho que isso foi um grande erro, porque está sendo muito difícil para todos e eles acham que conseguimos lidar com a mesma cabeça que estávamos lidando no início do ano”, desabafa Carolina Mechenas.
A tristeza de não poder fazer as tão esperadas atividades exclusivas do terceiro ano do ensino médio também frustra bastante as meninas. “O terceiro é um ano tão importante, tanto em relação ao vestibular quanto em relação a vivência. Tem a festa junina, rep lago, sextas temáticas, churrasco pré-Enem. Todas essas atividades acabam diminuindo o estresse e a tensão do vestibular. Pensar que eu perdi todas essas etapas tão gostosas me faz querer fazer o ano de novo”, afirma Juliana.
“Eu lembro que o meu último dia de aula antes da pandemia acabou sendo um dia divertido, mas eu fico muito triste em saber que eu não vou poder voltar e ver meus amigos pela última vez na escola, nem ter aquele último dia de aula. Essas coisas não vão voltar e isso me deixa triste demais. A gente perdeu um dos anos mais importantes escolares, tanto em vivencias quanto em aprendizados”, conta Carolina.
O ano cheio de mudanças e perdas pode afetar no desempenho dos alunos nos vestibulares, se comparado com os anos anteriores, mas essa ainda é uma questão em aberto que deverá ser analisada após a conclusão das provas. Para Paulo Henrique de Souza, 51 anos, doutor em “Ensino de Física” pela Universidade de São Paulo, professor há mais de 22 anos, as perdas das escolas particulares, apesar de irreparáveis, não se comparam as perdas das escolas públicas. “Os alunos das escolas particulares continuam com aulas remotas, os alunos das escolas públicas estão sofrendo bem mais, já que tiveram uma dificuldade bem maior com a instalação do EAD no ensino. É ai que nós vamos ter uma disparidade ainda maior. A desigualdade vai se acentuar ainda mais”, afirma Paulo Henrique.
Para Paulo Henrique as grandes perdas foram os momentos que não voltarão. “Os alunos perderam tanto conteúdo quando vivencias, mas conteúdo se recupera, vivencias não. Estar com o outro na escola foi a maior perda, definitivamente. Aquele ano, cheio de emoções e atividades, infelizmente eles não terão”.