Com a pandemia de covid-19, mães tiveram que adaptar e criar novas rotinas para conciliar a dupla jornada com a educação de seus filhos
“Como estratégia, utilizei bexigas de diversas cores, tapete educativo com números e figuras, cubos com formas, bonecos, giz de cera e caderno”, conta Roseli Moreira, mãe do Joaquim, de dois anos, enfermeira e preocupada com a educação do filho.
Com a repentina chegada da pandemia, as famílias brasileiras precisaram se adaptar para saber lidar com novas situações. Em um cenário no qual muitos tiveram o trabalho deslocado para dentro de suas casas, conciliar afazeres domésticos a um tempo de qualidade com os filhos não foi fácil, e se tornou necessário o uso da criatividade no processo de aprendizado daqueles que, por lei, ainda não são obrigados a estarem matriculados nas escolas.
Por conta da sua profissão, Roseli não pôde trabalhar no sistema home office. Mas, durante esse processo, contou com a ajuda de seu marido, Laerte de Castro Jr, também enfermeiro, para que seu filho absorvesse conhecimentos de forma descontraída e aproveitasse, de forma saudável, a primeira infância. O casal aproveitou o fato de trabalharem em noites alternadas para se ajudar com os afazeres de casa e a educação do filho.
Apesar das dificuldades, a união da família durante esse processo pode ser proveitosa. Milene Pereira Cesar, mãe da Maria Luiza, de dois anos, constata que, de acordo com a pediatra que acompanha sua filha, seu desenvolvimento está adiantado com relação às crianças da mesma idade, e o mesmo processo foi observado com Joaquim. “Se comparado às outras crianças de 2 anos, eu acredito que ele está bem adiantado, consegui passar muitas coisas para ele e, como ele aprende muito rápido, está sendo fácil acrescentar as informações”, conta Roseli.
Embora existam vantagens, há também desafios. “A maior dificuldade foi a falta de tempo e o psicológico, que, mesmo estando abalado, eu não podia deixar meu filho e a educação dele de lado”, afirma Roseli. De acordo com uma pesquisa realizada pelo laboratório Pfizer, entre os fatores que impactaram a saúde mental durante a pandemia, 23% mencionaram as dívidas e a situação financeira, 18% o medo de pegar covid-19 e 12% a morte de alguém próximo. Para que fosse possível conciliar o bem-estar psicológico com a educação de Joaquim, Roseli e Laerte buscaram o apoio de familiares através do contato entre mensagens de texto e ligações de vídeo, já que o cenário pandêmico impossibilitou o contato direto.
“Para mim não houve dificuldade em educar, mas em manter ele em uma rotina”, alega Mônica Sciacca, bancária que também precisou adaptar a rotina para passar a seu filho Theo, de três anos, os ensinamentos básicos e necessários para a idade. A neurociência vem demonstrando que, durante os primeiros anos de vida de uma criança, o cérebro se desenvolve rapidamente com uma grande capacidade de aprendizagem, lançando as bases para desenvolver competências que permitem atingir níveis elevados de produtividade, por exemplo. Mônica, objetivando o foco de seu filho, tentou “criar brincadeiras com ele, as quais ele pudesse fazer usando a imaginação”.
Apesar das dificuldades encontradas e das necessidades de adaptações, esse período em casa também trouxe um lado positivo para as famílias. Segundo Rodrigo Ratier, jornalista com doutorado em educação e professor da Faculdade Cásper Líbero, “o convívio social e o estabelecimento de laços é um aprendizado enorme”, fato que destaca os benefícios da convivência mais próxima entre pais e filhos durante o período de isolamento. “Pude estar mais próxima dela nesse período. Procuramos levá-la em praças, brincamos juntas, compramos lousa, caneta, lápis de cor, guache, então ela conseguiu realizar as atividades com êxito”, finaliza Milene.