De acordo com o Serviço de Informações sobre Mortalidade, proporcionalmente as regiões periféricas de São Paulo sofrem mais com a pandemia
A cidade de São Paulo soma mais de 108 mil mortos pela pandemia de covid-19 e os dados estatísticos apontam que a desigualdade social tem influência nos números. Regiões de condições socioeconômicas menos favorecidas e com menos políticas públicas apresentam mais óbitos causados pelo coronavírus.
Segundo uma pesquisa do Serviço de Informações sobre Mortalidade (SIM/PRO-AIM/CEInfo – SMS/SP), divulgada pela Agência Mural, bairros como Brasilândia, Jaraguá e Pirituba, localizados em zonas afastadas do centro de São Paulo, estão entre as maiores taxas de mortes confirmadas por Covid. No caso da Brasilândia, o número de óbitos alcança 800. Em contraponto, bairros como Consolação, Bom Retiro e Sé apresentam, individualmente, menos de 150 mortes. Apesar de as áreas centrais terem mais casos confirmados, a taxa de recuperação é maior em relação às mortes.
Julie Dara Tanner tem 25 e é cirurgiã dentista moradora do bairro Brasilândia. Além de vizinhos, ela relata ter perdido seu tio, que trabalhava como autônomo. “Apesar de eu seguir todos os protocolos, muitos conhecidos da minha região faleceram”, ela conta. Ademais, a dentista diz ter pacientes que moram na Brasilândia que também contraíram o vírus.
A experiência de moradores de outras regiões da periferia de São Paulo com o coronavírus foi a mesma que Julie presenciou. É o caso de José Cordeiro dos Santos, de 56 anos, que mora no Jaraguá e migra todos os dias para o Alto da Lapa para trabalhar. O gerente de padaria percorre mais de 20 km diariamente contando a ida e a volta para sua casa. Por fazer as viagens usando transporte público, o que aumenta sua exposição ao vírus, José contraiu a Covid-19 e seu filho e sua esposa também foram contaminados.
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Problemas que já existiam antes da pandemia como falta de saneamento básico e políticas públicas de qualidade nessas áreas dificultam o combate à pandemia. Segundo a bióloga e doutora Márcia Aparecida Sperança, professora da Universidade Federal do ABC (UFABC), de 49 anos, “a questão de saúde pública com o coronavírus é gravíssima. O Brasil é um dos países que têm a pandemia descontrolada desde o início”. Ela ainda acrescenta que “o atual governo é o pior na gestão do combate ao vírus”.
As outras parcelas do auxílio emergencial que seria destinado a famílias que moram na região periférica da capital ainda é discutido pelo Governo Federal. A falta desse apoio financeiro impede que alguns trabalhadores possam cumprir o isolamento social. “Aqueles que estão trabalhando em serviços essenciais como transporte público, comércio e escolas estão sob risco”, explica a bióloga.
A vacinação para esse grupo ainda não é a prioridade. De acordo com o pesquisador do Instituto Pólis, Vitor Nisida, seria mais eficaz para o combate à pandemia primeiro imunizar habitantes das regiões mais afetadas. O número de mortes não é proporcional ao número de casos, visto que cada região tem relações diferentes entre esses dados.
“O plano de vacinação é descentralizado, cada cidade recebe o número de vacinas por lote e não por quantidade de mortos em cada área”, esclarece a doutora. “O governo não está preocupado em conter a pandemia e sim, mantê-la”.
* Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.
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