7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação: os desafios na cobertura jornalística da área - Revista Esquinas

7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação: os desafios na cobertura jornalística da área

Por Maria Clara Castilho Wunderlich : setembro 22, 2023

Mesa: “O que dá audiência no Jornalismo de Educação?”, com jornalistas do G1, UOL, Metrópoles e Lagom Data. Foto: Alice Vergueiro/Jeduca

As dificuldades no jornalismo de educação vão desde a apuração e seleção de pautas relevantes para a sociedade, até às fake news

Nos dias 18 e 19 de setembro foi realizado o 7º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, organizado pela associação de jornalistas de educação “Jeduca“. O evento abordou diversos temas relacionados à educação e à cobertura jornalística na área e contou com a participação de jornalistas e educadores em uma série de mesas. No segundo dia de evento, algumas das questões abordadas foram: “O que dá audiência no jornalismo de educação?” e “A educação midiática vai salvar o jornalismo?”.

Pautas sobre educação não geram grande audiência e engajamento do público, como explica a jornalista Basília Rodrigues, da CNN: “existe uma glamourização de outras áreas do jornalismo, o que deixa a da educação para trás.” Ela conta ainda que, em um ambiente de trabalho, ao surgirem sugestões de notícias sobre essa área, editores e jornalistas muitas vezes soltam a frase: “não dá audiência.” O desafio de encontrar pautas que gerem interesse no público e que sejam consideradas importantes para publicação foi uma das questões discutidas durante o congresso. 

Alguns portais de notícia não possuem uma editoria focada na área educacional, o que dificulta ainda mais a divulgação e engajamento de notícias desse tema, como explica Bruna Monteiro de Barros, que trabalha na home page do portal UOL. 

Definir o que gera audiência no jornalismo de educação pode ser difícil, mas os palestrantes Bruna Monteiro de Barros, Ardilhes Moreira e Fabio Leite dão algumas dicas: “Boas histórias sempre tem espaço”, afirma Bruna e “Quem define a relevância, de certa forma é o leitor”, completa Ardilhes Moreira, editor do G1. Ele afirma ainda que olha para o ano de forma periodizada, pois cada período possui temas que geram mais interesse no público. No final do ano, um dos eventos mais importantes relacionados à educação no Brasil é o Enem, assunto que pode gerar um aumento na audiência. 

Fabio Leite, do Metrópoles, explica que existem nichos dentro do jornalismo de educação, que podem interessar diferentes públicos: “Ao invés de escrever uma baita reportagem contando tudo, pode ser importante dividir em tópicos. Até porque, dependendo do assunto, um tema pode interessar mais aos professores, outros, aos alunos ou pais de alunos.”

educação

Ardilhes Moreira, editor do G1.
Foto: Renato Souza/Fecap

As pautas de educação podem ser diversas e uma das mais atuais é referente à educação midiática. Esse conceito foi abordado durante a palestra “A educação midiática vai salvar o jornalismo?”, que mostrou sua relevância e como ela pode ser utilizada no combate às informações falsas. 

A educação midiática, de acordo com a Unesco:

“Visa suscitar e incrementar o espírito crítico dos indivíduos (crianças, jovens e adultos) face às mídias, visando a responder às questões: como as mídias trabalham? Como são organizadas? Como produzem sentido? Como são percebidas pelos públicos? Como ajudar estes públicos a bem utilizá-las em diferentes contextos socioculturais? Seu objetivo essencial é desenvolver sistematicamente o espírito crítico e a criatividade, principalmente das crianças e jovens, por meio da análise e da produção de obras midiáticas. Visa a gerar utilizadores mais ativos e mais críticos que poderiam contribuir à criação de uma maior variedade de produtos midiáticos.”

Alexandre Le Voci Sayad, diretor da Zeitgeist, empresa de projetos inovadores em educação para os setores privado, público e terceiro setor, uma das vozes da conversa no evento, explica que a educação midiática busca “desenvolver uma série de habilidades para ler e escrever criticamente”, competências que podem e devem ser desenvolvidas ao longo da vida inteira. 

Qual a importância da educação midiática?

Em uma realidade em que a difusão da informação é feita de maneira rápida e fácil, as pessoas têm acesso a muitas informações, notícias e postagens. Em diversos contextos, fatos são repassados sem checagem de fonte, o que torna a disseminação de fake news ainda maior. De acordo com dados de um levantamento feito pela Poynter Institute, escola de jornalismo e organização de pesquisas americana, que conta com apoio do Google, no Brasil, 4 a cada 10 pessoas afirmam receber informações falsas diariamente.  

A educação midiática pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades e de senso crítico, ajudando a conscientizar pessoas, que produzirão conteúdos mais responsáveis e estarão menos propensas a acreditar em fake news.

Desenvolver a capacidade de ler e escrever de forma crítica e avaliar a qualidade das informações é essencial para o fortalecimento da democracia, pois ela ajuda no combate à desinformação, já que a partir da educação midiática, as pessoas aprendem e entendem como a informação se constrói, gerando uma conscientização.

“A educação midiática fortalece a democracia, pois dá voz às minorias e entende os direitos humanos”, afirma Maria Sylvia Spínola, professora e especialista em educação midiática que participou da mesa no congresso.

Para os jovens, é importante entrar em contato com a educação midiática desde cedo, pois, como explica Ellen de Paula, gestora social e cultural que contribuiu na conversa, “ela vai instigando adolescentes a entender como se estrutura uma notícia, como a mídia opera”, fator que ajuda na construção de uma sociedade mais informada e democrática.

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Como o jornalismo pode auxiliar na educação midiática e quais seus maiores desafios no país?

“Todo jornalista é educador. E essa educação corresponde em alguns momentos com a educação midiática”, afirma Alexandre. O jornalista pode auxiliar a educação midiática utilizando-a em seus textos. Usar a frase “os artigos não refletem a opinião do jornal” ao final de matérias nos veículos, por exemplo, é um gesto de educação midiática e de responsabilidade com o leitor, explicam os palestrantes, assim como deixar as informações didáticas e simplificadas, pois a maneira como se organiza uma matéria ajuda a educar midiaticamente o leitor. 

Para Maria Sylvia Spínola, os desafios que a educação midiática enfrenta no Brasil são: “lidar com contextos conservadores, em que determinadas discussões não são bem-vindas, e a necessidade de maior financiamento e de considerar a educação midiática como uma política pública.”

Outro fator que torna o acesso mais difícil é a taxa de analfabetismo no país. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua Educação 2022, divulgada pelo IBGE, mostram que a taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 anos ou mais recuou de 6,1%, em 2019, para 5,6%, em 2022. Mesmo com essa diminuição, o problema ainda afeta parte da população brasileira, já que as taxas entre as pessoas de 60 anos ou mais ficaram em 16,0%, 9,8% entre as pessoas com 40 anos ou mais e 6,8% entre os indivíduos com 25 anos ou mais.

Qual a sua importância para o jornalismo?

O movimento da educação midiática reforça o papel de uma imprensa independente e da liberdade dessa imprensa, explica Alexandre. Esse processo possibilita que jornalistas enxerguem novas possibilidades e perspectivas das informações e ampliem seu repertório e suas narrativas. 

Nos tempos atuais, não basta apenas fazer jornalismo. É necessária uma conexão e identificação do público com o que se está vendo ou lendo. A informação deve trazer um impacto significativo à sociedade, promovendo entendimento e compreensão para a população, processo que pode ser desenvolvido por meio da educação midiática. 

Editado por Mariana Ribeiro

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