Entenda quais são as armadilhas financeiras mais comuns e por que o número de vítimas é tão grande
Ganhar dinheiro de forma rápida, fácil e sem riscos todo mundo quer! No entanto, é justamente esse imediatismo para enriquecer que faz muitas pessoas caírem em golpes financeiros fantasiados de ótimos investimentos. Assim, aquele sonho de ficar rico do dia para a noite rapidamente se transforma no pesadelo de perder tudo aquilo que foi “investido”.
Um dos motivos para essas fraudes fazerem cada vez mais vítimas é a falta de conhecimento financeiro das pessoas sobre esses golpes. Isso porque aqueles que caem nos golpes muitas vezes não sabem a dificuldade de alcançar o rendimento prometido pelos golpistas com os investimentos permitidos no Brasil e por isso aceitam a promessa ilusória dos fraudadores.
Alex Martins, analista CNPI da Nova Futura Investimentos, afirma que “se as pessoas tivessem a noção do quanto é difícil fazer dinheiro no mercado financeiro, talvez não cairiam nessas falácias. O dinheiro fácil não faz parte do mercado de renda variável e enquanto as pessoas não aceitarem isso vão cada vez mais cair nessas situações”.
Por que as pessoas caem em golpes?
Segundo o estudo sobre fraudes financeiras realizado em 2020 pela CVM, Comissão de Valores Mobiliários, entidade que tem por função fiscalizar o mercado de valores mobiliários do Brasil, a justificativa mais citada pelas vítimas quanto ao motivo de terem investido no esquema fraudulento foi a de obter lucro (35%).
Na sequência vem a finalidade “diversificação do portfólio” (17%), seguida por “garantir fundos para a aposentadoria” (12%). A opção “pagar dívidas” representa apenas 7% da amostra total analisada, o que desconstrói o estereótipo de que a maioria das pessoas que caem em golpes financeiros estão desesperadamente em busca de dinheiro para quitar as suas pendências.
Esse estudo também traz outros dados sobre os golpes financeiros, como os aspectos que contribuíram para as pessoas caírem na fraude. Sendo “o profissionalismo e a confiança que o site da empresa passava” a opção mais escolhida pelas vítimas (39,9%), em seguida vem o fato de que “amigos e/ou familiares já tinham feito o investimento” (38,8%). Já a menos mencionada foi a “pressão do fraudador para tomar a decisão” (4,5%) ao lado “do desconhecimento da modalidade do golpe” (24,7%).
Como esses processos criminosos funcionam?
Esquema de pirâmide
As pirâmides oferecem grandes lucros com baixos investimentos em um curto período e se baseiam no frequente recrutamento de novos membros para compor o golpe.
Nesse tipo de fraude, um investidor paga para fazer parte e deve convidar mais pessoas para entrarem, cada pessoa que entrar paga uma taxa para ele. Essas pessoas, por sua vez, devem trazer outros indivíduos, que também o pagam. Dessa forma, o investidor paga uma taxa para uma pessoa e recebe de várias.
O que ocorre, porém, é que o esquema se torna insustentável ao passo de que a quantidade de pessoas necessárias para manter esse fluxo de pagamentos cresce de maneira exponencial e em pouco tempo chega a ser maior do que a quantidade de pessoas na Terra. Se cada investidor tiver que chamar seis pessoas, por exemplo, após 13 rodadas o número de pessoas necessárias para sustentar o esquema passa a ser maior do que 13 bilhões, quase o dobro da população terrestre.
Golpe de seguradora
O golpe de seguradora consiste em uma promessa de lucro vultoso e instantâneo que não se concretiza. Aqui, o golpista entra em contato com a vítima se passando por um funcionário de seguradora e diz que existe um seguro ou benefício o qual a pessoa tem direito e para reivindicá-lo basta pagar determinado valor mascarado como “taxa de serviço”. O golpe acontece quando essa suposta taxa é paga e o sofredor não recebe nenhum valor.
Aqui o contato geralmente é feito por telefone e o golpista, mascarado de funcionário, pede alguns dados pessoais para confirmação de identidade. Uma vez que essa falsa confirmação acontece, é apresentado então o benefício ou valor (ambos inexistentes) do qual a vítima tem direito e uma forma de pagamento referente à taxa de serviço ilegítima.
Golpe de fundo de crédito
O golpe de fundo de crédito se baseia em induzir a vítima a realizar um investimento ou um empréstimo em uma sociedade fantasma. Os golpistas utilizam o nome do FGC, Fundo Garantidor de Créditos, que é uma entidade privada que protege em até 250 mil reais o investidor que aplica seu dinheiro em instituições financeiras associadas a ele, dessa forma, se a instituição falir, o indivíduo tem garantido o retorno do valor citado.
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É muito comum que os criminosos entrem em contato com as vítimas pelo Whatsapp solicitando informações e dados pessoais, induzindo a realizar um investimento, além disso, os golpistas criam sites falsos para não gerar dúvida no possível investidor. Após a realização, os criminosos desaparecem junto com o dinheiro do indivíduo. Apesar de muitas pessoas caírem no golpe, acreditando estarem aplicando seu dinheiro protegido pelo FGC, a entidade em questão não intermedeia investimentos diretamente, o desconhecimento dessa informação é um dos fatores que contribui para que os criminosos saiam bem-sucedidos.
Golpe de pensão e aposentadoria
Você sabia que por conta de apenas uma ligação sua aposentadoria pode ir por água abaixo? Neste golpe, alguém se passa por um funcionário da CNPS, conselho Nacional de Previdência Social, ou do INSS, Instituto Nacional do Seguro Social, alegando que a vítima tem supostos benefícios a receber só que para ter acesso ao mesmo ele precisa dos seus dados pessoais e de uma transferência para uma conta bancária. Dessa maneira, vale ressaltar que os fraudadores entram em contato com as vítimas de diversas formas, por telefone, WhatsApp, via e-mail entre outras.
Para identificar se você recebeu uma tentativa de fraude é importante ter a noção de que o próprio site do INSS informa que nunca pedirá dados pessoais via e-mail, telefone ou WhatsApp. O portal do órgão ainda alerta para que os beneficiários de forma alguma façam transferências bancárias em prol de algum benefício.
Golpe de ações
Nesses casos, a vítima é induzida pelos golpistas a investir em ações apresentadas sempre como muito vantajosas, seguindo o padrão de lucro rápido e fácil. O golpe acontece quando os criminosos se passam por pessoas capacitadas e exigem valores das vítimas para investir. Funciona basicamente como uma consultoria, onde o criminoso vai apresentando gráficos e planilhas forjados para passar uma falsa impressão de lucro ao longo do tempo. Em algumas situações os golpistas até repassam pequenos valores para as vítimas para reforçar a credibilidade do processo, mas depois de um tempo somem com a maior parte do dinheiro.
Em casos assim, é preciso ter cuidado com sites impostores configurados para passarem a impressão de serem legítimos, com aplicativos de celular falsos e e-mails fraudulentos. Esses são os métodos mais comuns de aplicar esse tipo de golpe, e existem maneiras simples de minimizar os riscos de se envolver em situações assim, como checar se ao lado da URL do site se encontra um pequeno cadeado na barra de pesquisa ou se certificar de que o endereço do site esteja com os caracteres corretos (é muito comum golpistas trocarem a letra “o” pelo número “0”). No caso dos aplicativos de celular, os riscos são menores pois as lojas de aplicativos, como App Store e Play Store, conseguem interceptar esse apps antes que algo possa acontecer. Mesmo assim, é importante que o usuário se atente a detalhes como possíveis erros ortográficos ou logos suspeitas.
Afinal, existe solução para os golpes?
“Solucionar o problema do desconhecimento financeiro é uma batalha intensa, é um cenário desafiador, mas que precisa começar”, segundo Alex Martins, analista CNPI da Nova Futura Investimentos.
A grande dificuldade para impedir que as pessoas continuem caindo nesses golpes é o fato de que a maioria das brechas que permitem que eles ocorram são dadas justamente por quem os sofre. Assim, é necessário que o próprio indivíduo esteja sempre atento com o que vê na internet e com mensagens ou ligações que recebe, justamente para se prevenir de ser lesado de qualquer forma.
A educação financeira é um atenuador: conhecer o que é um investimento, como funciona e as possibilidades de lucro que estão dentro da realidade são uma maneira de impedir que se caia nesses golpes. Para Alex Martins, a educação financeira, sozinha, não é a solução:
“Muitas vezes só a educação financeira não basta, você tem que ensinar as pessoas a serem disciplinadas em suas vidas financeiras justamente para que elas não acabem se endividando mais do que podem. Se a pessoa não tem uma disciplina financeira dificilmente a educação financeira vai surtir efeito, a pessoa precisa realmente ser disciplinada na sua vida como um todo para isso realmente surtir efeito na questão financeira principalmente com investimentos”.