Entre desafios e responsabilidades, pais solteiros buscam equilíbrio e conexão profunda com seus filhos
A figura do pai solo tem se destacado cada vez mais no Brasil, e essa realidade não está isenta de desafios. De 2005 a 2015, os números de pais solteiros no país chegaram a quase 4%, segundo pesquisa do IBGE. Esses pais, que cuidam de seus filhos sem um parceiro ao lado, buscam um equilíbrio entre suas responsabilidades profissionais e as demandas constantes da paternidade.
A gestão das finanças é uma jornada à parte, focada no sustento e no futuro da família. Porém, em meio às adversidades, pode haver espaço para momentos genuínos de alegria, afeto e conexão. Daniel Souza, pai de Sofia, de 17 anos, relata: “Não é fácil. Há dias em que sinto que estou correndo de um compromisso para o outro. Mesmo assim, faço questão de jantar com ela todos os dias. Esse momento é nosso, onde podemos conversar e me reconectar com ela em meio à agitação diária.”
Os pais solos enfrentam desafios que, por vezes, estão ligados a padrões tradicionais de família, que podem gerar pressões e julgamentos. “Muitas vezes o homem não é preparado nem para ser pai, muito menos com as atribuições de um pai solo”, diz o psicólogo Raphael Amaral, entrevistado pelo Tarde Nacional.
“A nossa sociedade da forma como foi estruturada nos últimos anos não trabalha com a autonomia do homem, não trabalha com essa parte da paternidade, do afeto ao filho”, finaliza. Com isso, para muitos pais solos, a tarefa de equilibrar compromissos profissionais com a rotina diária das crianças é, frequentemente, uma maratona. Portanto, a questão dos serviços de apoio torna-se vital neste cenário.
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Mães solo relatam as dificuldades de criar os filhos e fazer as tarefas diárias
Além da falta de suporte, muitos pais não têm condições financeiras suficientes para custear todas as necessidades de si e de seus filhos, limitando seus estudos, lazer e acesso à saúde. Pedro Simões, pai de uma garota de seis anos, fala sobre a dificuldade financeira de criar uma criança no Brasil atualmente: “O custo da educação aqui no Brasil já está excessivamente alto, desde o início. E não parece que vai diminuir. A tendência é que os custos aumentem ainda mais. Na minha opinião, a maior dificuldade financeira está definitivamente ligada à educação”.
Para pais ou mães solos, a dinâmica da relação parental pode trazer suas próprias particularidades e aprendizados. Sobre a visão da sociedade, Daniel comenta: “Acredito que estamos em um período de transição. Muitas pessoas são compreensivas, mas ocasionalmente enfrento resistências ou preconceitos. Alguns sugeriram que eu deveria encontrar uma namorada ou me casar novamente, como se a presença de uma figura feminina fosse essencial.”
Dessa forma, os pais solteiros, apesar de tradicionalmente não estarem tão acostumados a assumir todas as responsabilidades no que se refere aos cuidados de seus filhos, buscam diariamente se adaptar às adversidades. Estar presente, tanto física quanto emocionalmente, e mostrar-se disponível para celebrar conquistas ou amparar em desafios, permite que o pai construa um relacionamento profundo e significativo com seus filhos, fundamentado no respeito mútuo e na compreensão.
Sobre os desafios de criar uma filha sozinho, Pedro destaca “Acho que o maior desafio é tentar transmitir a ela valores que hoje em dia não estão tão fortemente enraizados na sociedade, não é mesmo? Valores que eu considero importantes”, diz. “Para mim, uma das maiores dificuldades é passar os valores de disciplina, moral e ética. Acredito que essa seja a maior dificuldade que enfrento atualmente ao tentar transmitir esses valores para minha filha”.
Portanto, para pais solos, a dinâmica da relação parental pode ser uma experiência intensa e reveladora. Sem a presença constante de outra figura parental, a comunicação direta entre pai e filho torna-se a chave para a construção de uma base sólida e de confiança. Isso implica em ouvir ativamente, demonstrar empatia e ser transparente sobre as próprias emoções e limitações. É um exercício diário de paciência e autoconhecimento, no qual os momentos de dificuldade podem se transformar em oportunidades de aprendizado e crescimento conjunto.