Rincon Sapiência encerrou a Virada Cultural no Palco Rap da Virada Cultural exaltando a diversidade negra afro-brasileira
“Se a coisa tá preta, a coisa tá boa”. Foi assim que o rapper paulistano Rincon Sapiência deu início ao seu show no Palco Rap da Virada Cultural desse ano para uma maioria negra que o assistia. Dizer isso em um país no qual um jovem negro é assassinado a cada 23 minutos é também colocar o dedo na ferida racista que há por trás do verde e amarelo.
Um espetáculo dançante e com muitas críticas sociais, gritos de “Fora, Temer” são puxados pelo cantor. Músicas repletas de referências: à perseguição policial contra os negros em “Negro Fujão”, às candidaturas incertas em “Afro Rep”, à valorização da estética negra em “A coisa tá preta”. Há uma exaltação àquilo que tentam discriminar, seja a religião, a cor ou a história dos povos negros. Um ambiente confortável, em que se encontra a diversidade cultural afro-brasileira, como black powers, dreads, tranças, carecas e rastafáris.
Mas nem tudo foi só reflexão. Rincon fez o público relaxar e dançar com remixes de funks, como “Bololo Haha”, do MC Bin Laden, e “Vai Embrazando”, do MC Zaac e MC Vigary, além de ser o próprio DJ de algumas de suas músicas.
A Rua Líbero Badaró e o Largo São Bento estremeceram quando “Meu bloco” começou a tocar. O cansaço de 24 horas de Virada Cultural não foi maior do que a energia que se instaurou com os hits da apresentação. O show estava lotado e, quando se olhava para trás, só era possível observar mãos ao alto subindo e descendo acompanhadas de pulos eufóricos.
Soraya Avellar, de 51 anos, moradora de Guarulhos, mesmo não sendo “fã de carteirinha”, saiu de sua cidade com a família para ver especialmente o show, pois acredita em sua importância de autoafirmação e representatividade negra. Ela sentiu a satisfação de estar em um ambiente com seus iguais e a alegria de poder ver todos cantarem juntos. Apontou ainda alguns fatores negativos em relação à estrutura, como o eco do som devido aos prédios ao redor e a pouca quantidade de banheiros químicos instalados.
Algumas pessoas aproveitaram ao máximo o show e a energia que circulava no Palco Rap. Outras, que queriam agradecer por aquele momento ou “tietar” Rincon, o artista estava disponível. Em uma fila organizada, mulheres e homens esperavam ansiosos para poder falar com o cantor, que, mesmo com o dia agitado que teve (além do show, Rincon Sapiência palestrou no Festival Path), dedicou um tempo aos fãs.