Enfermeira e professores relatam dificuldades de conciliar trabalho e bem-estar; estudo da Unifesp aponta que 62% dos brasileiros têm ansiedade
“Sinto meu corpo constantemente cansado. Minha mente está destruída por ver tantas mortes e por trabalhar tanto a fim de salvar vidas e, muitas vezes, não conseguir”, desabafa Joselaine Aquino, 40 anos, enfermeira há mais de 19, sobre as dificuldades de lidar com a fadiga e o trabalho durante a pandemia.
O depoimento da enfermeira retrata a atual situação em que os funcionários de saúde se encontram. Fadigados, possuem uma grande responsabilidade de salvar vidas em suas mãos, o que leva ao cansaço mental e sintomas depressivos que dominam a rotina. Segundo ela, o cotidiano dos trabalhadores dessa área intensificou-se durante a pandemia. Com o aumento da jornada de trabalho, o ritmo frenético dos hospitais foi sentido de forma física e na saúde mental.
“A incerteza de quando tudo isso irá acabar nos deixa sem forças para lidar com o dia a dia e as frustrações, mas seguimos com esperança”, diz ela. Mesmo assim, acredita em uma melhora no quadro pandêmico e torce para de que ocorra um alívio no ambiente de trabalho.
No final de 2020, a Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) realizou uma pesquisa de campo referente a doenças mentais durante a pandemia. Nela, foi divulgado que, dentre os participantes, 62% afirmaram ter ansiedade. Desses, 55% têm sintomas graves, sendo um deles a insônia, que leva milhares de brasileiros à falta de sono.
De acordo com o estudo, a saúde mental tornou-se o principal objetivo a ser adquirido dentro da população. O bem-estar mental proporciona uma vida mais leva e torna a rotina menos cansativa. No decorrer da pesquisa, foi relatado que os participantes que praticavam atividades físicas, tinham uma boa alimentação e uma regulagem no contato com a luz e na absorção de vitamina D, tiveram menor ocorrência de sintomas depressivos.
Saúde mental na educação
Outra profissão que vê esses sintomas tomando conta dos postos de trabalho são os professores, que tiveram de se adaptar ao “novo normal”. “Os professores de língua portuguesa gostam do contato com a escrita no papel e da produção em salas de aula, através das leituras e redações. A tecnologia tirou esse estágio de observação do desenvolvimento dos alunos”, diz Diego Moraes. Ele e Paola Leutwiler são professores da disciplina e proprietários da escola de redação Palavrear e tiveram que lidar com as inseguranças do ensino remoto e com a instabilidade da educação durante a pandemia.
Para eles, a troca no Ministério da Educação durante a pandemia trouxe uma preocupação de como lidar com os estudantes e qual a melhor forma de transmitir o ensino a eles. O apoio educacional dos professores aos alunos foi fundamental para que houvesse equilíbrio entre o ambiente digital e os estudantes. Entretanto, os profissionais afirmam que não obtiveram o apoio governamental necessário, o que levou a um cansaço emocional.
“A educação brasileira não é preparada para o trabalho online, pois não possui tecnologia e nem uma metodologia que atenda a todos no ambiente virtual”, explicam.
“Os problemas psicológicos se agravaram logo após as férias antecipadas no período do mês de março. As cargas horárias dos professores dobraram e a falta da licença no meio e no final do ano evitou um descanso do ritmo frenético que aulas demandavam”, lembra Diego. Além disso, acrescentam o modo como a falta de folga da vida acadêmica os impactou: “Afetou psicologicamente devido ao englobamento da vida profissional com a pessoal, as casas serviram de escolas e salas de aulas, tirando a nossa privacidade”.
Diego e Paola acreditam que a saúde mental tem uma grande importância dentro das profissões, pois ela favorece um melhor ambiente de trabalho, deixando os profissionais com maior estabilidade para exercer suas funções dentro dos postos.
*Redação Aberta é um projeto destinado a apresentar o jornalismo na prática a estudantes do ensino médio e vestibulandos. A iniciativa inclui duas semanas de oficinas teóricas e práticas sobre a profissão. A primeira edição ocorreu entre 17 e 28 de maio. O texto que você acabou de ler foi escrito por um dos participantes, sob a supervisão dos monitores do núcleo editorial e de professores de jornalismo da Cásper Líbero.