A opinião sobre acompanhamento psicológico no futebol ainda não é uma unanimidade, mas você sabe o porquê?
Após quatro anos, a Seleção Brasileira volta a brigar pelo tão sonhado hexacampeonato. A esperança no Brasil é alta por parte dos torcedores. A cada dia que passa, alimenta-se a expectativa de uma possível vitória, muito em razão do desempenho da equipe nas eliminatórias. Mas, apesar da confiança da torcida, da comissão técnica e dos jogadores, a equipe ainda sofre quando o assunto é o psicológico, principalmente, por conta da pressão por parte dos fãs. Todos cobram que ela volte a desempenhar um bom papel e ser protagonista na Copa do Mundo.
Para ser campeão, não basta apenas um grupo fisicamente preparado e entrosado; também é necessário estar com a cabeça preparada. O elenco da Seleção aparenta estar pronto para disputar mais uma Copa e, desta vez, deixar para trás as queixas sobre preparação psicológica dos atletas, que já foi tema de mesas redondas em outras oportunidades.
Psicológico em pauta
Episódios passados que marcaram os jogadores e o time refletem a importância de um acompanhamento profissional para todos os atletas de alto rendimento que vão concorrer numa competição, independentemente de qual seja. Em 2014, o capitão Thiago Silva se isolou dos demais jogadores e chorou antes das cobranças de pênalti contra o Chile, nas oitavas de final, e foi duramente criticado pelos jornalistas e fãs.
Gabriel Jesus também foi alvo de comentários por sua postura, quando foi expulso na final da Copa América contra a Argentina, em 2019. Além de Neymar, que sofre com fortes críticas sobre seu preparo mental desde o início de sua carreira, principalmente vestindo a camisa da Seleção.
Atitudes como essas são motivo de especulação sobre a estabilidade emocional dos jogadores, e levanta uma questão no campo da psicologia esportiva: o auxílio profissional faz diferença? Qual a importância dada pelos clubes e seleções ao assunto? Quantos atletas possuem acompanhamento?
Dos 37 nomes convocados pela Seleção Brasileira ao longo de 2022, apenas 16 tiveram acesso a apoio psicológico profissional nos seus clubes. Esses jogadores estão na mais alta prateleira do futebol mundial e frequentemente enfrentam os melhores nas competições mais niveladas do planeta. Esse enfrentamento é saudável para o nível técnico, mas apenas esses duelos não bastam para manter a mente preparada para momentos de decisão e pressão da carreira do atleta.
Os atletas convocados ao longo do ano distribuem-se em 42 clubes diferentes, considerando as mudanças de equipe nas janelas de transferências, divididos entre 38 times europeus e quatro brasileiros. Desses, 36% dos europeus dispõe de tratamento psicológico e 50% desses brasileiros têm uma equipe médica dedicada a isso para seus atletas.
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O papel de um psicólogo esportivo
O trabalho do psicólogo esportivo é bem amplo e não pode ser padronizado entre todas as equipes. Segundo Rubens Oliveira, psicólogo do esporte, a psicologia esportiva pode ser definida como uma ciência que visa otimizar o rendimento de atletas e equipes, fazendo com que a engrenagem inteira funcione de maneira harmônica. “Nós, psicólogos e comissão técnica somos aqueles que lubrificam o motor, para que ele gire da melhor maneira.”
De acordo com um estudo de 2015 da FIFA, 38% dos jogadores tiveram sintomas depressivos durante a carreira, além de terem sofrido com ansiedade, pânico ou vícios. Esses episódios, segundo Rubens, são causados pela pressão por resultados, não saber lidar com a vitória ou derrota e ansiedade antes da competição.
Barbosa, ex-goleiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950, que sofreu até os últimos dias de sua vida, crucificado pelo gol sofrido contra o Uruguai na final da competição, se tornou um mártir quando o assunto é pressão psicológica na seleção canarinho. Um caso semelhante ocorreu com Fernandinho após a Copa do Mundo de 2018. O volante, que foi acusado como um dos culpados pela eliminação do Brasil nas semifinais contra a Bélgica, nunca mais foi convocado pelo técnico Tite.
O treinador revelou em entrevista ao SporTV que não chamou mais o jogador por conta da pressão e ameaças que o atleta e sua família sofreram após o campeonato mundial. O jogador passou de um dos pilares da equipe para bode expiatório da raiva dos fãs, sobretudo nas redes sociais, e prometeu à família que não voltaria a vestir a camisa da Seleção.
A intensificação da pressão psicológica
Para o psicólogo Rubens, as redes sociais são uma verdadeira “terra de ninguém”. “É importante que o atleta tenha autoconhecimento, algo que é trabalhado pelo médico com cada jogador para entender se estar nas redes sociais antes de uma competição fará bem a ele ou não”, diz.
Nos últimos tempos, as ameaças pelas redes sociais se tornaram mais recorrentes, se estendendo aos jogadores e seus familiares. Recentemente, Cássio, Willian e Fagner, jogadores que foram para a Copa do Mundo da Rússia, sofreram ameaças de morte, assim como suas famílias, por seu desempenho em campo, quando atuavam juntos pelo Corinthians.
O atacante Willian, inclusive, preferiu deixar o país e voltar a atuar na Inglaterra, para poupar seus familiares das pressões vindas das redes sociais por parte dos torcedores brasileiros.
Dentre os atletas citados, apenas um teve a oportunidade de receber o atendimento psicológico adequado oferecido pelo clube: Fernandinho, quando atuava pelo Manchester City.
Após a Copa do Mundo de 2018, o técnico Tite admitiu que a Seleção Brasileira não tinha um psicólogo esportivo, mas que ele exercia esse trabalho junto dos jogadores. Em 2019, depois da Copa América, o treinador afirmou ser favorável à contratação de um profissional da área para acompanhar o grupo, mas que havia resistência por parte dos jogadores da equipe. Para o mundial de 2022 a seleção chegará mais uma vez sem um psicólogo esportivo, ao menos, nada que tenha sido divulgado nos materiais oficiais da CBF.