"Sentimento de angústia": como conteúdos nas redes sociais sobre volta à normalidade no exterior impactam jovens brasileiros - Revista Esquinas

“Sentimento de angústia”: como conteúdos nas redes sociais sobre volta à normalidade no exterior impactam jovens brasileiros

Por Mariana Savaget : maio 8, 2021

Em países como Austrália e Estados Unidos, vídeos em festas, shows e confraternizações em bares estão crescendo nas redes sociais

“As redes sociais são uma válvula de escape, um tipo de analgésico, mas também um gatilho daquilo que a gente não sabe quando vai ter de volta.” Esse é o relato da estudante Eduarda Prado, 19 anos, a respeito do impacto das mídias no momento atual.

Desde o ano passado, o efeito do aumento do uso das redes sociais durante a pandemia na saúde mental dos jovens tem sido tema de discussão. Com o crescimento de conteúdos que mostram pessoas de outros países retomando suas rotinas sem isolamento social, a juventude brasileira é cada vez mais afetada pela internet.

Eduarda confessa que intensificou o uso das redes sociais
Acervo Pessoal

Em 13 de abril de 2021, pouco mais de um ano após as primeiras medidas de combate à pandemia serem iniciadas, o Brasil registrou, no período de 24 horas, 3.808 mortes por covid-19. Nesse mesmo dia, foram apenas dois novos casos da doença na Nova Zelândia e 18 na Austrália. Nos Estados Unidos, que aplicou 4,6 milhões de doses da vacina em 24 horas no dia 11 de abril, espera-se que até 4 de julho, comemoração da independência do país, já seja possível voltar a uma normalidade parcial.

Enquanto diversos países parecem ter a pandemia cada vez mais controlada, o Brasil vive uma crise sanitária de proporções catastróficas. O País registrou o maior número de casos e mortes desde o início da doença, com um sistema de saúde em colapso pela lotação dos leitos de UTI e a falta de equipamentos necessários para o combate do vírus.

São cada vez mais comuns na web, vídeos de países que já estão voltando a algum nível de normalidade. Grupos de pessoas se encontrando sem máscara, restaurantes e bares funcionando sem restrições e até mesmo festivais de música lotados acontecendo com segurança.

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Gabriela Leite, estudante de 18 anos, afirma que “pegando os comparativos Austrália e Brasil, o que me gera é só inveja. O meu medo realmente é perder as vivências. Penso que, por estar sendo privada de tudo isso, estou perdendo experiências incríveis de vida.”

As comparações são inevitáveis para Gabriela
Acervo Pessoal

Redes sociais e saúde mental

A psicóloga Viviane Salerno acredita que as redes sociais no contexto da pandemia têm funções conflitantes. “De um lado, elas ajudam os jovens a lidarem com o isolamento e a se conectarem, de alguma forma, com a vida para além do quarto, da família e da intensidade do mundo interno que, muitas vezes, se torna muito difícil por estarem vivendo esse momento sozinhos”, explica. “Por outro lado, geram ansiedade pelo retorno da vida como era antes, dos encontros, das aglomerações com amigos e da liberdade de escolher aonde ir.”

Segundo ela, essa ansiedade se dá também “pela crença de que o que se apresenta nas redes sociais é uma realidade absoluta ou uma verdade absoluta. Isso pode gerar comparação, tristeza e muita frustração caso o adolescente veja algo que não estiver vivendo.”

O fenômeno conhecido como FOMO, ou “fear of missing out” (que pode ser traduzido como o medo de ficar de fora), cresce nos jovens brasileiros que estão com cada vez menos esperança no retorno da normalidade em suas vidas e na volta do contato físico com amigos e parentes.

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Para Eduarda Prado, o TikTok e o Instagram são os principais aplicativos causadores dessa ansiedade. “Vejo a página principal lotada de pessoas da minha idade indo para bares, festas e falando ‘you only live once’ (só se vive uma vez), ‘sleep when you die’ (durma só quando estiver morto), entre outras coisas”, conta a estudante.

A volta da normalidade nesses países está profundamente ligada ao cumprimento do isolamento social. A situação da covid-19 na Austrália foi controlada a partir do respeito às práticas de combate instauradas pelo governo, como o lockdown.

Catarina Marshall, 18 anos, diz que o cenário brasileiro pode ser resumido ao sentimento de angústia. “Me sinto assim ao pensar que o que estamos passando é controlável. Já normalizamos muito que a pandemia é algo grave e vendo esses países a gente fica pensando que não precisava ser assim, não precisávamos estar perdendo quatro mil vidas por dia há tanto tempo.”

Catarina lamenta o cenário brasileiro atual
Acervo Pessoal

 

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