"Escândalo Íntimo", de Luísa Sonza: um resgate à MPB? - Revista Esquinas

“Escândalo Íntimo”, de Luísa Sonza: um resgate à MPB?

Por Fábio Borges, Isabelle Bignardi e Rhuan Teixeira : setembro 14, 2023

Capa do álbum “Escandâlo Intímo” de Luísa Sonza. Foto: Luísa Sonza/Divulgação

Entenda quais são as referências à música brasileira no novo álbum “Escândalo Íntimo”, da cantora Luísa Sonza

Lançado no último dia 29, “Escândalo íntimo” foi destaque nos charts brasileiros e estreou todas as suas músicas no top 50 do Spotify Brasil. Um dos pontos que mais chamou a atenção dos fãs de Luísa são as inúmeras referências à canções e produções das décadas de 70 e 90 que o álbum possui.

Em 2022, Luísa publicou em sua rede social que os fãs deveriam passar a escutar mais música brasileira para acompanhar seus raciocínios. Na época, a cantora foi atacada por não apresentar referências à MPB em suas canções, algo que mudou com a chegada do seu terceiro álbum de estúdio.

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Post de Luisa Sonza (@luisasonza) em seu “X” dizendo para os fãs escutarem música brasileira.
Foto: Reprodução/X

A produção do álbum teve inspiração direta na MPB. “A maior referência musical deste álbum é a música brasileira, e aí vem de vocês o que entendem por música brasileira”, afirmou a cantora em entrevista ao portal “Tenho Mais Discos que Amigos”.

De volta aos anos 70

“Luísa Manequim”, quarta faixa do álbum, é um resgate à obra de Abílio Manuel, de mesmo nome. A música gravada pelo cantor em 1972 é utilizada como sample e transforma os versos “Não sei porque que você não me olha, Luisa Manequim” em algo moderno.

Para Leonardo Lichote, jornalista musical, Luísa brinca com o fato da letra citar seu nome.

“Quando Luísa pega, por exemplo, uma música pouco conhecida, como Luisa Manequim, do Abílio Manuel, ela brinca com o nome e com a beleza da musa, puxando pra linguagem pop contemporânea.”

Nessa mesma pegada, a cantora utiliza versos de “Lança Perfume” e trechos de uma entrevista famosa de Rita Lee na dançante “Lança Menina”, música que homenageia a rainha do rock. Nela, Lee fala: “Porque ela é exatamente assim. Aí ela é toda boazinha. Ela é toda do bem, ela é tão galera. Ela é jovem, ela é…sabe? Ah, vá se fud*, sabe? Chata pacas.”

Na visão do editor de Pop & Arte, Bráulio Lorentz, o álbum “Escândalo Íntimo” já é um aceno para a MPB ou para uma música popular de décadas anteriores. Assim, ela faz uma alusão à musicalidade de outras décadas, mas também traz inspirações atuais e de suas vivências, mesmo que não estejam tão explícitas.

MPB e a vida de Luísa

De relacionamento à letra infantil, a cantora traz à tona diversas vivências e as cita em algumas faixas de sua nova tracklist.

“A Dona Aranha” menciona a famosa música infantil. Os versos “A Dona Aranha subiu pela parede, veio a chuva forte e a derrubou. Já passou a chuva, o sol já vai surgindo e a dona aranha continua a subir” são uma analogia à carreira da “braba”, já que ao longo de seus anos de carreira, Luisa viveu fases de “subida” e de “descida”.

Já na track “Chico”, que viralizou após a performance da cantora no festival de música “The Town”, Luísa utilizou referências de músicas que seu namorado, Chico Veiga, gosta para homenageá-lo. Pela internet, a cantora confirmou que uma das inspirações da canção é “Folhetim”, de Chico Buarque.

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Post de Luisa Sonza (@luisasonza) em seu “X” confirmando a referência de “Folhetim” em “Chico”.
Foto: Reprodução/X

Esse jeito de colocar suas vivências na produção é, para Lorentz, um meio de trazer relatos de sua vida. “Ela tem uma história, ela quer contar histórias, né? E está contando as histórias dela por meio de álbuns e de turnês com algum conceito. É algo que parece que ela está buscando pra carreira dela.”

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Citações “escondidas”

A primeira canção, “Carnificina”, abre o álbum com duas sutis referências a dois grandes nomes da música brasileira: Elis Regina e Luiz Gonzaga. Ao dizer: “Até beba equilibrista”, Sonza nos faz recordar da canção “O Bêbado e a Equilibrista” de Elis.

Já a inspiração em Gonzaga se dá na sonoridade da música e no verso “Teu tudo pra mim é pouco”, que na música original, “Na Sala de Reboco”, é ‘Todo o tempo quanto houver pra mim é pouco”. A união entre forró e pop deixa clara a mistura de estilos musicais diferentes na composição.

Em “Iguaria”, uma das queridinhas dos fãs, a cantora se inspira em Rita Lee e Djavan para compor uma das letras mais significativas de sua carreira.

Na década de 70, Lee canta: “A gente faz amor por telepatia” em sua obra “Mania de Você”. Já Luísa, em “Iguaria”, diz: “Hoje eu senti falta de você, de te amar por telepatia”. Outra inspiração foi a canção “Oceano”, em que Djavan diz: “Você deságua em mim, e eu, oceano” e, em sua letra, a cantora cita “Deságua em mim como chuva”.

Outra canção que despertou a curiosidade dos fãs foi “Onde é que deu errado?”, música que abre o lado C do álbum. Não demorou muito para que o público percebesse a sonoridade, parecida com a emblemática “A Loba”, de Alcione.

A envolvente “Ana Maria” foi utilizada para lembrar algumas das grandes personalidades da cultura brasileira, como a apresentadora Ana Maria Braga e, sobretudo, a cantora Vanessa da Mata, citadas diretamente na canção.

Colaborando com Baco Exu do Blues, Luísa expande o universo de suas referências da música para a arte em “Surreal”. O movimento Surrealista foi a grande inspiração para a canção, que faz comparações valorizando a ausência da lógica e a valorização das emoções.

Além disso, a letra cita: “Destrinchou meu corpo, o tempo passa como nos relógios de Dalí”, referência ao quadro “A Persistência da Memória”, de Salvador Dalí.

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Quadro “A Persistência da Memória” de Salvador Dalí.
Foto: Wikimedia Commons

Lançado em partes, “Escândalo Íntimo” contará novas histórias, já que terá sete músicas adicionais, que serão liberadas no futuro (ainda sem data confirmada). Porém, Luísa já afirmou que várias dessas canções terão novas citações ao universo da MPB.

“Enfim, contando uma história por meio de uma sequência de canções e isso claro, vem de décadas anteriores e a gente talvez estava perdendo um pouco no mercado atual tão imediatista”, evidencia Bráulio.

A mensagem que Luísa Sonza deixa com um álbum de relevância para o pop contemporâneo inspirado pela MPB é a de que toda a produção artística atual é produto de um conjunto de trabalhos anteriores, que precisam ser valorizados e resgatados. “O público que muitas vezes não conhece, não tá interessado e não fez essa pesquisa e de repente se depara com uma série de referências e aí pode instigá-los a ir na direção dessas referências”, finaliza Lichote.

Editado por Mariana Ribeiro

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