“A gente enxerga com clareza uma ameaça de golpe”, afirma a presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo
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São Paulo – O ato em defesa da democracia desta quinta-feira (11) de manhã na Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo, permitiu que os estudantes mostrassem sua indignação com o clima de instabilidade em torno do processo eleitoral alimentado pelo governo Bolsonaro e seus ataques à democracia.
A presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), Tayná Wine, 25, destacou a participação estudantil no movimento: “Nós, estudantes, avaliamos que [o estado democrático de direito] é um assunto emergente, ao passo que se chega mais perto da eleição. A gente enxerga com clareza uma ameaça de golpe”.
A representatividade da data, segundo Tayná, confere mais solenidade ao evento, que teve seu simbolismo concentrado duas cartas em defesa da democracia lidas em sequência – uma no Salão Nobre, de caráter mais institucional, assinada por mais de 100 entidades e outra representando a sociedade civil, com leitura no pátio do prédio histórico da faculdade.
“No dia do estudante, precisamos estar na rua para mostrar que nós defendemos nossos direitos e também os do nosso povo. Hoje tem sido um dia muito simbólico. Estão presentes muitos movimentos sociais, organizações e coletivos para fazer a leitura dessa carta à sociedade”, destaca Wine.
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A presidente da UEE-SP destaca que o contexto das eleições deste ano é especial, relembrando a forte mobilização para expedição de títulos dos eleitores jovens. “A juventude tem se preocupado mais com a política, tanto que foi o ano em que os jovens mais tiraram títulos de eleitor. A gente percebe que a juventude tem se indignado muito com o atual governo, e tem entendido que a mudança também se dá nas urnas, nas ruas e no diálogo”, afirma Tayná.
“É muito importante que votemos e expressemos nossa opinião por meio do voto. A juventude esse ano vai ser mais incisiva, participando de forma mais ativa da política”, completa.
Preocupações de quem testemunhou a ditadura
A memória do regime de exceção esteve presente nos discursos dos palanques e nas motivações pessoais dos manifestantes. O advogado George Melão, 60, afirma temer os ataques proferidos às instituições. “Toda e qualquer atitude é louvável. Temos que lutar por tudo que já conseguimos. Tendo em vista os ataques, é necessário que as massas de bem se unam para manter o que conquistamos depois de mais de 20 anos de ditadura”, destaca George.
João Batista Gilmar de Oliveira, 62, professor aposentado de História, afirmou estar presente no evento em prol da democracia e da liberdade: “É importante estar preparado para que o golpe não ocorra no dia 7 de setembro. Devemos estar unidos para não permitir que isso aconteça, senão, nosso povo corre sério risco.”
O protesto de hoje ocorre num cenário de instabilidade política. Agosto marca o início da campanha eleitoral que, no caso de 2022, é especialmente permeada por incertezas quanto à continuidade do estado democrático de direito. O manifesto lido no pátio da faculdade reafirma o compromisso da sociedade civil com a democracia e afasta os rumores de fraude no sistema eleitoral fomentados pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Palavras de ordem contra o chefe do Executivo e em favor do principal adversário eleitoral de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marcaram presença entre quem compareceu ao Largo de São Francisco.