"Até logo, já estou cansado": o último mandato de Affonso, síndico do Copan - Revista Esquinas

“Até logo, já estou cansado”: o último mandato de Affonso, síndico do Copan

Por Mariana Ribeiro e Victória Abreu : janeiro 10, 2024

Síndico do Copan desde 1993, o senhor de 83 anos é um pedaço importante na história do edifício mais famoso da cidade/Foto: Mariana Ribeiro, ESQUINAS

“Meu nome é Affonso Celso em homenagem ao homem que seria meu padrinho, ele morreu algum tempo antes do meu nascimento. Tem até rua com o nome dele na Vila Mariana. O Affonso era muito amigo do meu pai”

Síndico do Copan desde 1993, o senhor de 83 anos é um pedaço importante na história do edifício mais famoso da cidade. 

Affonso morava na rua Capitão Salomão, no Centro Histórico de São Paulo. Quando chegou ao edifício, aos 24 anos, havia poucos moradores. Apenas três blocos estavam habitados e a posição de síndico foi um incidente. “Fui conferir procurações e como escolhi as coisas de forma neutra. As partes que estavam interessadas resolveram me convidar para presidir a assembleia. O síndico que foi eleito ficou aqui durante um ano e renunciou.”

Após a saída de seu antecessor, a equipe da qual Affonso fazia parte o escolheu para o cargo.

“Aceitei por um pequeno período, mas acabou passando e estou aqui há 30 anos”, conta Oliveira.

O que faz um síndico?

Em sua rotina como síndico, Affonso enfrentou diversos desafios ao longo das décadas. No início do mandato, o local era usado para prostituição e tráfico de drogas. Logo que assumiu, fez uma reunião com as mulheres que se prostituíam e deu quinze dias para saírem do prédio. Já sobre as drogas, dois traficantes foram presos. Apesar de negar a denúncia, recebeu ameaças e chegou a usar um colete à prova de balas por mais de um ano.

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Escritório do síndico, localizado em um dos seis blocos do edifício.
Foto: Victória Abreu/ESQUINAS

Além da segurança, o edifício enfrentava problemas com dívidas de água, luz e elevadores em mau estado. Na década de 1960, o condomínio chegou a gastar um milhão de litros de água por dia, por conta de vazamentos e desperdícios. Hoje, a quantidade gasta é de aproximadamente 360 litros. 

No escritório, guarda os botões dos antigos elevadores, como uma espécie de memória. “Venho para cá todos os dias, só não venho de sábado e domingo, mas fico à disposição na minha casa.” Em um fim de semana, Affonso desceu às duas da manhã para atender moradores. “Estou disponível 24 horas”, complementa. 

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Assombração, espírito, aparição são todos sinônimos de fantasma. E para Affonso não é brincadeira quando se pensa em Copan. O síndico conta da primeira vez que ouviu sobre os assombros: “Um mecânico, há mais de 20 anos, foi consertar os elevadores de um dos blocos e viu um vulto em cima de uma das máquinas”. De acordo com Oliveira, a máquina já estava quebrada. “Estava com defeito, exatamente aquela, suponho que ele [fantasma] estava me ajudando”, brinca o síndico.  

“O senhor contou para elas dos fantasmas que ficam nas salas aos finais de semana?”, interrompe João da Silva, um dos funcionários do prédio. “Nunca vi nenhum”, diz Affonso. O moço explica que, aos finais de semana, os funcionários escutam barulhos de conversa no fundo da sala, mas quando vão olhar não tem ninguém. Durante a conversa, Affonso dá risada e diz acreditar em tudo. 

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Vista do edifício, que está passando por reformas.
Foto: Victória Abreu/ESQUINAS

Os moradores do condomínio passaram a “catalogar” os “fantasmas” e inclusive nomeá-los. Dentre eles, os mais famosos são o “Psiu” – que assusta os moradores pelas escadas do prédio -, “O Homem da Casa de Máquinas” – o fantasma que ‘ajudou’ Affonso a consertar o elevador -,  “Conchinha” – que abraçou uma moradora no meio da noite -, e o “Elevador Temperamental” – que abre as portas apenas no andar que ele quer -.  Além disso, algumas pessoas relatam sentir cheiros estranhos em alguns pontos do edifício. 

“O Copan está para São Paulo assim como o Cristo está para o Rio”

Affonso diz que o edifício, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, tem um simbolismo especial para a capital paulista, e conta que, para ele, o condomínio é, por si só, uma grande cidade. “Aqui é um ícone de São Paulo, é um amor acalentado ao longo do tempo.”  

Affonso está na fase final de sua administração e não pretende continuar. Atualmente, junto a uma equipe de 102 pessoas, o síndico lida com questões de obra, pois a fachada do Copan está passando por reforma, após 11 anos de impasses. Antes da obra acontecer, houve a aprovação do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade São Paulo (Conpresp).

 “Quero deixar o prédio pronto, para depois ir embora”, finaliza Oliveira. 

Editado por Redação

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