Instalada em uma das principais esquinas da cidade, Passagem Literária da Consolação passa despercebida para a maioria dos transeuntes
A entrada do lugar é discreta. Por ordem da prefeitura, que proíbe a alteração da fachada em lugares públicos, não há uma placa que identifique o local, tampouco iluminação no estreito túnel que conduz ao subsolo. Você com certeza já passou por aqui, mas esses fatores talvez expliquem o porquê a Passagem Literária da Consolação, a despeito da localização nobre, passa tão despercebida pelos transeuntes.
Localizada entre as calçadas do cinema Belas Artes e do Riviera Bar, a Passagem Literária é uma cidade de papel abaixo de uma cidade de pedras. Em meio à agitação e correria da esquina com a Paulista, representa um respiro por meio da literatura e arte. As estantes e mesas do sebo guardam os mais diversos livros. Alinhadas no centro da galeria, elas dividem de um lado um painel de livro onde ficam as exposições rotativas de arte, e do outro uma parede repleta de grafites e posteres de filmes.
Revitalização cultural
O lugar foi cedido pela prefeitura e hoje é tocado por uma associação de livreiros: “Foi formada a partir de um caso que ocorreu na Rua Augusta: uma operação da guarda civil passou lá para recolher as mercadorias das bancas, de contrabando, e acabou recolhendo os livros dos livreiros também”, conta Júnior Buzeli, funcionário da passagem literária.
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Democratização literária
O espaço já é conhecido por quem passa pela região diariamente. A parada de ônibus em frente a uma das saídas da passagem é o ponto de Leonardo Barcelos, 25, que diz já ter visitado o sebo subterrâneo. “Nós passamos bem rápido e acabamos não comprando livros. Vi que os livros são baratos e incentivar uma leitura mais democrática, em que as pessoas possam ter mais acesso, é de extrema relevância”, afirma Barcelos.
A partir da ascensão das redes sociais no período da pandemia, o local passou por um processo de elevação de seu público. Júnior conta que aplicativos como TikTok e Instagram foram essenciais para a recente popularização da passagem. Nessas redes, é possível encontrar conteúdos divulgando o local e incentivando a visita na galeria.
Educação é cultura e cultura liberta. A história do local, abandonado até a instalação do sebo, representa o potencial transformador da literatura, que acabou por revitalizar o espaço. Atrás dos portões tímidos da passagem, existem histórias esperando para serem lidas e artes que não podem passar despercebidas.