Profissionais se reinventam diante da queda no consumo de jornais e revistas impressas
As bancas de jornais, ao longo de muitos anos, desempenharam um papel fundamental na paisagem urbana e na disseminação de informações. No entanto, a evolução tecnológica e as mudanças nos padrões de consumo de mídia têm desafiado esses estabelecimentos. O desafio agora é que as bancas continuem a se adaptar para se manterem relevantes na era digital.
“Eu trabalho na banca há 34 anos. Há muitos anos, se vendiam muitos jornais e muitas revistas. Hoje, de uns 6 anos para cá, mudou muito. Em relação às vendas, mudou muito. Revista caiu, jornal caiu. No domingo, uns 8 anos atrás, eu vendia mil Estado junto com Folha de S.Paulo e, hoje, eu não vendo 20”, relata Edson Souza Dantas, 50, dono da Banca Gazeta.
Em São Paulo, a avenida Paulista é o local com a maior concentração de bancas de jornal. Apesar da manutenção de um grande número de estabelecimentos em comparação com outras partes da cidade, a decadência do negócio fica evidente de outras formas.
Muitos desses estabelecimentos têm respondido a esses desafios diversificando seus produtos e serviços. A adaptação para a sobrevivência no mercado fez com que os donos vendessem não apenas uma ampla variedade de publicações impressas, mas também se transformassem em verdadeiras lojas de conveniência, fornecendo uma gama diversificada de produtos relacionados à cultura pop, doces, bebidas, itens de informática, jogos e tabaco. “Antes, o bancão central da banca eram só revistas e, hoje, para eu poder sobreviver, tive que mudar”, conta Edson.
A explicação para a mudança na disposição dos produtos está nos hábitos dos consumidores. “Eu trabalho há 40 anos com livro e revista e percebi que vem caindo porque ninguém mais lê nada agora com a internet. Depois da pandemia, acabou de vez. Acho que vende 10% do que vem de publicação, tem pouca coisa impressa no mercado agora”, diz Carlos Eduardo de Melo, 52, da Banca Top Center.
Além disso, algumas bancas de jornais têm investido em presença online, vendendo assinaturas digitais de revistas e jornais, criando sites de comércio eletrônico e utilizando as redes sociais para atrair clientes. A tecnologia desempenha um papel importante na modernização desses estabelecimentos, permitindo a conexão com um público mais amplo e diversificado.
Segundo pesquisa do Instituto Reuters, 41% dos entrevistados brasileiros dizem evitar o consumo de informações. De acordo com o mesmo estudo, 79% dos entrevistados acessam informações online, enquanto apenas 12% consome conteúdo jornalístico impresso.
Melo, dono da banca, acredita que a queda na leitura de jornais tem relação com o grande número de veículos: “Tem muita opção de informação e isso é ruim, porque ninguém vê nada. É muito diluído. Você se perde, não foca”.
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A transformação no perfil das bancas de jornal aponta para uma triste consequência: o fim da profissão de jornaleiro, cuja data é celebrada em 30 de setembro. “No começo, eu gostava [de ser jornaleiro]. Agora, tô querendo sair um pouquinho fora. Como eu tenho um bom conhecimento, vou trabalhar até achar alguma coisa melhor”, afirma Marcos Emerson, da Banca Paulista II.
Por estar sempre em contato com a informação e ver o desinteresse dos jovens em sequer folhear um jornal, Ayrton Figueiroa, 74 anos, da Banca Central Paulista, alerta: “Vocês pararam de ler jornal, e isso será terrível para todos. (Digo isso) não porque eu deixo de vender, é porque vocês não vão ficar bem preparados”.
Os jornaleiros entrevistados apresentam uma perspectiva pessimista sobre o futuro da comercialização de jornais e revistas nas bancas. Suas preocupações se estendem ao ponto de preverem um cenário no qual esses estabelecimentos, que por tanto tempo foram sinônimo de informações impressas, possam vir a se dedicar exclusivamente à comercialização de outros produtos.
Editado por Daniela Nabhan
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