Jornalismo em mudança: professores analisam o futuro da profissão - Revista Esquinas

Jornalismo em mudança: professores analisam o futuro da profissão

Por Julia Tortoriello, Lara Asano, Livia Kimie e Nathalia Molinari : abril 18, 2023

Jornalismo em mudança. Reprodução: Unsplash/Nick Morrison

Docentes comentam sobre ChatGPT, influenciadores ocupando o espaço de comunicadores e os desafios de se renovar dentro do jornalismo

Consumir conteúdo jornalístico pelos meios digitais já é um hábito consolidado na sociedade moderna, sobretudo após a pandemia da COVID-19. E meios não faltam, como: Twitter, Facebook, Instagram e agora, o TikTok, que são redes sociais imprescindíveis para quem deseja ser notado, inclusive dentro do jornalismo. 

Entretanto, as discussões sobre quem pode produzir tais conteúdos veiculados nessas redes, que repercutem de maneira quase exponencial dependendo do assunto e da maneira que foram elaborados, também estão em alta. Em uma época em que a comunicação e a tecnologia estão cada vez mais interligadas, a formação de um jornalista precisa se manter atualizada, enquanto novos tipos de comunicadores surgem no mercado. 

A “personagem” do momento em meio a essa história é a inteligência artificial, mencionada por três professores da graduação de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, sendo eles: Eduardo Nunomura, Fábio Ciquini e Liráucio Girardi. As novas tecnologias, como ChatGPT, dividem opiniões entre os profissionais sobre o destino do universo jornalístico, e nos fazem refletir sobre o possível fim dessa área da comunicação. 

“Nós estamos com os empregos garantidos”, afirma Nuno, que ministra a disciplina de Jornalismo Multimídia. Ele admite que ferramentas como o ChatGPT podem auxiliar no campo da pesquisa, pois elas mostram tudo o que já foi produzido sobre determinado assunto, entretanto, não podem substituir o ser humano numa das etapas essenciais dentro de uma produção jornalística, a apuração.

“O ChatGPT pode nos ajudar a fazer a apuração? Não, porque é uma máquina, não vai sair a campo, não vai conseguir entrevistar ninguém. No caso da pesquisa, ele pode ajudar e muito. Já na parte de escrita, você pode simplesmente, se quiser e se você for preguiçoso, diria que você não estaria sendo jornalista, pegar toda a decupagem e todas as entrevistas e falar ‘transforma isso em um texto jornalístico’. Talvez isso possa te anular enquanto pessoa, porque descobrir que uma máquina de inteligência artificial escreve tão bem ou quanto você, é um pouco depressivo, né?”, conclui.

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Professor Eduardo Nunomura.
Reprodução: CELACC USP

Entretanto, na visão do professor Liráucio, que ministra aulas de Sociologia da Comunicação, o cenário pode ser de mudanças que vão ainda além, “não só o fim do jornalismo, como o fim de um monte de coisas, porque a inteligência artificial era voltada para aspectos muito específicos, assim, ela não conseguia ser generalista. Entretanto, está avançando bastante e acho que o jeito que ensinamos o jornalismo vai mudar, porque o jornalismo e a educação podem assumir outras forma”, ele avalia. 

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Professor Liráucio Girardi.
Reprodução: Faculdade Cásper Líbero

Mas, e a crise no jornalismo, ela existe?

Não é incomum para o aluno que acaba de ingressar na faculdade ouvir de parentes ou colegas que não é necessário um diploma para ser um profissional na área, ou até mesmo, que não se tem grande retorno financeiro. Mas, outro fato frequentemente afirmado com argumentos rasos é que o jornalismo enfrenta uma suposta crise.

Quanto a isso, o professor das disciplinas de Fundamentos do Jornalismo e Tópicos Avançados, Fábio Ciquini, remete aos primórdios da profissão, “sempre se falou em crise do jornalismo, mas a pergunta é: quando não houve crise? O jornalismo já nasce a partir de uma crise, com a literatura, onde os escritores publicavam seus romances de modo improvisado a partir do século XVI e XVII”. O professor comenta ainda sobre o futuro da profissão, destacando que o jornalismo ainda sofrerá mudanças profundas.  

“Hoje, o que eu observo como um professor de jornalismo e como alguém que gosta de jornalismo, é que irá existir cada vez mais uma predominância de projetos audiovisuais em relação aos projetos textuais, isso é uma revolução que tem acontecido no mundo todo. Eu não acredito no fim, mas sim, que o jornalista sempre consegue se organizar e encontrar frentes de trabalho. Portanto, toda a parte mais mecânica como boletins diários, jornalismo de serviço, meteorologia, será automatizada, mas as capacidades crítica, analítica, e de conexões mentais, cabe ao jornalista, cabe ao ser humano, portanto, eu não acredito no fim, eu acredito em mudanças”, conclui. 

Assim como o professor Nunomura, Fábio acredita que as capacidades de observação, crítica, e análise serão o que farão um jornalista se diferenciar dos demais, mesmo que ele ainda esteja no início de carreira, e destaca a capacidade de transitar entre as linguagens, sejam elas textual, visual e até mesmo a de programação.

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Influencers são comunicadores?

Muitas pessoas passam horas e horas por dia fazendo apenas o chamado “scroll”, ato de rolar as páginas de notícias e os feeds das redes sociais. Pois bem, produzir um conteúdo que faça o usuário consumi-lo por inteiro, já é um desafio e tanto, explica Liráucio,”não é um trabalho fácil, não é uma coisa que se conquiste de uma hora para outra, essa parte que vincula entretenimento e informação, que alguns chamam hoje de Infotenimento, alcança um público maior”.

Os novos comunicadores entenderam muito bem este conceito. Uma vez que não é necessário ter a formação em Comunicação Social para fazer com que uma informação atinja o público que você busca no mundo digital, em que qualquer pessoa pode ser uma emissora ou interceptora, nem todos precisarão fazer faculdade para serem bons profissionais, como afirma Nunomura.”O bom jornalista produz um conteúdo e alguém consome, mas qualquer pessoa pode produzir conteúdo. A partir desse momento, quando essas barreiras são borradas, qualquer pessoa pode exercer qualquer um dos papéis”.

Ainda sobre comunicadores digitais, Fábio Ciquini acredita que ser um influenciador perderá relevância no futuro, justamente pelo grande quantidade de pessoas na categoria, “já existem influenciadores de tudo. Me parece que esse excesso de influenciadores faz com que exista uma espécie de saturação e as pessoas vão se cansando, até mesmo as gerações mais jovens”, observa o professor, que acrescenta ainda que, na faculdade de jornalismo, existe algo que ao influenciador não é ensinado: passar a notícia de maneira responsável.

Editado por Mariana Ribeiro

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